Capítulo 2

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     Pavor. Surpresa. Confusão. Tais palavras são o que mais me definem no momento em que me deparo com a pessoa à minha frente.

— Nathan? O que está fazendo aqui? Achei que... — balbucio, ainda sem acreditar.

— Que eu havia morrido? Eu sei que deve estar sendo difícil para você entender... Bom, que esteja aqui, vivo. — profere, como se procurasse palavras para explicar tal situação.

— Eu não... Como? Todos me disseram que você estava morto. Eu não consigo acreditar! — exclamo, ainda estática. Nathan e eu nos conhecemos há três anos atrás numa festa entre amigos, a partir daí passamos a nos aproximar mais, até que constituímos um relacionamento.

     Uma certa noite Nathan havia ido me buscar num lugar na qual não me recordo, por conta da embriaguez, no meio do percurso de volta o mesmo recebeu uma ligação, o semblante na qual pertencia a ele naquele momento revelava a precariedade da situação. Eu, no entanto, não compreendia coisa alguma, tudo que me recordo é de sua voz grave, carregada de preocupação.

— Ei, fique calmo, okay? Vai ficar tudo bem! Já estou indo, não tome nenhuma decisão precipitada. — dizia, apertando cada vez mais o pé no acelerador.

     Sem despedidas Nathan me deixou em casa e partiu rápido como um furacão, essa era a última lembrança que tinha dele, o que de certa forma me deixou arrasada, porque tudo que recordava se constituía em minha visão turva causada pela bebida. No dia seguinte meu mundo desmoronou, sem dar muitas explicações chegou até mim a notícia de que ele havia morrido. Por dias me tranquei em meu mundo sombrio, nem meu pai era capaz de me tirar daquela situação.

     Sou despedida de tais pensamentos quando a sua voz grave e serena invade os meus ouvidos.

— Aconteceu tanta coisa, Ester. — suspira profundamente.

— Tenho todo o tempo do mundo. Eu realmente quero entender tudo isso, Nath. — afirmo. — Se você não morreu, o que fez todo esse tempo? — indago e ele suspira, mapeando o lugar com os olhos, como forma de se certificar de que ninguém nos observava.

     Hoje já superei tudo isso e não sinto mais nada por Nathan, desde que encontrei meu caminho em Deus as demais coisas se tornaram apenas um detalhe, passei a deixar para trás aquilo que deveria realmente ser esquecido.

— Como você já sabe naquela noite me envolvi numa confusão por causa de Adam. No início pensei que era algo sem importância — suspira. —, mas não, meu irmão havia se envolvido com uma grande corporação. Bom, a corporação se chama Société, eles buscavam por algumas informações sigilosas da polícia local. Parece algo bem tosco, eu sei, mas era de grande valor para a instituição. Como forma de conseguir o que queriam eles infiltraram Adam nessa missão, em troca de uma boa quantia em dinheiro. — seu semblante ganhava uma expressão séria, fazendo-me prestar atenção em cada uma de suas palavras.

— E ele não conseguiu? — indago, exalando curiosidade.

— Conseguiu. Mas Adam não foi cuidadoso o suficiente, e isso levou um dos policiais  a descobrir tudo, como uma consequência para o erro do meu irmão a Société ordenou que ele matasse esse indivíduo. — Adam não sabia no que estava se metendo, não entendia nada, tudo que fez fora por conta do dinheiro. E foi por conta disso que ele negou a ordem, mas é claro que aquilo não iria ficar assim tão fácil. Por isso me ligaram aquela noite, eles iam matar a todos de minha família por causa disso, mas voltaram atrás com uma nova proposta. Quando cheguei no lugar esperado lá estava Adam, exalando medo e vergonha. — abaixa o olhar.

— E que proposta era essa, Nathan? — questiono, com um tanto de receio.

— No momento em que cheguei um homem alto e engravatado me recebeu, não pense que foi algo positivo, tudo que tinha vontade era de socar aquela cara sínica dele. — faz uma pausa, como se recorda-se do momento. — Bom, ele enrolou, e enrolou, e enrolou, até que finalmente falou o que queria. Ele disse que me observavam havia muito tempo, analisando todas as minhas habilidades, e como Adam estragou toda a operação eles propuseram que fosse feito uma troca. — levanta o olhar até mim.

— E que troca foi essa?

— Que eu ficasse no lugar de Adam, trabalhando para a corporação. Naquele momento eu não sabia o que fazer, sabia que o trabalho que iria prestar a eles não era algo bom — balança a cabeça negativamente. —, mas a vida da minha família estava em jogo, tudo estava nas minhas mãos. E foi então que aceitei, era minha única saída. A única saída para todos. — suspira.

— Céus, Nath! Isso nunca iria passar pela minha cabeça. Meu Deus, você deve ter sofrido tanto. — seguro sua mão.

— Eu sofri, sofri como nunca havia sofrido antes. Tive que forjar minha própria morte até mesmo para minha família, somente Adam sabia de tudo. — afirma. — Não me orgulho de muitas coisas que fiz enquanto estava lá. — diz, cabisbaixo.

— Ei, não fique assim. Você não tinha escolha, fez o que qualquer um faria em seu lugar. — conforto-o.

— Apesar de tudo que passei, tenho que admitir que tive contato com muitas coisas positivas. A Société tem uma tecnologia muito avançada, isso pode ser utilizado para algo bom, entende? Isso poderia salvar milhares de vidas, mas ninguém sabe da existência. Se isso cair nas mãos erradas... não consigo nem imaginar. — afirma.

— Uou, isso tudo é muito difícil de absorver. — faço uma pausa. — Espere, se isso tudo era uma troca, então por que você voltou? — arqueio as sobrancelhas, confusa.

— Bom, eles disseram que com todo o trabalho que prestei minha dívida estava paga. Você não sabe o quanto estou feliz de estar de volta, saber que todos que eu amo achavam que eu estava morto era complicado.

— Imagino o quanto deve ter sido difícil, mas agora você está aqui, Nath. — digo, pausadamente.

— Você está bem diferente. — analisa. — E quem diria que finalmente iria arrumar um emprego, não é? — gargalha.

— Ei, eu mudei bastante, está bem? Não imagina o quanto. — contesto, sorrindo. — Espere, como você ficou sabendo que trabalho aqui?

— Bom, depois de todo esse tempo trabalhando para uma corporação secreta obviamente aprendemos algo, não é? — brinca. — Tudo bem, digamos que aquele seu amigo tenha me dado uma ajudinha. — diz e eu gargalho.

     Por toda a tarde permanecemos em meios aos risos, passamos a colocar todo o assunto em dia. Lhe contei sobre meu pai e o quanto mudei após sua morte, sobre o quanto Lucca tem me ajudado em todo esse tempo, do vínculo que havia sido criado entre Mattew e eu, e do quanto Deus tem me guiado todo esse tempo.

     Nathan manteve uma certa restrição em relação a seus feitos na corporação, apesar disso não irei pressioná-lo.

     O que mais me admira é o quanto Nath foi compreensivo em relação a nós, e que mesmo que tenhamos mudado durante esse período acabamos por não perder nossa essência.

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