Café quente numa manhã fria como aquela era uma dádiva. O cheiro se espalhava pelo pequeno espaço da cozinha, escapando para a sala e me despertando quase imediatamente.O suspensório era marca registrada do meu avô. Era engraçado como eles combinavam com os óculos de lentes grossas e redondas e o seu ar sutil. Fico o observando enquanto comia alguns sequilhos caseiros acabados de sair do forno.
-Preciso admitir que ainda não gosto dessa ideia- Vovó servia o café em pequenas xícaras coloridas de porcelana.
-Oh, Lucy! Supere- Ele debochou, abraçando-a logo em seguida.
-Não precisa se preocupar, vó. Já sou grandinha, sei me virar sozinha.
Preferiu não continuar. Apreciou o gosto amargo da bebida e a amargura da derrota. Ela se retirou, caminhando em direção ao estreito quintal. Preocupada, segui-la até as margaridas que começavam a murchar.
-Essas já foram- Ela suspirou.
-Acho que sim- Engoli mais um pouco de café- Podemos plantar outras quando eu voltar.
-Claro- Ela abraçou o próprio corpo, aquecendo-se do frio daquele inicio de manhã- Sabe Nina, eu passo boa parte dos meus dias aqui, com todas essas flores. Vejo-as crescer, desabrocharem, e, finalmente, murcharem. É uma beleza tão delicada, sabe? Observo a vida passar tão de pressa. Elas têm sido minha única companhia nesses anos.
-Ora, mas e o vovô?
-Oh, seu avô é uma ótima companhia também- Ela sorriu- E não poderia pedir outra melhor. Mas há coisas que só as flores são capazes de nos fazer compreender.
Não sei se entendi ao certo o que ela quis dizer. Naquele momento, me sinto na necessidade de abraça-la e é o que faço.
-Nina- Vovô apareceu na porta- Aquele garoto, Mason, está te esperando do lado de fora.
-Já estou indo.
Beijei sua testa e ela retribui com um dócil sorriso.
-Está tudo bem?- Perguntei.
-Está sim, querida. E quanto às margaridas, não se preocupe. Em breve, novas estarão por vir e está é a parte boa, de alguma maneira, o ciclo continua.
Assenti com a cabeça e dei-lhe um último abraço antes de partir.
-Nina!- Ela exclamou- Mais uma coisa.
-Sim?
-A vida é o seu jardim, querida. Não deixe-a murchar! O tempo é tão rápido e tão raro, e um dia, você irá olhar e perceber a beleza que cultivou. Mas não deixe que seja tarde demais, está bem?
-Claro.
Vovó suspirou.
-O que eu quero dizer é que você é jovem e espirituosa, então aproveite essa viagem e não deixe que nada a impeça de ser perfeita, promete?
-Eu prometo.
***
Não sabia o quão perto a Inglaterra era da Irlanda até o momento que percebi que nem metade da minha playlist de viagem seria escutada. Menos de duas horas de relógio e nós pousamos, sãos e salvos.
Após desembarcarmos e pegarmos a mala, Mason me guia até o lado de fora do aeroporto. Ele já estava acostumado com tudo aquilo. Contava-meum pouco sobre a atual mulher do seu pai, Catherine, enquanto arrastávamos asbagagens para a rua.
-Você gosta dela?
Nunca havíamos falado sobre Catherine e me sinto um pouco intrometida com o turbilhão de perguntas.
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Nem Tudo São Flores
Teen FictionPor muito tempo, Valentina viu-se obrigada a refugiar-se em seus pensamentos e livros preferidos. Nunca imaginou que o relacionamento conturbado de seus pais pudesse causar-lhe tantas cicatrizes. Numa tentativa desesperada, Nina é mandada para a ca...