Capítulo 13

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-Do que você está falando?

-De ontem. Fui extremamente rude e só estou usando essa palavra, pois não consigo achar outra que caiba tamanho arrependimento, Mason.

Ele riu.

-Acha que eu me ofendi? Por favor, já levei outros foras antes. Não se preocupe, não doeu.

Um sorriso se esboça no meu rosto.

-Quer entrar?

Passo os olhos pela sala atrás dele. Por cima de seu ombro, vejo um vulto loiro sentado sobre o sofá, lendo alguma coisa enquanto embaraça seus pés entre as almofadas. Ela não parece me ver.

-Não, obrigada. Já estou de saída.

Antes que eu vá embora, ele me chama. Me viro mais uma vez, já distante.

-Ei, Nina!- Mason sorriu e continuou- Obrigado.

-Por quê?

Abre a boca, mas a fecha logo em seguida. Não usa palavras, apenas um sorriso sincero e me deixa partir.

Eu estava tão leve. Era como se todos os nós no meu interior estivessem desfeitos agora.

Cinco crianças correm e atravessam o meu caminho, me deixando um pouco desnorteada. Sinto falta de brincar na rua com os meus amigos, mas lembro-me que perdi a maioria deles com o tempo.

Esfrego os pés no tapete antes de entrar, havia lama por toda a entrada. Empurro a porta me deparando com algo inacreditável. Vovó estava deitada, metade do corpo sobre o tapete enquanto o resto estava contra a madeira fria. Sua pele estava azul de tão pálida, as pernas estavam dobradas, de modo que fazia seu corpo parecer ainda menor. Os olhos estavam fechados, como seus punhos. Corri até ela. Tudo parecia câmera lenta, como nos filmes. Não havia som, nem mesmo meus passos pude ouvir. Meu foco estava apenas nela. Gritava pelo meu avô, mas não ouvia os gritos também. Sei que grito, pois minha garganta dói e meus lábios contraem a cada chamada. Ele desce e empalece com a vista. Se agachou perto de mim e pressionou o seu peito. Nada. Com uma força súbita, ele pega o corpo desacordado dela e carrega até o carro, deitando-o no banco de trás. Dirigimos até o hospital mais próximo.

As paredes e o cheiro me fazem querer vomitar. Odeio hospitais. Ela é levada numa maca por alguns enfermeiros e somos impedidos de acompanha-la. Vovô se recusa a abandona-la por um segundo; segurou sua mão e sussurrou algo que apenas ela seria capaz de ouvir. Foram necessários três enfermeiros para conter um senhor tão idoso, mas as vezes o amor é uma força surpreendente.

Ficamos na sala de espera, isentos de qualquer informação.

***

Três horas se passam. Três horas de pura tortura. Pessoas sentavam e levantavam ao nosso redor, mas ficávamos imóveis. Finalmente, Dr. Skinner se aproxima e nos chama.

-Ela vai ficar bem- Ele diz- A pressão baixou e ela teve uma pequena convulsão, mas nada grave. Agora precisará de repouso e aconselhamos que durma aqui essa noite. Uma precaução, entende?- Ele soava muito seguro, o que era reconfortante, mas esse era o seu trabalho- Gostariam de vê-la?

Sequer respondemos. Ele nos leva até o quarto 212, onde ela estava deitada pacificamente. Está acordada e logo se anima em nos ver. Os olhos se enchem de vida novamente. Dr. Skinner chama o meu avô para uma conversa particular, possivelmente para tratar de remédios e assuntos mais específicos, e eu aproveito a deixa para ficar com ela.

-Nina!- Ela sorriu quando adentrei o quarto.

-Vó!- Jurei a mim mesma que não correria e não faria uma cena, mas fiz assim mesmo- Você quase me matou de susto- Dei um beijo em sua testa.

Nem Tudo São FloresOnde histórias criam vida. Descubra agora