Capítulo 17

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Café quente numa manhã fria como aquela era uma dádiva. O cheiro se espalhava pelo pequeno espaço da cozinha, escapando para a sala e me despertando quase imediatamente.

O suspensório era marca registrada do meu avô. Era engraçado como eles combinavam com os óculos de lentes grossas e redondas e o seu ar sutil. Fico o observando enquanto comia alguns sequilhos caseiros acabados de sair do forno.

-Preciso admitir que ainda não gosto dessa ideia- Vovó servia o café em pequenas xícaras coloridas de porcelana.

-Oh, Lucy! Supere- Ele debochou, abraçando-a logo em seguida.

-Não precisa se preocupar, vó. Já sou grandinha, sei me virar sozinha.

Preferiu não continuar. Apreciou o gosto amargo da bebida e a amargura da derrota. Ela se retirou, caminhando em direção ao estreito quintal. Preocupada, segui-la até as margaridas que começavam a murchar.

-Essas já foram- Ela suspirou.

-Acho que sim- Engoli mais um pouco de café- Podemos plantar outras quando eu voltar.

-Claro- Ela abraçou o próprio corpo, aquecendo-se do frio daquele inicio de manhã- Sabe Nina, eu passo boa parte dos meus dias aqui, com todas essas flores. Vejo-as crescer, desabrocharem, e, finalmente, murcharem. É uma beleza tão delicada, sabe? Observo a vida passar tão de pressa. Elas têm sido minha única companhia nesses anos.

-Ora, mas e o vovô?

-Oh, seu avô é uma ótima companhia também- Ela sorriu- E não poderia pedir outra melhor. Mas há coisas que só as flores são capazes de nos fazer compreender.

Não sei se entendi ao certo o que ela quis dizer. Naquele momento, me sinto na necessidade de abraça-la e é o que faço.

-Nina- Vovô apareceu na porta- Aquele garoto, Mason, está te esperando do lado de fora.

-Já estou indo.

Beijei sua testa e ela retribui com um dócil sorriso.

-Está tudo bem?- Perguntei.

-Está sim, querida. E quanto às margaridas, não se preocupe. Em breve, novas estarão por vir e está é a parte boa, de alguma maneira, o ciclo continua.

Assenti com a cabeça e dei-lhe um último abraço antes de partir.

-Nina!- Ela exclamou- Mais uma coisa.

-Sim?

-A vida é o seu jardim, querida. Não deixe-a murchar! O tempo é tão rápido e tão raro, e um dia, você irá olhar e perceber a beleza que cultivou. Mas não deixe que seja tarde demais, está bem?

-Claro.

Vovó suspirou.

-O que eu quero dizer é que você é jovem e espirituosa, então aproveite essa viagem e não deixe que nada a impeça de ser perfeita, promete?

-Eu prometo.

***

Não sabia o quão perto a Inglaterra era da Irlanda até o momento que percebi que nem metade da minha playlist de viagem seria escutada. Menos de duas horas de relógio e nós pousamos, sãos e salvos.

Após desembarcarmos e pegarmos a mala, Mason me guia até o lado de fora do aeroporto. Ele já estava acostumado com tudo aquilo. Contava-meum pouco sobre a atual mulher do seu pai, Catherine, enquanto arrastávamos asbagagens para a rua.

-Você gosta dela?

Nunca havíamos falado sobre Catherine e me sinto um pouco intrometida com o turbilhão de perguntas.

Nem Tudo São FloresOnde histórias criam vida. Descubra agora