Capítulo 27

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-Nina! Oh, querida! –Os braços rechonchudos de Margot me envolvem num abraço sufocante. Ela parecia visivelmente abalada. Seu cheiro de margarida empesteia minhas narinas enquanto ela me apertava. –Eu sinto tanto por você. Como está o seu avô? Não acredito no que aconteceu. Lucy parecia tão bem, tão saudável, não?

Balanço afirmativamente a cabeça, restaurando o ar em meus pulmões.

-Mason está aqui? –Perguntei finalmente.

-Oh, não, não, não! –Disse euforicamente. –Ele saiu. Estava com uma amiga, loura alta e bonita. Bri...

-Brianna. –Cortei-a rapidamente.

-Acredito que sim. Quer deixar um recado?

-Hm, só diga que... Diga que Nina esteve aqui. E que ela disse adeus.

A mulher parecia preocupada.

-Você está partindo, querida? –Levou as mãos gorduchas até a boca.

-Estou.

***

Minha mãe não poderia estar mais contente. Passa horas comentando sobre o novo apartamento e como era perto da minha faculdade. Fala sobre a mobília, a vista, os vizinhos. Foco ora sim, ora não. Às vezes balançava a cabeça, para me mostrar minimamente interessada, ainda que não estivesse.

Vovô passaria um tempo conosco e eu fiquei radiante quando ele finalmente cedeu. Não seria bom para ele ficar naquele ambiente tão ela.

-Ficarei por pouco tempo, Nina. Não posso deixar que o jardim fique mal cuidado. Pedirei para Margot ou Helena para molhar as flores por mim.

Essa foi a sua única condição.

Arrumei minhas malas rapidamente e na madrugada, eu estava de pé, prestes a embarcar num avião.

-Não sei quando foi a última vez que entrei num desses. –Vovô disse, apontando feito uma criança para a enorme aeronave pousada do outro lado da imensa janela de vidro.

Não me parecia certo partir sem me despedir de Mason. Ele fora, querendo ou não, meu melhor amigo ali. Sua lembrança me faz chorar mais uma vez. Parte de mim acreditava que ele apareceria magicamente ali, me implorando para ficar. Mas ele não aparece.

Nossas poltronas ficavam ao fundo da nave. Aquelas espaçosas que se paga uma tarifa a mais pelo misero espaço para as pernas.

Meu avô cochila na primeira hora enquanto eu me deleito com um livro que comprei no aeroporto.

Vejo Londres ficar pequenina ao lado de fora, guardando consigo cada passo que dei por ali. Cada beijo e segredo pareciam tão pequenos e insignificantes dali.

Eu estive ali uma vez, naquela cadeira de avião, segurando anseios e medos da minha nova realidade. Criando mil e uma expectativas para o dia seguinte. E se alguém me contasse naquele dia o que viria a acontecer, eu riria desdenhosamente, porque a minha fé nas pequenas coisas já não existia mais. Mas, sem dúvidas, aquela temporada me mudou. Me fez crescer e recuperar o tantinho de esperança que havia perdido. E isso, eu deveria agradecer a Mason.

Considerando as minhas circunstancias atuais, eu deveria odiá-lo. Ele me fez sentir o que eu mais temia e desacreditava. Mas minha real vontade era agradecê-lo. Não poderia ser amarga para sempre, cética para sempre ou estúpida para sempre.

Eu sinto pena de você, Mason Cartwright. Pena por ser tão vazio por dentro e incapaz de aceitar que, sim, você tem sentimentos, e, não, eles não vão te machucar. Assim como não serão as outras pessoas. Quem te machuca é você.

***

Era inverno no Brasil, mas isso não quer dizer muita coisa. Aquela mudança de horário, clima e ambiente me deixa confusa.

Minha mãe me esperava ansiosamente fora da sala de desembarque. Quando me vê, corre até mim e me abraça como não fazia há anos.

Ela beija minha bochecha e acaricia meu cabelo. Retribuo cada gesto. Não sinto mais raiva, apenas saudade.

Em seguida ela abraça o pai. Ele a acolhe, como uma criança, enquanto ela chora baixinho em seu ombro.

Minha avó fora cremada na noite anterior. Foi como ela pediu: simples e reservado, como ela. Voltamos para casa quase na hora de partirmos e eu não dormia direito por quase dois dias.

O apartamento novo era realmente lindo. A vista para o mar era a melhor parte. A sala tinha uma varanda larga com alguns sofás, de onde dava para ver o sol de por. Era a minha nova casa, e, mais uma vez, a minha nova realidade.


*****

AINDA FALTA O EPÍLOGO, OK? Calma... Juro que vou tentar postar o mais rápido possível! Mas enfim, toda aquela coisa de votar comentar vocês já conhecem... E se você chegou até aqui, por vontade própria ou acidente do destino, eu só tenho a dizer: MUITO obrigada.

Nem Tudo São FloresOnde histórias criam vida. Descubra agora