O dia depois de ontem

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Narradora:Babilônia

Eu desço as escadas nuns ténis desportivos, para o caso de ter de fazer algo mais desportivo. Venho com umas legins pretas e um top cinzento.

Ele já está com umas calças fato de treino e casaco pretos, colocando, de seguida, umas luvas.

Não sabemos o que nos espera, o que teremos de fazer, sacrificar para ficar por cima neste jogo de xadrez. Não sei se me deva sentir em desfalque ou em maioria. Aliás, não sei se será a minha última noite.

Pesquisei sobre o gajo e descobri que o namorado da mãe de Jó é um antigo capitão das forças marítimas, por isso não sei se nos irá dificultar a vida.

Ele olha para mim, ele sabe o que eu penso e eu sei o que ele pensa. Respiramos em sintonia fundo, pois esta poderá ser a última golfada de ar, uma vez que durante o caminho os nervos iram estar mesmo enterrados na epiderme.

Colocamo-nos no carro e dirigimos-nos para o local combinado.

Durante a viagem nenhuma palavra bóia no ambiente tenso do carro. Sinto a sua respiração ofegante, demonstrando preocupação.

Ma tenho de ser forte, está não é a primeira é não será a última, já matei muita mais gente, não será desta vez que falharei. Espero que neste momento Deus, ou mesmo o Diabo, se é que alguns deles existam, me ajudem e me dêem força e raiva para o martelar. Sinto a raiva a subir às veias a passar pelo meu intestino, a percorrer todo o meu sistema e a localizar-se nos meus membros. Vejo que o Diabo respondeu aos meus pedidos.

Estaciono o carro em frente ao local combinado, uma casa com piscina que o homem faz questão de ostentar e que as suas mulheres a sustentam.

Olha-me nos olhos, começa a chorar baba e ranho, mas este gajo é um medricas, não sei se este é o certo, mas algo nele chama-me. 

Dou-lhe um beijo na boca e digo:

- Isto é pelo teu pai!

E como se tivesse proferido algum feitiço, macumba, ele entende e assente.

- Pelo meu pai!

- Fica à porta, eu vou sozinha, passado sete minutos, entras a matar!

Ele não responde, mas vejo o medo a percorrer os seus olhos.

Retiro a arma e as luvas do porta luvas. Coloco eyeliner e dirijo-me para a casa.

Entro, percorro com os meus olhos cada canto do quintal à procura de algo para o atacar.

Encontro o homem sentado numa cadeira de praia no alpendre, com uns óculos de sol e uma pistola o que me faz tremer.

- Boa noite, Ruiva, e o teu amigo Jó?

- Ele não veio! Armou-se em cobarde, aquele é um filho da mãe, sabes como é?

- Claro que sei. Queres vê-lo mais uma vez?

-Ahh? Desculpa?

-Olha pelo portão!

Eu limito-me a olhar pelo portão de onde vejo o padre com uma faca a empunhada no pescoço de Jó, sinto a esperança da vida a desaparecer.

- Boa noite. Babi! - exclama o padre

Não respondo

- Estás com medo? Vamos fazer assim se queres o teu amigo vivo, tens de te suicidar, primeiro rezas comigo, depois cortas os pulsos e saltas para a piscina. E pode ser que eu só use o Jó como objeto sexual. Ajoelha-te- ordena.

Eu ajoelho-me à sua frente, o Jó passou para as mãos do namorado da mãe.

- Diz comigo: Em nome do pai e do filho e do Espírito Santo. Eu entrego a minha alma a Lúcifer para destronar Deus. Pai nosso que estás nos deus, santificado...

Eu repito tudo o que o padre diz, ele de repente para, olha para baixo na minha direção e diz:

- Agora tu sozinha!

Eu percorro cada aérea do meu cérebro à procura de um local onde tenha guardado algum pedaço desta oração, não por algum motivo, mas para o caso de ter de passar por cristã.

- Seja o vosso nome...

Durante um minuto não digo mais uma palavra, não sei o resto ou não me lembro. O Jó continua preso ao outro homem.

- Bora, vais acabar isto rápido ou queres ver os miolos dele esparramados no ar.

Percorre-me um veneno pelas veias.

Fico calada, não continuarei, em vez disso viro-me para o outro homem.

- Podes disparar.

Vou até ele.

- Eu nunca quis saber dele, foi apenas uma peça para o meu jogo, sabes como é o pessoal como eu, a vida dos outros não passa de uma brincadeira. Bora, dispara, faz-me feliz.

Estou com a minha cara perto da dele. Ele coloca a arma em posição, vejo o seu dedo no gatilho, o Jó fecha os olhos, eu repito o processo fechando também os olhos. Ouve-se um disparo. 

O Barulho do Silêncio #oscarliterario #escritoresdeouroDonde viven las historias. Descúbrelo ahora