Narrador: Messias (Jó)
Sigo com o meu indicador cada dobradiça destas grades, estas que me prendem, que me fazem sentir um impotente, um único ser, eu mesmo, nada, mais ninguém, só eu preso, nestas quatro paredes de ferro. Este ferro que me queima, como se de uma bruxa me tratasse, deito-me na espécie desconhecida de cama. Sinto-me tão pequeno, tão insignificante, apenas um naco de carne que vagueia por ruas, que vê as pessoas a morrerem à sua volta, todo este meu ser, toda esta dura realidade irreal, toda esta ficção que vivo.
Não passo de um fantoche, um escravo, sexual, emotivo e tantas outras coisas que me deixam a desejar. A minha íris desaparece para um tom cinza de onde todo o meu ser vê a escuridão, esta luz que se apaga pelo inspector. Fico às escuras, sinto-me um espírito, um demónio, um anjo, ou eu mesmo. Não consigo respirar com toda esta água que me afoga, todos estes braços e pernas que de lá saem, puxando-me para o abismo, para o submundo.
Vejo as estrelas, estas estrelas lindas que brilham ofuscantes no meu firmamento, sinto-me a melhorar a ver uma nova coisa, uma nova imagem, um eu diferente, mas depois lembro-me o que desencadeou tudo isto, toda a sua presença faz-me falta, todo o seu ser, o seu toque, os seus olhos. Sinto-me apaixonado pelo meu próprio pai, como se ele fosse algo mais importante que tudo isto que me rodeia, por esta infeliz infelicidade que percorre a espinha, o útero que não possuo. Será que o via mais do que um pai? Será que o amei, o beijei, será que ele alguma vez me violou?
Depois penso que talvez seja uma situação comum. Olho de novo para o firmamento estrelado do meu tecto, de onde agora nenhuma estrela me dá esta visão, mas sim um teto branco, a brancura da amargura. Essa cor insólita, repugnante que se encontra em todo o lado, grito, chamo pelo meu pai, pela Babilónia. Mas não vejo ninguém, apercebo-me da minha individualidade nesta cela, toda esta a minha presença ocupa este espaço inóspito, tóxico, onde cambaleio, perco as forças, recuo para o passado e para o futuro, leio-me a sina, descubro que o meu futuro é este, eu mesmo.
O que me levou aqui, eu não sou um criminoso, não passo de um insiginificante, se me tivesse matado naquele dia, não estaria aqui, nada disto era real, tudo se colapsar-se-ia numa nvem de fumo.
Esta penitência deixa-me atorduado, o meu ser cai morto, sem respirar, sem sorver ar por uma palhinha, toda este ar, toda esta atmosfera. Sinto-me morto, morto de sono, morto cerebral, morto interiormente.
Quando eu crescer quero ser um pedófilo, um vigarista, um politico, um professor, um lenhador, um padre, um marinheiro, um amante, um homicida. quero ser tudo aquilo que ela queria ser, tudo aquilo que me permitirem ser, não existirá limites. De hoje em diante, tornar-me-ei satânico, percorrerei a prancha, pé ante pé, sabendo que a guilhotina é esperada, desejada pelos outros, pelos demais, por aqueles que me rodeiam, aqueles que amam ver-me feito em dois. olharei os espectadores, lançarei um ultimo manguito e salterei para a minha dura existência, para todo este sono sonhado por quem vive estes momentos, estes segundos inválidos, estas proteínas que me desfazem, que me tornam pó de corpo e alma. A chuva caí fora, grosseira, dura, sem pecado, omnipotente e presente, fazendo buracos, pequenos buracos na pele das pessoas que passam na rua, que se dirigem para o nada, para a morte. Eu vejo-as do outro lado da janela, em frente a uma fogueira, a dançar sobre ela, a coptografarem com as mãos armas, desejos e verdades de um mundo cru e nu.
Acordo, sobressaltado, com a dança do fogo, esta dança que se faz ao meu redor. Reconheço alguns, alguns daqueles que me dançam isto. aqueles que me tocaram.
Tenho a cara suada, encharcada, como se as tais mãos e braços me tivessem, mesmo com luta, vencido. E mesmo que não tenha havido luta, houve pânico e desejo de morte.
O policia chega, este é um jovem branco de olhos azuis, cabelo negro, de uma barba por fazer, toda a imitação de uma pessoa.
Aproxima-se, abre a cela, e leva-me, coloca-me um saco na cabeça e umas algemas, nada mais, não se preocupa como estou, se tenho sede medo, vontade de morrer. Nada o seu silêncio é ensurdecedor.
Percorro de braço dado uma rua, imagino as caras das pessoas, que criminoso, que traficante, ninguém se preocupa com o meu verdadeiro eu, nem eu, eu próprio já não sei onde ele está.
Ele retira todas estas minhas máscaras, mostra-me ao mundo, estamos na casa de alguém, isto é, estamos à porta da casa de alguém, como de o médico que me vacinará letal mente, ou mesmo do padre que me fará a Extrema Unção de onde não sairei da extrema, de outro lado da ponte, de onde vejo um homem a observar-me, a correr para mim. Até eu à pressa, com medo do homem, entro na casa do psicólogo. Onde dançarei estas danças de línguas de fogo.
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GOSTAVA QUE COMENTASSEM E ME DISSESSEM O QUE ACHAM, DENTRO DESTA PORTA ESTÁ O NOVO COMEÇO.
ADÃO...
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O Barulho do Silêncio #oscarliterario #escritoresdeouro
Misterio / SuspensoTudo começa com a morte, após a morte de seu pai, um rapaz entra em depressão, conhecendo uma rapariga ruiva, que o leva por caminhos, nunca navegados. Desde droga, prostituição, até matar, tudo por dinheiro, dinheiro é o que faz movimentar esta his...