Capítulo 7

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Aparentemente, aquela não era a época do ano mais propensa para se conseguir um emprego. Ou talvez fosse apenas falta de sorte. Rodando desnorteada por lojinhas, cafés e até pubs próximos, consegui duas ou três ofertas nada convidativas e uma passada de mão muito desconfortável do dono de um barzinho nada atrativo. Cogitei até mesmo a possibilidade de trabalhar junto à Moxie na loja do seu pai, mas com a movimentação atual, duas funcionárias seria um número alto demais.

Mando uma mensagem para ela, de qualquer maneira, considerando que a minha busca havia finalizado. Quem sabe ela soubesse alguma livraria ou biblioteca que estivesse contratando. Não seria uma ideia ruim estar cercada de livros. De certa maneira, eles me confortam. Há quem diga que se você fizer completo silêncio, é possível ouvi-los sussurrar. Talvez isso seja loucura, ou talvez, loucura seja não deixa-los falar.

Moxie me responde alguns minutos depois, combinando de me encontrar em frente à casa dos meus avós. Cheguei cerca de cinco minutos antes dela. Sentamos na calçada fria e áspera, encarando um ponto fixo aleatório em silêncio absoluto. O vento soprava nossos cabelos para longe, embaraçando os fios leves e sedosos do meu.

Uma figura começa a se formar atrás da neblina espessa ao final da rua, tomando forma aos poucos. Era Mason. Suas mãos estavam guardadas no bolso da calça e ele parecia meio aéreo. Nossos olhares se cruzam acidentalmente e ele acena educadamente. Eu sorri em retribuição, ainda um pouco avulsa.

-Você o conhece?- Moxie perguntou em tom cínico- Poxa, você é rápida!

-Não, não! Não é o que você está pensando!- Acrescentei rapidamente- Ele é neto da minha vizinha, Margot. Nós costumávamos brincar quando erámos pequenos e nos encontramos recentemente. Apenas isso.

-Muito bem. Mason é o clássico escorpiano...

-Você o conhece?- Retruquei- E o que quis dizer com "clássico escorpiano"?

Ela suspirou, procurando, provavelmente, as palavras certas a serem utilizadas.

-Mason ama como as estações do ano. Seu amor é efêmero, passageiro. Ele a conhece e ambos se envolvem cem por cento na relação. Aproveitam e vivem intensamente cada instante. Mas como cada fase de um ano, é finito. E a cada nova estação, ele busca um alguém para se apaixonar- Ela disse muito orgulhosa da própria analogia.

-Isso é saudável?

-Nem um pouco- Balançou a cabeça- Mas está enraizado em si. O conheço desde o jardim de infância, apesar de nunca termos sido próximos. O garoto teve mais namoradas do que eu tive F's no meu boletim. E acredite, foram muitos! Mas não posso tirar a honra do seu coração, é um bom menino. Muito simpático e atencioso, principalmente com a família. Apenas joga de maneira equivocada...

Os cabelos azuis de Moxie eram levados pela ventania, ainda que a mesma tentasse freneticamente mantê-los imóveis. Já num ápice de impaciência, levantou-se e ajeitou o cachecol que envolvia seu pescoço.

-Não podemos ficar paradas aqui, está escurecendo e esfriando. Mas acho que tenho o lugar ideal.

Pegamos um ônibus e deixo que a garota de cabelos azuis me guie por onde quer que fossemos. Já não sentia mais medo, na verdade, era prazerosa a sensação de sentir-me liberta.

-Onde estamos?- Gritei quando descemos do ônibus, abafada por uma barulheira infindável.

-Estamos no Soho- Ela prendeu as mexas esvoaçantes num coque alto- Já ouviu falar?

-Não muito- Tentei desviar ao máximo do aglomerado de jovens que passavam por nós.

Conseguimos finalmente abandonar a multidão.

Nem Tudo São FloresOnde histórias criam vida. Descubra agora