Esquecer-me de morrer.

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Narradora:Fátima ( Babilónia)
Esquecer me de morrer... Já esqueci menos vezes, já o pensei apenas como se fosse apenas parte da rotina mas ultimamente tenho me esquecido, como se de repente deixasse de ser humana e tivesse a fútil necessidade de morrer nos braços de alguém ou suicídio ou algo assim. Como se já tivesse morrido de todas as formas possíveis e imaginárias e o corpo me impedisse  da mais dessa doce  e terrível amargura quotidiana. Todos os dias vejo pessoas e humanos, são diferentes, pessoas são apenas pedaços desprovidos de vida e aptidão, como nacos desneceçarios de carne que até necrofagos o desperdiçariam ,e humanos  são estupidas  pessoas que foram arrancadas do céu da mesma maneira que elas mesmas arrancaram o fruto da árvore, todos os dias vejo pessoas, humanos e animais a morrer, voltando com a ideia anterior, e invejo me deles, fico a pensar como conseguem morrer assim. No meio destes tantos milénios ainda não percebi a sua capacidade de morrer e fazer morrer. Já experimentei tomar um daqueles comprimidos que nos ajudam a recordar as coisas, mas sinceramente acho que era a última coisa que me aptecia  fazer, não que a sensação seja má não, não é isso mas nos momentos mais felizes é que me lembro de morrer e não apetece  desmanchar em sangue sou por um capricho do meu corpo. Mas nos momentos maus ficam tão enfurecida que a última coisa que me lembro é esvaziar me em sangue        E por contrário esvazio me em puro e modesto, para o meu ridículo ser, h2o.  Podemos dizer que isto só foi mais outra morte, pelo menos morte interior. Isto não passa de devaneios.
Se se perguntam se eu trouxe a minha irmã comigo para Portugal, a resposta é claramente sim, porque haveria de deixá-la a apodrecer sozinha naquela casa. Dobrei-a, como se de uma camisola se tratasse e coloquei-a dentro de uma mala, surpreendentemente, no aeroporto, disseram que eu tinha a mala vazia, eu ignorei e continuei. Para além dela, trago comigo outras coisas, que o Jó nem desconfia que faço.
Senti pela primeira vez, o poder do amor, que subiu e se preencheu onde antes havia um buraco, fazendo-me acordar, não deste mau-humor, mas saber que este é o tal, aquele que me levará à riqueza e não me desapontará. E se o fizer, faço o que fiz aos outros, daí ser uma consumidora quase compulsiva de droga, ao ponto de matar para tomar.
Enquanto percorríamos o enorme aeroporto, tentando parecer o mais normais possível, senti uma leve pontada de medo, medo de que aquilo que construí, os que matei e empilhei os seus corpos de modo a me formar um escudo, tive medo que me levassem, prendessem, me tirassem toda a minha maquilhagem, momentos de loucura.
E senti também isso nele, o medo de saber, que afinal o padre tinha sobrevivido, ou o seu padrasto, não sei acho que deixamos uma ponta solta por onde pegar, acho que vamos passar o resto das nossas vidas a ver quadrados, o sol, a falta dos meus cremes.
Agora que chego cá, que mais uma vez tenho um quarto para mim, onde arrumo os cremes por cores das embalagens e a respectiva parte do corpo correspondente.
O meu quarto é um búzio onde apenas caibo eu, uma pequena cama de solteira, é a segunda em que durmo, uma mesa e um espelho, sinto a necessidade de ter o meu espaço, por isso deixo o Jó a dormir na sala, com um colchão no chão, a nossa sala não tem televisão, nem sofá, apenas uma mesa e duas cadeiras, ao fundo do corredor temos uma casa de banho e uma pequena cozinha, onde mal cabemos os dois juntos, tudo pintado de branco, a cor que mais odeio, inspira tanta liberdade e amor, que meiga atordoada, mas por enquanto teremos de viver aqui.
Volto a mim, reparo que estou no meu novo quarto, com os pôsteres das minhas bandas favoritas para colocar ainda, sei que preciso de falar com o Messias (Jó), a partir de agora os assuntos serão sempre dos dois, nada será apenas de um, excepto o meu corpo, o meu quarto, o meu sorriso e a minha bondade, ele não vai ter acesso a isso.
Vou até à sala, ele está sentado à mesa a olhar para a madeira.
Com aquele ar de drogado que me excita e me faz deseja-lo. Ele ficou tão bonito com uma ressaca, os papos nos olhos, estou a sentir algo.
Sento-me à sua frente, olho para o cabelo dele que continua pendurado, ele não olha para mim, mas sabe que eu estou ali, o meu perfume não me iria enganar, ele sente-me, ele vê-me, mas não me quer ver, nem sentir.
Fico naquela posição, alguns segundos, minutos, horas, dias, já não tenho noção do tempo, ele transmite-me a sua melancolia, sinto o meu corpo resistir à gravidade a enterrar-se a tocar quase a madeira à sua frente.
Com a minha unha rebento a bolha, levando-me para cima, ele vendo que a sua melancolia havia sido rebentada, encara-me, sinto os seus olhos a perfurar-me a pele.
Seguro as palavras, contudo elas escorregam-me pela língua deixando sair aquilo que era suposto dizer:
- Messias, temos um problema, precisamos de dinheiro, temos apenas 175€ para o resto do mês e como sabes temos de pagar isto, 125€, mais comida, mais documentos, roupa, maquilhagem, cremes, quer dizer que precisamos de dinheiro.
- Eu, eu posso, eu posso arranjar um emprego, num café, supermercado, mercearia, alguma coisa assim, tu também o podes fazer.
Acabo por tossir por mostrar a minha indiferença e uma completa negação do que ele acaba de sugerir.
- Deves pensar que eu vou sujar as minhas unhas num trabalho nojento como esses que disseste, por favor, nunca ouviste dizer que uma senhora, como eu, deve ser tratada a cima de qualquer homem.Depois, estás a pensar que vamos para um emprego insólito, em que recebes menos do que zero, trabalhas que nem um cão, tratam-te mal e para além disso tens de trabalhar, eu quero empregos em que se trabalhe pouco e se ganhe muito. Não estou para ficar uma vida para construir uma casa ou para ter um carro, eu quero dinheiro rápido é bom, é como tudo na vida.
Vejo a sua expressão de questionamento e de repulsa ou de qualquer outro sentimento que esteja escondido para ali:
- Então, estás à espera de arranjar um emprego perfeito, poupa-me, deixa-me rir, estou quase a verter uma lágrima, olha- apontando para o sei olho- vai cair, olha, ohhhh!!! Arranja tu se quiseres!
- Desculpa, és tu que vais tratar disso, ou queres acabar como o padre, queres? Eu trato já disso! Portanto eu arranjei algo que te pode ajudar, falei com um tipo que conhece um tipo, que tem um primo, o primo tem um vizinho, percebes este estratagema, que se prostitui e, ele aceitou-te como o seu estagiário, começas às 23h e terminas às 7h. Não sei se tens algum problema, mas é com homens!
- Fátima!
- Qual Fátima? Fazes e calas, e espero que os satisfaças muito, é um conselho de amiga, quanto mais ganires, mais recebes. Deixo-te aqui está languirei, bom trabalho!
- Acabo de falar e sigo para o meu quarto, deixando-o de boca aberta!
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Espero que estejam preparados!
E já agora tudo aquilo que os personagens discriminarem, não quer dizer que eu concordo.
Espero que tenham gostado.
Se quiserem sugerir coisas sobre a história ou algo assim, falem comigo!
Adão!

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