Nove anos antes...
Parabéns pra você...
Nessa data querida...
Nina?
Acorde! Nina?
Oh, que susto!
Parabéns.
A figura da minha mãe estava borrada e meus olhos estavam secos. Não dormia assim há semanas. Ela segurava algo em suas mãos... um bolo. Era o meu aniversário.
-Vamos lá!- Ela sorriu- Assopre as velinhas. Faça um desejo!
Eu já sabia o que desejar. Aperto os olhos e penso com todas as forças no meu primeiro desejo aos dez anos. Ainda estou confusa, afinal, não diria ter sido acordada da maneira mais amigável, mas a intensão era boa.
-O que você pediu?
-Não posso dizer, sua boba! Assim não vai acontecer.
-Tem razão- Ela levou a mão à testa- Guarde-o com cuidado.
Ela deixou o bolo em cima da mesa de cabeceira e me pôs em seu colo.
-Mãe, eu já estou bem grandinha pra sentar no seu colo- Revirei os olhos.
-Bobagem! Não tem idade para isso.
No fundo, gostava bastante daquilo, por isso, não insisto muito. Ela acariciava o meu cabelo de um jeito que apenas ela conseguia. Era bom e seguro.
Aos poucos, minha mente volta a funcionar e rapidamente, imagens da noite passada se repetem em minha cabeça. Houve uma briga. Gritos, batidas de porta, pisadas fortes... Era cada vez mais frequente.
Não consigo entender o motivo. Como aquilo acontecia? Eles eram os meus pais, deveriam se amar. Não é assim que funciona? Você se apaixona, se casa e vive feliz para sempre. Como nos filmes! Mas ninguém nunca mostra o que acontece após os créditos finais.
Por que em um momento, tenho lembranças de dias felizes e coloridos e repentinamente, tudo que ouço são gritos e as cores pingam até que escorram e sobre apenas cinza?
-Mãe...
Ela encosta sua cabeça na minha. Suas mãos percorrem delicadamente pelo meu cabelo, até que atinja as pequenas ondas que se formam nas pontas.
-Você ama o papai?
Pude sentir seu peito encher e murchar lentamente. Talvez a mesma não soubesse a resposta naquela época.
-De uma maneira estranha, sim, nós nos amamos, Nina. Por que a pergunta?
-Vocês brigam o tempo todo. E gritam também! Não gosto disso, não é para ser assim.
-Nós nos amamos como adultos se amam. Não somos perfeitos, claro, mas nos importamos um com o outro. Existem desentendimentos e continuarão a existir, estamos apenas passando por uma fase turbulenta.
-Não quero amar como um adulto, então.
Minha mãe não soube o que responder. Beijou a minha bochecha e levantou-se para pegar uma faca para o bolo.
***
Acordo com as patinhas de Bonnie cutucando o meu nariz.
-Oh, Bonnie! Poderia ter esperado mais alguns minutinhos!- Lamentei.
Ela fez pouca questão e pulou para o outro lado assim que concluiu o que tinha de fazer. Ainda que tentasse voltar a dormir, alguma coisa me impedia. O sono já havia desaparecido.
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Nem Tudo São Flores
Teen FictionPor muito tempo, Valentina viu-se obrigada a refugiar-se em seus pensamentos e livros preferidos. Nunca imaginou que o relacionamento conturbado de seus pais pudesse causar-lhe tantas cicatrizes. Numa tentativa desesperada, Nina é mandada para a ca...