Capítulo 23

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Dois meses depois.

Indícios de verão começam a surgir muito sutilmente. A primavera ainda era fortemente perceptível, mas uma suave transição começa a surgir.

Ultimamente, tudo tem sido igual. Eu acordo e preparo o café da manhã, já que meu avô está cansado demais após uma noite longa e desconfortável no hospital. Cuido do jardim, canto à noite no Underground. E a rotina segue imutável ao longo das semanas.

Ainda ouço a voz dele ao telefone. Era firme, mas podia sentir a sua insegurança, o seu medo quando disse que ela estava inconsciente, que aquela podia ser a última vez. Comprei a primeira passagem que vi na internet e assim que desembarquei, fui ao hospital. Eu estava desesperada. Para Mason, nada mais que um bilhete. Brigamos feio depois daquilo. Não era saudável para nós manter algo tão instável quando nenhum de nós estava completamente seguro de nossos sentimentos. Eu gritei, ele gritou, e, no final, nada foi completamente resolvido. Mas nos afastamos, e aquela parecia a melhor opção. Não o vi muito depois daquele dia. Acho que não tem ficado em casa. Encontrei-o num café uma vez. Estava acompanhado de uma garota e, ainda que nossos olhares tenham se esbarrado algumas vezes, não trocamos uma palavra sequer.

-Como ela está?- Pergunto assim que ele fecha a porta. Acabara de voltar do hospital e estava sonolento e fraco- Sente aqui, você precisa comer, está pálido. Eu fiz panquecas.

Vovô sentou-se e eu lhe entreguei um prato. Ele estava realmente agradecido, mas estava zonzo e quase não consegue fazer o caminho entre o recipiente e a boca.

-Teve uma noite boa. Dormiu direito, só acordando duas vezes dessa vez. Perguntou de você, está com saudade.

-Irei visita-la hoje. Fui ontem, mas estava dormindo e eu estava atrasada para trabalhar.

Cantar no pub começara a perder a graça. Principalmente depois que Moxie precisou passar um tempo com sua mãe na Grécia.  Sem ela ou Mason, comecei a me sentir só, como era antes de tudo. Não me sentia assim há algum tempo e já me esquecera do quão ruim podia ser.

A única pessoa que estava ali para mim naquele momento era, surpreendentemente, Jace. Ele sempre tentava me animar ou me levava num lugar divertido para comer. No começo, pensei ser uma tentativa de se aproximar romanticamente, mas logo vi que sua intenção era boa.

***

Depois de tantos meses, ainda não me sentia preparada para dirigir do outro lado da pista. Por isso, pego o ônibus até o hospital, parando antes para revelar algumas fotos que mais gostava do primeiro mês que estive em Londres, quando minha avó me levou para conhecer a cidade, e pus num porta-retratos decorado. Fica muito animada quando vê o presente.

-Oh, querida! Eu amei!- Ela diz quando tenta levantar-se, mas eu não deixo. Abaixo-me para facilitar o gesto.

Seu cabelo já tinha caído quase completamente, restando apenas alguns fiapos finos. Meu coração latejava toda vez que a via. Vovó era uma mulher tão forte e inspiradora e eu odiava vê-la de tal maneira.

Toda vez que a visitava, fazia uma promessa no elevador: Eu não choraria. E realmente não choro. Não em sua presença. Mas à noite, era difícil dormir quando sua imagem surgia em meus pensamentos e eu cogitava a hipótese do fim estar tão perto.

Vovô me fez prometer que não contaria nada disso à minha mãe. Nem mesmo eu deveria saber sobre o câncer, mas era impossível quando convivíamos juntas.

Nem Tudo São FloresOnde histórias criam vida. Descubra agora