Capítulo 10

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Aos poucos, o meu interior era descongelado pelo clima quente e confortável daquela conversa. A risada de Mason era tão gostosa de ouvir, o que me provocava sorrisos bobos todas as vezes. Os flashbacks de infância, histórias constrangedoras da adolescência, enfim, tudo era motivo de riso para nós.

Em algum momento, adquirimos ali uma intimidade mútua, e quando me dou conta, estou com as pernas encolhidas em seu sofá, escondendo a vermelhidão do meu rosto em seu pescoço.

-Eu não te odiava- Falei, já com quase todo o fôlego recuperado- Bem, não exatamente. Você me tirava do sério, isso é um fato. Mas no fundo, acho que gostava da sua companhia.

-Eu podia ser bem chato- Ele sorriu- Mas, acho que fazia isso por que tinha uma paixãozinha secreta por você- Seu rosto cora muito sutilmente, mas ele nem sequer desvia o olhar enquanto admite. Sua mania de encarar diretamente nos olhos em meio a um diálogo era extremamente ameaçadora e demoro a me acostumar com isso- Totalmente superada- Acrescentou rapidamente.

Dei o último gole no meu chocolate quente, sem uma reação muito clara para o que acabara de acontecer. Continuamos o diálogo naturalmente, mas de certa maneira, o que ele disse me abalou. Tento me lembrar de cada memória que dividimos quando pequenos, mas em nenhuma delas há indícios de um sentimento platônico ou coisa do tipo.

-Ei, de onde você conhece Morgana?

-Moxie?- Estranhei o uso do seu nome verdadeiro. Ele confirmou silenciosamente- Foi por acaso- Continuei- Estava caminhando quando encontrei a loja de discos do seu pai. Começamos a sair e viramos amigas.

Quando digo em voz alta, noto o quão aleatório aquilo era. Como, simplesmente, adentro um lugar e faço uma amizade assim? Não parece o tipo de coisa que aconteceria comigo. Mas ultimamente, nada parece muito típico em minha vida.

-Nós estudamos juntos desde pequenos- Mason coloca sua caneca vazia na mesinha de centro e se posiciona novamente, dessa vez, com o braço no encosto do sofá, muito perto do meu pescoço- Mas nunca conversamos muito. Ela andava com a galera alternativa, se autodenominavam Marijuana People e passavam a maior parte do tempo em qualquer lugar que não a sala de aula.

-E você? Deixe-me adivinhar- Virei todo o meu corpo, ficando frente a frente com Mason e o analiso explicitamente- Pertencia ao grupo dos esportistas; futebol, polo, natação ou algo do tipo... Namorava as líderes de torcida, não necessariamente uma de cada vez- A expressão de nojo estava impregnada em minha feição, martirizando uma figura que talvez nem fosse real- E se considerava o ápice daquela escola, ainda que no fundo, não passasse de algo seco e escasso.

Percebi o quão empolgada estava quando finalmente paro de falar, ofegante e um pouco desnorteada. Os olhos do garoto estavam arregalados a me encarar, claramente perplexo e, talvez, um pouco ofendido.

-É isso que pensa de mim?- Ele soltou uma risada debochada- Você está certa quando diz que eu pratico esportes. Realmente jogo futebol, polo, golfe, tênis e alguns outros mais. Mas isso nunca me impediu de ganhar prêmios nas olimpíadas de matemática, química, física e história. Nunca foi o motivo de namorar ou deixar de sair com garota sequer, e mais importante, nunca me tornou um idiota.

A maneira natural e leve com que ele responde faz-me sentir ainda mais culpada. Ser julgadora nunca foi uma característica de minha personalidade. Longe disso! Costumo ter o olhar apurado para esse tipo de coisa, mas com ele era diferente. Não podia lê-lo, e aquilo me enlouquecia. A classe com que respondeu foi uma facada no peito.

-Eu... Mason... Sinto muito- Meu rosto ardia como chamas numa lareira. Eu era pura brasa- Eu não quis ser indelicada. Acho que a sua imagem me deixou confusa. Você tem senso de humor, é bonito e possui o porte atlético... Qual é! Eu assisto filmes! Sei que garotos assim normalmente são os piores.

Nem Tudo São FloresOnde histórias criam vida. Descubra agora