Capítulo 14

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"Oh lady, running down to the riptide

Taken away to the dark side"

(Riptide- Vance Joy)

Estar com Mason era como nadar contra a correnteza. Todas as minhas crenças, esvaídas, como ondas, e eu seguia o caminho oposto. Saber que nunca poderíamos ter o que se chama de relação saudável, ou relação no geral, provocava em mim a vontade violenta de me aventurar naquele caminho escuro e profundo. 'Não poder' era a minha maior motivação. Afinal, quanto mais proibido nos é, mais divertido se torna. Não diria estar apaixonada, cheguei a essa conclusão após uma longa reflexão filosófica intrapessoal (e desesperada) na solidão do meu quarto. Aquele friozinho na barriga nada mais era que espasmos provocados pela sensação de "proibido". Não era paixão. Se fosse, eu saberia. Na dúvida, prefiro acreditar não ser. Isso porque não sou o tipo de pessoa que permite apaixonar-se. Não gosto de me sentir cravada numa única pessoa ou rumo.

Já que não poderia encontrar as respostas para meus questionamentos numa ciência exata, busco pelo lado astrológico da coisa. Posso ouvir quase claramente a voz de Moxie, monologando sobre isso estar ligado ao meu mapa... astral?

Ela havia montado todo o mapa para mim, apesar de eu sequer saber como interpreta-lo. Pesquisando um pouco, acredito que a minha indiferença e explosão constante esteja relacionado com o meu ascendente ariano. Ainda não tenho certeza se gosto disso. Era assustador me ver descrita numa folha de papel, através de símbolos e planetas, onde eu era exposta e despida.

Contra minha vontade, decido abrir-me com Moxie, única e exclusivamente para tê-la como testemunha caso enlouquecesse. Ela me observava silenciosamente enquanto tentava explicar-me.

-Qual o problema de apaixonar-se, Nina? Por que tem medo?

-Não tenho medo!- Bati o pé, como uma criança mimada faria- Apenas não quero...

-Diga-me um motivo. Mas tem que ser convincente!

-Não quero e pronto. Não há motivo melhor que esse.

-Áries e touro num só mapa astral- Ela disse baixinho, revirando os olhos- Não me admira tamanha teimosia...

-Oh, nem comece! Não tente me confundir com essa conversa sobre signos- Chacoalhei as mãos, agoniada.

Moxie apenas riu. Em seu lugar, creio que faria o mesmo. Eu estava um caos e seria bem engraçado se não fosse trágico.

-Eu não estou apaixonada, tudo bem? Vamos deixar isso bem claro. Não vou compara-lo com um dia de verão ou algo do tipo. Apenas... gosto da sua presença. De uma forma estranha, mas gosto.

A garota de cabelos azuis me analisa e eu não consigo identificar seus pensamentos exatos. Aquela era a primeira vez que ela havia estado em meu quarto, que agora já parecia realmente meu.

É uma fase, repetia internamente. Sei que era. Aconteceu uma vez, na sétima série, quando ainda costumava sair com um grupo extenso de amigos. Após aquela época onde meninos e meninas vivem separados por um muro de concreto imaginário, que é derrubado por uma coisinha chamada "tensão sexual", e começamos a experimentar novas sensações, tive o meu primeiro melhor amigo. Ele era razoavelmente bonito, se comparado à maioria das pessoas aos treze anos, e me entendia como ninguém. Comecei a confundir a amizade com o sexo oposto e o algo a mais. Após alguns meses, finalmente superei. Isso não impediu que ficássemos uma vez no primeiro ano do ensino médio, mas não vem ao caso.

Nem Tudo São FloresOnde histórias criam vida. Descubra agora