Poças de sofrimento

49 5 4
                                    

Narrador:Messias (Jó)

Abro os olhos, podia estar num passado longínquo, num mundo novo, numa nova realidade, num universo paralelo, no tal paraíso. Se é que ele existe, e se ele existe, e se eu estou nele, este fraco e todo poderoso, cobarde, rancoroso, ameaçador e repugnante  que o criou. Então Deus não sabe nada, não sabe de sofrimento, aquela dor no peito.

Só me sobram memórias, memórias colocadas no fogo, chamuscadas, feitas em nada. O que me sobra é este corpo pesado e rancoroso que vagueia pelo mundo, ou por este quarto à espera que apareça assim do nada, uma memória dela. Como se isso muda-se muito. Inocente, era o que diria desse viajante!
Já se passou um ano, um ano já que sento sentado, que pego no narguilé à espera que ele esteja desprevenido.
Nesse momento, saltar-lhe-ei em cima, devorarei-o, chorarei por cima do.seu corpo, e se for insuficiente para apagar a minha dor, ou parte dela, matar-me-ei em cima dele, do meu mal, onde ele já não me pode fazer mal.
Escondo- me nas trevas onde penso.
Sento-me como um rei e espero os meus servos, esboço um sorriso, percorro o corredor, chego à casa de banho, faço descer a roupa do meu corpo, deslizando-a, abro a água da banheira, deslizo-me para lá.
Tomo um banho.rápido, severo e prudente. Respiro fundo e percebo que tem de ser hoje. Isto tem de acabar!
Nesse mesmo dia, saio ainda de madrugada de casa, já devia ser meio-dia ou quatro da tarde. Já não via o sol há muito tempo, ele já não me visitava, já não me fazia caretas, simplesmente estava ali. Parado, quieto no meio.do sistema do solar, a suster a respiração e a morrer aos poucos, um dia de cada vez!
Entro no super-mercado, próximo da Casa do Psicopata. Que só me quer por dinheiro, fama, ganância. Onde este mundo.chegou. Tenho a cara tapada, com um cachecol, talvez no meio do verão, pois ninguém pode saber da minha existência, escondo-a de todos os outros. Tenho.verginhs de mim, daquilo que me tornei. Daquilo que farei, destas mãos a pingar de lágrimas, de lágrimas de sangue. Estas lágrimas que farei chorar de todos os lados do meu amor, do meu querido e devoto amo.
O senhor da loja olha-me, sente-se ameaçado, ameaçado por mim! Uma criatura cipreste, um pobre adolescente que se esconde da humanidade. Passo em vários corredores, onde numa parte reservada encontro diluente. O senhor olha-me, começa a suar, vejo a sua transpiração a descer rapidamente, também ela nervosa com toda esta situação. Vou ao balcão, pergunto por algo que não me deixe impressões digitais como luvas, ou algum produto para as limpar. O homem respira fundo, estende-me um produto. Eu olho-o:
- Quanto custa?
-7,5€.
- Sabe que eu podia matar o policia, nunca mais ninguém necessitaria de saber da Babilônia - o homem ouve com medo e ao mesmo tempo com uma certa atenção e interesse- ou a si, podia matá-lo só a pestanejar, podia roubá-lo, mas em vez disso quero pagar e o senhor vai-me vender obras de um crime, por isso se eu sei que alguém sabe farei uma coisa que o senhor nunca se esquecerá, matarei todos os seus à sua frente. Ok?
- Pode levar isso de graça, mas não me faça mal!
Tiro uma faca do bolso,
- Só se destruir agora todas as filmagens desta loja.
Eu olho à minha volta está tudo cheio, todos os ângulos de visão , vigiados ,como pequenos olhos, que nos observam atentamente, sem dizerem nada, tornando este o meu barulho do silêncio, este silêncio ensurdecedor, que me rompe e corrompe.
A lua cheia está a chegar e sei que adotarei formas disparas e estranhas de se ver, mas enquanto pisar a terra, serei o monstro, o bruxo, o ladrão, o feiticeiro de sonhos.
Saio da minha esfera e entro na realidade, neste linha continua de espaço-tempo, onde um hipotético peixe merguha numa cana de pesca, ou um gato se desfaz.
O homem leva-me à sala das traseiras onde me mostra o sitio onde tem as gravações de hoje do nosso momento. Beijamos​-nos, começamos a fazer sexo, tudo numa intensidade grande, forte, sinto o.seu corpo a tocar no meu. A sua roupa a cair no chão, os seus beijos longos e intensos, mas depois recordo que essa não é a realidade, nem algo que ame. Pois eu sou heterossexual, por mais que me tenha prostituido, sou heterossexual, mas a loucura não me deixa viver, caio do tal prédio onde a realidade tem a sua empresa. Uma empresa de sucesso, onde estou pendurado no ultimo andar, por dez dedos, que me seguram, agora nove. Nove dedos. O homem desliga as câmaras, retira o cd, com toda a informação de hoje, coloca o cd no computador, apagando os 10 minutos que estive dentro.da loja. Oito dedos.
Peço-lhe para se perguntarem alguma coisa que o cd estava doido e que não houve luz na loja durante esse tempo, pouco tempo, mas o tempo suficiente para um pouco de mar inventado e totalmente magicado, pelo menos é o que eu acho.
O homem aconselha-me a sair pela porta das traseiras, dá-me um ultimo beijo, e abre-me a porta.
Desapareço, caminho na rua em direção à casa, à minha feliciade, eu gosto! Gosto.de me dar a alma, só assim me sinto realmente vivo.
Chego a casa e tomo um bom pequeno almoço, onde não.o.deacreverei por ter as mãos ocupadas com comida.
Vou ver se me amo já está acordado, acordo-o com beijos nos nós dos dedos.
Ele acorda, começo a falar:
- Bom dia meu senhor, temos de falar, mas descanse um pouco, que eu vou preparar o.seu banho.
Eu saio do seu quarto, coloco rosas, sais no banho, todas aquelas merdas que o homem gosta. Ando à roda na casa, preparo o resto do banho, rodo a torneira para a água quente.
- Messias! Vamos lá que eu não tenho o dia todo!
- Vou já meu amo!
Vou ter ao.seu quarto, onde lhe desejo um bom dia, o levanto.
- Diz lá o que querias falar comigo?
- É para falar sobre o policia, ele está muito mal, o Yuri, está quase morto, temos de fazer.
O psicólogo para a meio do caminho, larga a minha mão e olha para mim:
- E estás à espera que eu faça o quê!??
-Temos de o matar, esconder o corpo, algo assim!
- Pensamos nisso depois! Mas adoro como te preocupas comigo, o teu senhor, Eduardo, o teu senhor, tens sido a minha família- o psicólogo diz isso entrando na banheira - muito obrigado por tudo. Acho que podemos ser felizes um dia.
- De nada, meu senhor!
Ele deita-se na banheira, coloco rádio a tocar com aquelas músicas calmas que ele tanto gosta de ouvir. Abro a torneira da bacia, lavo a cara, vou-me embora, fechando a porta à chave.
Durante duas horas lavo tudo, começo a limpar tudo, nada de pó ou sujidades.
Passado essas duas horas volto à casa de banho, esta cheia de vapor de água, quase um nevoeiro, uma nuvem ardente.  O psicólogo dorme como.um anjo, reparo na torneira aberta na quantidade de água à minha volta.
Pego no diluente, abro a lata e despejo por cima do psicólogo, escondo a lata, escondo-me.
O psicólogo começa a se mexer, começa a coçar o corpo, tem o.corpo vermelho, começa a coçar também os olhos, acorda, começa a gritar o meu nome.
Eu oiço este som também é o meu barulho do Silêncio, ouvi-o vezes sem conta se fosse necessário, ou apenas por deleite.
O psicólogo levanta-se começa a coçar e a gritar de dores, sai da banheira, corre até à bacia. Lava a cara, o plano não está a resultar penso.
Apareço e digo:
-Então senhor, qual é a sensação da dor?
-Se eu te apanho!
Ele corre até à porta, onde me dirijo e onde a sanita está, a única coisa entre nós é a sanita.
Ele corre, mesmo com dores, mas como o chão está molhado, ele escorrega, cai da sua posição vertical e bate com a cabeça na sanita, espalha-se sangue por todo o lado. Ele levanta a cara, eu calço as luvas, arrasto o seu corpo até à bacia, levanto a sua cabeça ao nível da bacia, pego na sua cabeça com força e desfaço a bacia repetidamente, até só haver cacos da mesma. Pego novamente na sua cabeça e desfaço a sanita, choro, sinto o.seu corpo morto ao meu lado, quebrado, já quase sem cabeça. Arrasto o corpo até a banheira e coloco-o lá, junto com o.diluente.
Nunca senti tanta paz de espírito, nem tão pouco barulho, esta será a minha nova vida onde não há limites, nem leis físicas ou institucionais que possam parar, serei indomável, serei o Messias.

__________________________________

Olá, espero que tenham gostado, quem quiser fazer recomendações sinta-se à vontade. Obrigado. Adão.

O Barulho do Silêncio #oscarliterario #escritoresdeouroDonde viven las historias. Descúbrelo ahora