Nudez mental

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Narradora: Fátima ( Babilónia)
Eu questiono-me sobre as suas intenções, sobre a sua maneira impactante e carnívora de olhar para mim, sobre a sua falta de disciplina, falta de humor, lealdade para comigo, ao mostrar-me o seu corpo nu quer em parte mostrar que me quer, embora eu não queira, e por outra parte quer demonstrar a sua revolta para com o mundo.
Eu não respondo, simplesmente por não estar com paciência para ter de insistir para que ele faça aquilo que deve à minha maneira.
Ele olha para mim, insiste com os seus olhos, embora não use palavras. Eu reparo em todo o seu corpo, desde as suas clavículas salientes, aos músculos peitorais, assim como toda a parte que eu nunca me atreverei a tocar. Sinto que mesmo próximos continuaremos separados.
Eu acho que o amo, mas não é um amor, como os outros em que nos dedicamos à outra pessoa, que lhe damos o nosso corpo e a nossa alma, simplesmente vejo-a como um atributo de Deus, para que eu possa subir na vida, apenas mais um condutor desta longa que é o destino.
Continuo a limar as unhas. Não sei como conseguirei subir ao topo, por enquanto, mas algo, algo de tamanho médio que se esconde atrás do coração ou do intestino, não sei precisar ao certo, que me dói, que me toca e que me faz sentir, que é essa a dor que quero provocar nos outros.
Desde de que mataram a minha irmã, nunca mais fui uma criança, eu já era má, muitas vezes lutávamos, eu ameacei-a de morte muitas vezes, com facas, garfos, mas não esperava que a morte se viesse a realizar não pelas minhas mãos, surpreendentemente, mas por outras.
Não é que não a amasse, mas pelo contrário, era a pessoa que eu mais amava, e amava demasiado, ao ponto de discutir com ela sobre tudo.
Todas estas recordações doe-me, tocam-me e arrancam-me a pele, torturam-me psicologicamente.
Volto-me a focar nele. Ele continua à minha espera, à espera que acorde e pergunte-lhe o que se passa.
Olho para ele, ele questiona-me mentalmente, eu não sei o que esperar, se é que se deve esperar alguma coisa de alguém que se tentou suicidar mas que no final não conseguiu:
- Qual é a tua condição?
Ele olha para mim, ou melhor foca o olhar, sei que trás uma bomba para as minhas mãos, ou acho que sim.
- A minha condição é que para eu e prostituir, tu tens de fazê-lo comigo, ou seja, tens te sujeitar à mesma situação que eu.
Eu já espera está, ou melhor já sabia que ele se iria revoltar, vou à mala, à procura de algo que me ajudasse, retiro uma faca polida e brilhante.
Ele olha-me, olha para a faca, baixa os olhos e a cabeça numa expressão de insucesso e pergunta-me:
- Então o que vais fazer para ganharmos dinheiro?
- Tudo o que eu quiser, mas irei programar aquilo que tu vais fazer para sermos milionários, percebes?
- Acho que sim!
- E sabes que se quiseres questionar-me sobre o que eu faço ou deixo de fazer, é melhor começares a habituar-te à ideia de seres morto pelas minhas mãos! Quem impõe sou eu!
Ele levanta-se e sai para a casa de banho, espero que se mate de vez, estou farto de tanta insegurança.
Continuo a limar as unhas. Tenho de fazer algo que nos dê dinheiro e penso que devo consultar a minha irmã, para poder certificar-me que estou a atuar da melhor maneira, não é da melhor maneira, mas se ela acha correto, aquilo que estou a fazer.
Antes de a ir consultar, pego num verniz preto e rabisco as minhas unhas, de modo a formar uma camada negra.
Arrumo tudo e desloco-me para o quarto.
Sento-me e fecho os olhos. Digo em voz alto:
- Macedónia, sou eu, a Babilônia, preciso de ti, desce à terra, minha deusa e senhora.
Abro os olhos, ela está na minha frente com o cabelo em desalinho, de um ruivo impactante, com uma pele branca, olhos castanhos.
Levanta-se, desloca-se pelo meu quarto, eu fico sentada.
- O que queres filha da puta?- diz ela a rosnar, com o seu vestido branco de dormir e uma cara assustadora.
Eu não sou uma rapariga de me assustar, ou de ter medo, mas de meter medo, de infligir dor e loucura. Mas ela assusta-me, mais do que eu própria conseguiria.
- Achas que estou a fazer tudo bem? Com aquele Cabrão?
- Não estavas apaixonada?
Ela para de andar à minha volta e foca-se em mim, olha-me.
- Acho que sim!
-Achas? Por favor, eu vejo na tua cara, o desejo pela sua carne, estás diferente, já não és a Babilônia que eu amo, eu já te disse que com amor, não vais concretizar o meu desejo enquanto o amares!
Pega na minha mão, coloca-a de palma para cima, olha para mim e cospe, um pouco de sangue:
- Isto podes ser tu, se continuares a amá-lo!
Levanta-se, abro o armário e coloca-se lá dentro, antes de desaparecer faz me um manguito.
Já não sei o que pensar. Tudo o que vejo é impossibilidade de conseguir alcançar os meus desejos.
Eu sou a Babilônia, Fátima, mas sou a mesma por dentro, aquela que vai espezinhar os outros, matar e destruir.
Sou poderosa, uma lagrima escorrega pelo meu rímel, sou perfeita, uma deusa.

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Eu acho que esta música tem tudo a ver com a minha história. Espero que todos os leitores estejam a gostar e como tal, gostava que comentassem a vossa opinião sobre i decorrer dos capítulos e da história

O Barulho do Silêncio #oscarliterario #escritoresdeouroDonde viven las historias. Descúbrelo ahora