Capítulo 24

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Nove anos antes...

Parabéns pra você...

Nessa data querida...

Nina?

Acorde! Nina?

Oh, que susto!

Parabéns.

A figura da minha mãe estava borrada e meus olhos estavam secos. Não dormia assim há semanas. Ela segurava algo em suas mãos... um bolo. Era o meu aniversário.

-Vamos lá!- Ela sorriu- Assopre as velinhas. Faça um desejo!

Eu já sabia o que desejar. Aperto os olhos e penso com todas as forças no meu primeiro desejo aos dez anos. Ainda estou confusa, afinal, não diria ter sido acordada da maneira mais amigável, mas a intensão era boa.

-O que você pediu?

-Não posso dizer, sua boba! Assim não vai acontecer.

-Tem razão- Ela levou a mão à testa- Guarde-o com cuidado.

Ela deixou o bolo em cima da mesa de cabeceira e me pôs em seu colo.

-Mãe, eu já estou bem grandinha pra sentar no seu colo- Revirei os olhos.

-Bobagem! Não tem idade para isso.

No fundo, gostava bastante daquilo, por isso, não insisto muito. Ela acariciava o meu cabelo de um jeito que apenas ela conseguia. Era bom e seguro.

Aos poucos, minha mente volta a funcionar e rapidamente, imagens da noite passada se repetem em minha cabeça. Houve uma briga. Gritos, batidas de porta, pisadas fortes... Era cada vez mais frequente.

Não consigo entender o motivo. Como aquilo acontecia? Eles eram os meus pais, deveriam se amar. Não é assim que funciona? Você se apaixona, se casa e vive feliz para sempre. Como nos filmes! Mas ninguém nunca mostra o que acontece após os créditos finais.

Por que em um momento, tenho lembranças de dias felizes e coloridos e repentinamente, tudo que ouço são gritos e as cores pingam até que escorram e sobre apenas cinza?

-Mãe...

Ela encosta sua cabeça na minha. Suas mãos percorrem delicadamente pelo meu cabelo, até que atinja as pequenas ondas que se formam nas pontas.

-Você ama o papai?

Pude sentir seu peito encher e murchar lentamente. Talvez a mesma não soubesse a resposta naquela época.

-De uma maneira estranha, sim, nós nos amamos, Nina. Por que a pergunta?

-Vocês brigam o tempo todo. E gritam também! Não gosto disso, não é para ser assim.

-Nós nos amamos como adultos se amam. Não somos perfeitos, claro, mas nos importamos um com o outro. Existem desentendimentos e continuarão a existir, estamos apenas passando por uma fase turbulenta.

-Não quero amar como um adulto, então.

Minha mãe não soube o que responder. Beijou a minha bochecha e levantou-se para pegar uma faca para o bolo.

***

Acordo com as patinhas de Bonnie cutucando o meu nariz.

-Oh, Bonnie! Poderia ter esperado mais alguns minutinhos!- Lamentei.

Ela fez pouca questão e pulou para o outro lado assim que concluiu o que tinha de fazer. Ainda que tentasse voltar a dormir, alguma coisa me impedia. O sono já havia desaparecido.

Nem Tudo São FloresOnde histórias criam vida. Descubra agora