Prólogo

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      O palpitar de um coração era instaurado com uma maior intensidade, se deparar com a dor trazia a Ester um sentimento nostálgico. Porém, desta vez, a culpa a consumia por completo, como se nada no mundo fosse capaz de tirá-la das trevas.

     A recente morte do pai havia abalado a garota de todas as formas. Ester haveria de admitir que, nos últimos anos, nunca poderia ser designada como uma boa filha, pelo contrário, olhando agora conseguia ver que havia causado a mais ardente dor em seu pai.

     A cada lágrima derramada o sentimento de sofrimento fazia parte da mesma, suas mãos tremiam num movimento inexplicável enquanto segurava a tal carta. No momento não havia mais ninguém, apenas ela e seus pensamentos profundos. A cada sílaba lida seu coração se retraía, e mesmo que tentasse esquecer, as palavras ecoavam em sua mente.

     "Querida Ester,

     Todos esses anos intercedi pela sua vida, e apesar de você achar que não sempre vi a luz dentro de você, espero que também a encontre. Após a ida da sua mãe sei como foi difícil para você, também sofri, mas você acabou lidando de uma forma diferente com a dor, mesmo assim não te julgo, você era apenas uma criança e imagino como deve ter difícil conviver sem o calor materno.

     Saiba que o Espirito Santo chora por ti, Deus te ama tanto e todo esse tempo, mesmo estando longe, Ele tem te guardado. Na hora certa sei que você se renderá a Ele, pois você é uma escolhida. Mesmo se achar que está sozinha, que tudo está perdido, Ele estará contigo.

     Mesmo se achar que já é tarde demais, que não é merecedora desse amor, saiba que Ele está de braços abertos para te receber. Basta dar o primeiro passo. Saiba que te amo muito, sei que cuidará bem de Mattew.

     Com amor, seu pai. "

     Era inevitável não se emocionar diante de tal situação, durante anos Ester se entregou totalmente aos desejos do mundo, esquecendo verdadeiramente qual era o sentido de ter uma família. Mas nem sempre foi assim, a pobre moça se rendeu a revolta após o desaparecimento misterioso de sua mãe, pelo qual se questionou durante anos. Ester não havia sido uma boa filha, e só se deparando com o falecimento da pessoa mais importante em sua vida, seu pai, veio a perceber que nada do que vivera nesse período havia valido a pena. A garota se sentia vazia, havia um buraco em seu coração que insistia em vir à tona.

     No momento seus pensamentos vagavam para longe, focando em seu pequeno irmão. Foi extremamente difícil explicar para o mesmo a situação que ambos se encontravam agora, e todo amor em favor de Mattew que Ester não havia proferido veio a aparecer nos últimos instantes, como se algo em seu interior viesse a surgir de uma forma inesperada. E, de certa forma, a garota se agradava disso, afinal de contas haveria de ser responsável, agora seria somente ela e o pequeno Matt.

— O papai não vai voltar, Sté? — indagou o mesmo.

— Não, meu amor. Mas ele está num lugar melhor agora. — diz, tentado controlar-se.

— Então ninguém mais vai me fazer domi? — questiona, com uma lágrima minúscula se formando nos olhos.

— Ei, eu estou aqui. Não se preocupe, vou te fazer dormir todos os dias. — diz, confortando o pequeno. Como forma de cumprir a promessa a garota leva o irmão ao quarto, até que o mesmo cai em um sono profundo.

     Voltando a solidão as mesmas palavras permeavam na mente de Ester, "Sempre vi a luz dentro de você, espero que também a encontre". A questão era: Como encontrar essa luz? A confusão intensa se instaurava cada vez mais em sua mente, trazendo dúvidas a seu coração. Será que esse Deus era mesmo tudo o que diziam? Será que Ele poderia tirá-la das trevas? Será que Ele realmente a amava como seu pai dizia? Ester não sabia, estava completamente perdida. Mas com uma lembrança distante recordou-se dos momentos em que seu pai orava, e como se sua vida dependesse daquilo ajoelhou-se e fez o mesmo.

— Deus, eu realmente não sei como fazer isso, mas... eu sei que Você pode me ouvir. Eu estou perdida, me sinto vazia e é como se nada fosse me livrar disso. Meu pai disse que Você me ama, por favor Deus me mostre o Seu amor, eu quero senti-lo assim como meu pai o sentia, e eu quero amá-Lo, assim como ele Te amou. Eu... eu não tenho nada a te oferecer, somente o meu coração. Me leve à luz, eu realmente quero encontrá-la. Eu te clamo de toda a minha alma, não quero ser a mesma, não quero voltar para aquele mundo perverso. Não quero encontrar a felicidade apenas por momentos assim como acontecia lá, quero me alegrar em Tua presença, eu quero Te conhecer. Me perdoa, por favor, eu não queria te magoar... sei que você não se agradava daquilo, mas eu nunca mais voltarei para lá. Eu preciso do Teu perdão, Deus. Eu preciso de Ti, venha ao meu encontro. Me entrego totalmente a ti... — clama.

     Num piscar de olhos um vento cortante invade o local, trazendo algo novo a coração de Ester. No momento, mesmo sem querer, a garota chorava compulsivamente, mas não era por tristeza, algo novo a consumia por completo, algo na qual nunca havia sentido antes. Como num flashback inúmeras lembranças percorrem a mente da garota, todos os momentos de tristeza, ou até mesmo nos quais a mesma tentava encontrar felicidade Ester conseguia ver que Deus sempre esteve com ela, mesmo se sentindo sozinha Ele estava ao seu lado, até mesmo quando não O agravava, Ele sempre esteve ali, guardando-a.

     Ester havia sentido o amor de Deus queimar em seu coração, como se não houvesse mais nada naquele momento. A partir dali tudo mudou, pois, a presença de Deus se instaurava em sua vida.

     A garota havia conhecido a Verdade, e Ela a libertou. Finalmente a luz havia resplandecido em sua vida. 

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