A minha dura imortalidade

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Quero agradecer por juntos termos chegado a um 1k, espero que gostem da minha história e que nunca parem de ler, isto tudo para nos e vos tocar.
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Juro que faria tudo por ela, daria aquilo que tenho, aquilo que me resta, este pequena porção de areia que me enche os bolsos destas calças amarrotas, sujas de sangue, manchadas, dar-lhe-ia aquilo que tenho, esta tão doce e amarga vida que faço questão de sustentar.

Vejo o seu corpo a cair imovel, pesado, desprovido de alma, um naco de carne com um Unico dono. Vejo os seus olhos abertos, abertos para o mundo, para aquilo que a rodeia, capto um movimento parado do corpo dela, um ultimo espasmo, uma ultima contração, até cair, desfazer-se em nada, que foi o tudo para mim.

E só Ele, só este deus que nos governa me fez isto, retirou-me aquilo que desejo, que amava, que faria tudo por , que lhe dava o meu coração em troco de nada, em pura e simples insignificância deste nada que sinto cá, no peito, onde devia ter  o coração, ou algo do género. Este todo poderoso, que me rouba, que me pontapei, me mutila, que me corrompe, desfazendo-me em manchas, em pura água.

Sinto as trevas a entrar, não andarei num mundo, onde Ele comanda, onde ele com uma borracha apaga aquilo que eu tenho da minha existência. Este eterno cobarde com as suas taras, que se esconde para lá de tudo isto, para lá do que consigo ver, por de trás desta cegueira iluminada. Sinto-me iluminadado, ou alias, finalmente iluminado.

Sinto o meu corpo a quebrar, a partir-se me dois,  a realidade não é aquilo que conheço.

Percorro este sombrio corredor de onde tantas vidas desaparecem, e onde desapareceu esta, mais uma vitima de uma amante de Deus e de Mar que se deixou levar pelas ondas. Uma lágrima escorrega, também ela descontente, para o fundo, lá bem ao fundo, no chão, no unico sitio onde os meus olhos passam, onde navegam nestas amargas aguas.

Será que ela morreu?

Terei de falar com o que está para lá do firmamento, com alguma estrela, ou mesmo com esta lua segunda que nos segue, falarei sozinho, apenas sozinho, rir-me-ei das minhas próprios piadas, consular-me-ei, dar-me-ei o tal primeiro beijo, vou ser como ela, vou fazer aquilo que ela fez e aquilo a que a ampulheta, grão a grão não deixou fazer.

Não me apaixonarei, todo o meu amor é e será dirigido a um única pessoa, serei estéril, virgem, capar-me-ei numa noite que tenha coragem, na noite em que aproximarei da sua virtude e da sua capacidade mortal.

E enquanto esta minha imortalidade me perseguir, mostrando todos os outros a desmoronar-se eu permanecerei sério calado, com as lágrimas guardadas naquilo a que podemos chamar canto do olho.

Chego ao quarto  onde Ela é suposto estar, a minha musa, a minha deusa e ninfa que me inspira nesta dor, que me faz escrever estas lágrimas, que me faz estes sorrisos invertidos, estas infelicidades que me esfaqueiam e me quebram o sorriso, como se de um espelho se tratasse, dando não à infelicidade azar, mas sim a mim, a todo este meu ser.
Um médico desloca-se até  mim dizendo:
- Os meus sentimentos, a sua amiga não sobreviveu aos ferimentos. Se quiser recorrer ao nosso psicólogo, sinta-se à vontade.
- Obrigado.
Dizendo isto volto-me de costas para o médico e para a realidade. Dirijo-me para nossa casa, no nosso carro, com as nossas músicas, com o nosso cheiro, com as nossas curtas memórias, com tudo aquilo que tínhamos juntos.
Chego a casa, encontro um grupo de polícias a vasculhar em tudo, nas únicas coisas que podemos dizer que eram nossas.
Vejo uma fita a obstruir a entrada do seu quarto.
Um dos polícias dá pela minha insignificante presença. Chama o que parece ser um inspetor, o inspector olha-me nos olhos, caminha até mim, e dirige-me a palavra, as palavras saíem atrapalhadas da sua boca:
- Bom dia! É o senhor Messias?
Penso um pouco se esse é mesmo o meu nome.
- O próprio!
- Vai ter de me acompanhar à esquadra!
- Eu? Eu não fiz nada, ela matou-se, a irmã dela, depois escuro, arranhões, um tiro. Pum! Pum! Dois, Macedónia, morta, ela morta, eu não matei, eu tentei salvar, juro que tentei salvar!
- Tenha calma, mas tem de me acompanhar na mesma à esquadra!
- Claro.
A probabilidade de eu ser preso por homicídio é grande, eu não sei se toquei na arma, não sei se eu fui que a matei, tudo está confuso aqui, bato na cabeça, enquanto falo sozinho dentro do carro do inspector, enquanto ele se encontra no nosso apartamento, deixou-me aqui trancado. Tudo está confuso, já não sei o que é real, a irrealidade mistura-se dentro da minha cabeça com a realidade, transformando as cenas em novas, já me imagino a matá-la a esfaqueá-la. A levá-la para a escuridão.
O polícia volta, leva-me até à esquadra onde me enche os bolsos de perguntas sobre o acontecido.
Digo tudo o que sei, não a nossa verdadeira identidade. Ele consente, ouve tudo, pede para repetir, de modo a que me confunda. Ele por fim diz:
- Vai ter que dormir cá está noite, esta disposto a isso?
- Não, eu não quero, eu não posso!
- Mas tem de ser! Vou acompanhá-lo amanhã a um psicólogo cá da zona!
- Se tem de ser, que seja!
Inspiro fundo, é nas estas alturas que odeio e desprezo está minha imortalidade.
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Vai começar uma nova fase da vida de Jó. Não parem de ler. Dentro de uma semana, se possível publicarei o próximo.
Adão

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