Narrador: Messias (Jó)
Este sou eu um bocado de nada, um bocado de matéria junta num só corpo, desproporcionalmente, de modo a criar esta criatura, uma criatura das cavernas, que se rasteja, que se expreme no chão, que o roça, que faz de animais extintos. Que utiliza o rugir como arma para afastar os predadores desta selva, desta selva de betão, que se emaranha, que se enrola em nós e nos prende neste silêncio.
Vejo uma tira de sol, deste sol intrometido, que se coloca de bruços na pequena janela deste compartimento, que se enrola de risos, que faz de mim o seu inofensivo palhaço, uma criatura do circo ou um animal selvagem.
Desloco-me até à porta, está trancada, há muitos minutos que está assim. Não tenho noção do tempo, o tempo cai-me da ampulheta, desfaz-se na minha mão, junta-se ao outro tempo, neste terra de areias. Neste deserto em que me encontro.
Vejo um corpo a um canto, outro peregrino, um mal sucedido, um sem abrigo, que se esconde aqui comigo.
Escondo-me do mal que está no exterior, escondo-me do monstro ou trancaram o monstro e mais alguém que desconheço. Não tenho noção da realidade.
Olho-me ao pedaço de espelho que tenho no bolso, um fenda que encontro, vejo o meu corpo desfeito, a cara a cair de morta, atingida por muitos golpes, vejo o sangue seco que tenho do lado esquerdo da cara e que me tapa o ouvido. Tento esfregar, mas está seco, demasiado seco, seco para um sobrevivente.
Serei comido pelos lobos, assim que lhes cheirar a sangue, perseguir-me-ão por esta divisão da casa, por esta floresta cheia de neve, aparecerão nas minhas costas, rugiram e despedaçar-me-ão.
Alguém tenta abrir a porta do lado de fora deste mundo, um alien, o meu dono. Começo a arranhar a porta como se de um cão me tratasse, o meu dono chega, coloca-me a trela e leva-me a passear ao exterior.
Leva-me à casa de banho, onde me faz a barba, me dá banho, que se chateia comigo, que me dá um beijo na testa para me acalmar, que me veste.
Que me puxa até ao seu quarto, que me prende as mãos à cabeceira da cama, que me coloca de costas para ele.
Que me despe as calças, que as rasga e coloca um pouco de tecido na minha boca, que me encosta à cama, que me beija as costas, que me coloca uma peruca, que me pinta os lábios de vermelho vivo, que entra dentro de mim, que se desfaz dentro de mim, traz uma cerveja, bebe-a ao meu lado, adormecendo ao meu lado, eu ainda preso.
Durmo, este meu dia esteve cheio de emoções- penso.
No dia a seguir ele solta-me, leva-me para a sala ainda nu, evita os meus olhos, as lágrimas que escorregam deles é que fazem uma poça aos meus pés.
- olá Messias!
- Olá senhor Psicólogo!
- Desculpa, aquilo de ontem à noite, eu estava pedrado e com falta de sexo.
- Está desculpado, até porque apenas né violou. - digo eu ironicamente.
- Ainda bem que compreendes! Eu tenho te aqui comigo, por que eu quero estudar a tua mente, esse teu comportamento, o teu sentimento de presa, os espíritos. Eu quero que me ajudes, juntos. Tu e a minha inteligência podemos chegar longe e até ganhar algum prémio, percebes? Eu só te quero para ganhar o prémio Nobel, mais nada percebes.
- Percebo completamente!
- Mas como sei que te podes revoltar, vou-te manter preso com estas algemas a mim. Vais fazer os trabalhos de casa, como limpar, etc... Nessa altura estarei sentado com uma arma apontada a ti, à espera que movas um músculo mais. Eu só vou precisar de ti durante três anos, depois és livre, ok?
- Ok!
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Espero que tenham gostado, agora que chegarão às férias vou publicar mais capítulos, agradeço a toda a gente que me apoia nisto!
Adão.
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O Barulho do Silêncio #oscarliterario #escritoresdeouro
Bí ẩn / Giật gânTudo começa com a morte, após a morte de seu pai, um rapaz entra em depressão, conhecendo uma rapariga ruiva, que o leva por caminhos, nunca navegados. Desde droga, prostituição, até matar, tudo por dinheiro, dinheiro é o que faz movimentar esta his...