Capítulo 5

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Uma coisa era certa: eu queria sair dali. Gostava muito de andar por Greenwich, mas a verdade é que eu não fazia menor ideia de onde ir. Meus pés apenas moviam-se de maneira casual.

Era engraçado como todas as vezes eu parava em frente àquela porta vermelha. Mais uma vez, o barulho do sino indica a única alma viva ali. Nem mesmo Moxie estava em seu posto. Não sei por que estou ali, nem por que quis sair de casa, para começar. Mas a companhia de todos aqueles CDs me fazia bem. Acho que parte de mim sentia falta de estar só. Estive assim nos últimos anos, e descobri que, muitas vezes, a única companhia que precisava era a mim mesma. Talvez o divórcio dos meus pais tenha me afetado mais do que pensei.

-Moxie? Você está aí?

Sem resposta.

Dou um rápido passeio entre os corredores, apenas admirando superficialmente cada capa de disco. Nada parecia ter mudado desde a última vez que estive ali. Até mesmo os ponteiros do relógio de parede em cima da registradora pareciam iguais.

-Quem está aí?- Um homem gritou há algumas fileiras de distância.

Me expus, um pouco intimidada pelo seu tom excessivamente firme.

-Ah- Ele me olhou de maneira curiosa, inclinando um pouco a cabeça e deixando uma fenda de sua boca aberta. Não sabíamos muito bem como reagir.

-E-estou apenas olhando- Gaguejei.

-Sim, sim!- Ele se posicionou, agora um pouco menos perplexo- Fique a vontade- Pigarreou- Qualquer coisa, eu... Eu estarei logo ali- Apontou para um lado qualquer do local.

Fico imaginando a que ponto deveria ter chegado quando a presença de clientes em seu estabelecimento é algo surpreendente e quase assustador.

-Olha, eu não sei por que você insiste em trazê-los- Moxie abre a porta de ferro logo atrás de mim, empurrando-a com uma das pernas, enquanto tenta equilibrar uma aparentemente muito pesada caixa de papelão- Ninguém vai compra-los mesmo...

A caixa provoca um barulho estrondoso quando encontra o chão, levantando uma camada grossa de poeira, que caí delicadamente sobre seus pés.

-Você voltou. Nina... - pronunciou com a língua entre os dentes- Olha- Moxie suspirou impaciente- Qualquer dano ou decepção é um prejuízo exclusivamente do cliente. Não efetuamos trocas nem devolução do dinheiro. O erro foi inteiramente seu de entrar nessa furada, em primeiro lugar!- Ela deu um sorrisinho sarcástico e puxou do bolso mais um dos seus cigarros intermináveis.

-Não é nada disso- Respondi lentamente, guardando as mãos no bolso do meu moletom, claramente desconfortável com tudo aquilo- Na verdade, são bem legais.

-Oh!- Ela sacudiu a cabeça- Qual o motivo do retorno, então?

Essa, de fato, era uma ótima pergunta.

-Eu não sei.

-Você é meio doidinha, não?- Riu.

Aquilo me intrigava bastante, vindo da garota de cabelos azuis picotados, cujo apelido, em primeiro lugar, era Moxie.

Eu arrastava o meu pé sobre o carpete, com a cabeça abaixada, enquanto balançava o corpo para frente e para trás, incomodada pela maneira que ela me observava. Seu olhar era profundo, e talvez, um pouco julgador. Mas acho que é algo natural de si. Parte da culpa vem dos seus olhos intensamente verdes e vidrados.

-Eu estou faminta- Ela tragou seu cigarro. Havia tanta classe no modo em que fazia, que até acredito, por um segundo, que aquilo era uma coisa interessante- Quer comer alguma coisa?

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