14/12/2018

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A noite ontem foi tranquila. Tive receio pelo local aparentar ser vulnerável a possíveis ataques e admito que já esteja ficando paranoico com isso, não só com os zumbis mas agora também com as pessoas.

Edinho revezou a vigia com Barbara enquanto eu tirei a noite de folga para descansar, não pedi por isso mas fiquei contente por terem feito este favor a mim.

Quando acordei era Barbara quem estava de vigia e conversamos um pouco antes que Edinho acordasse, o que não demorou muito a acontecer. Ele estava mais ansioso que o de costume para dar uma olhada naquela cidade e não queria perder tempo.

Comemos antes de sair e Edinho nos avisou que pretendia ir a pé até a cidade. Eu a principio recusei, apesar da cidade não está tão longe daqui a caminhada também não seria tão pequena, perderíamos tempo com isso. Barbara completou lembrando que perderíamos mais tempo ainda tendo que voltar até o posto pra retomar o carro, além da dificuldade de fugirmos em caso de uma emergência.

Edinho ainda assim continuou relutante e a seu favor usou o argumento de que perderíamos o elemento surpresa caso fôssemos de carro e apesar de eu achar que a cidade tem muito mais poder de nos surpreender do que nós a ela ainda assim acabei cedendo a ideia dele.

Edinho disse que tem um pressentimento de que encontraremos respostas pras nossas perguntas nesta cidade e demonstra estar muito convicto disto. Eu não costumo acreditar em superstições ou coisas do tipo só que confio bastante nas decisões de Edinho e ele não costuma errar, então vamos nessa.

Caminhamos por cerca de 40 minutos até alcançar as primeiras ruas da cidade e usamos acessos periféricos ao invés de passarmos pela entrada principal. Edinho passou a sentir a perna doer depois de uns 30 minutos de caminhada o que fez Barbara questioná-lo sobre sua ideia, e sobre seu estado de saúde.

Edinho mesmo mancando negou que fosse algo sério ao ponto de fazê-lo parar e eu não sabia se ele estava se fazendo de durão ou apenas não queria dar o braço a torcer, mas de qualquer forma acatei o que ele falou e seguimos caminho.

Eu trouxe comigo o arco e flecha que já não usava fazia tempo e como Edinho quer ser discreto considerei ser a melhor hora para voltar a praticar. Também carrego comigo minha lamina de sempre e cada um de nós leva uma pistola. Não temos mais tanta munição assim então devemos poupar pra situações criticas, o que eu espero não enfrentar desta vez.

Não trouxemos roupas extras, nem muitos suprimentos ou sequer todas as mochilas. Muito do nosso material ficou escondido no posto junto com o carro, fizemos isto para diminuir o peso extra que seria desnecessário para o que viemos fazer.

As primeiras ruas que olhamos na cidade estavam vazias, sem zumbis ou carros abandonados e de certa forma mais limpas que o habitual. Era estranho ver um local assim mas as coisas foram mudando assim que continuávamos a avançar.

As primeiras marcas de tiros foram surgindo nas paredes junto com manchas velhas de sangue. Uma casa queimada nos chamou atenção e depois de caminharmos mais alguns metros vimos que mais a frente um quarteirão quase inteiro foi reduzido quase totalmente a cinzas e aquilo começou a nos assustar.

Passamos a nos perguntar o que havia acontecido ali, o incêndio que causou aquela destruição foi intencional ou não? E se foi intencional, ocorreu enquanto as pessoas tentavam conter os infectados ou foi um ataque posterior?

Passamos a nos preocupar com o que poderíamos encontrar por ali e até o momento só tínhamos mais perguntas ao invés de acharmos as respostas que Edinho queria.

Deixamos o quarteirão queimado para trás e caímos no que deveria ser umas das vias principais da cidade. Logo que chegamos nela vimos um carro cravejado de balas batido contra um poste e mais a frente mais alguns carros abandonados, só que nem um sinal de vida ou de mortos-vivos.

Caminhamos mais alguns metros e após passarmos do carro batido no poste, Barbara enxergou alguma coisa.

- Tem alguém ali. – Ela disse chamando nossa atenção. – No beco. Tem alguém ali.

- Você tem certeza? – Perguntei e antes que Barbara respondesse Edinho saiu em disparada em direção ao beco.

Mesmo mancando ele foi rápido ao chegar lá e a única coisa que pude fazer foi segui-lo junto com Barbara. Corremos pra dentro de beco que se dividia em duas direções, Edinho seguiu à esquerda e Barbara foi atrás enquanto eu parei pra olhar pros dois lados.

Como não vi nada a direita eu corri para alcançá-los e eles já estavam parados mais a frente.

- Não tem nada aqui. – Edinho disse ofegante e Barbara olhava para todos os lados procurando o que diabos tinha chamado sua atenção.

O beco por fora parecia ser pequeno mas se bifurcava em vários outros becos formando quase um labirinto. Tínhamos mais caminho a percorrer pela frente e seguimos mais cautelosos desta vez. Edinho estava à frente junto comigo e Barbara andava mais atrás ainda confusa e não acreditando que havia sido enganada pelos seus olhos.

Passamos por mais uma bifurcação do beco que seguia a esquerda numa passagem estreita onde Edinho e eu decidimos seguir em frente, mas Barbara parou.

- Ali! Eu vi de novo. Tem alguém ali! – Barbara falou e correu pra dentro da bifurcação estreita.

- Barbara! – Gritei para evitar que ela fosse mas não adiantou.

Edinho se esforçou para correr atrás dela e eu fiquei na entrada desta nova passagem esperando que os dois voltassem. Próximo ao meio do beco Barbara encontrou uma porta e a abriu e eu só pude ver quando Edinho se jogou sobre ela tentando fechar a porta novamente.

Eu não entendi o que havia acontecido e estava pronto para correr até eles quando ouvi o som de grunhidos vindo da parte do beco por onde tínhamos passado. Os sons estavam ficando cada vez mais fortes e eu não perdi mais tempo. Corri a todo vapor em direção a eles e os mandando correr.

Barbara soltou a porta e correu mas Edinho continuou a empurrar seu corpo contra a porta se esforçando para mantê-la fechada e eu gritei mais uma vez para que ele corresse. Quando eu estava quase o alcançando ele soltou a porta que se abriu violentamente e dela vários zumbis começaram a sair.

Acelerei mais ainda os passos e com o arco na mão acertei os dois primeiros zumbis que apareceram. Imprensei-me pelo canto do beco e consegui passar com dificuldades quase sendo alcançados pelos mordedores. Vários zumbis começaram a inundar o beco e estávamos ficando sem opções do que fazer.

Ajudei Edinho a correr e tive medo que de ele não conseguisse mais agüentar o ritmo, precisávamos sair dali o mais rápido possível. Barbara pegou o caminho a direita no fim do beco e nós a seguimos. Corremos por lá mas logo nos demos de cara com um portão de ferro que trancava a passagem. O portão era alto de mais para pularmos e não estava cedendo aos nossos empurrões.

Edinho sacou a pistola e se preparou para atirar nas dobradiças do portão e eu o impedi.

- Você não pode atirar. Essa merda aqui é uma armadilha, se você atirar o barulho vai atrair ainda mais zumbis pra cima de nós.

Edinho tirou minha mão de cima da arma e respondeu: - Se não passarmos por esse portão não precisará aparecer mais zumbis, estes ai mesmo vão nos devorar.

Quando Edinho terminou de falar foi Barbara quem não perdeu tempo e disparou com tudo no portão, que balançou mas ainda não cedeu. Edinho se preparou para atirar também e eu me virei para proteger nossa retaguarda. Atirei com o arco e flecha nos primeiros dois zumbis que dobraram no beco enquanto mais disparos eram feitos contra o portão que caiu logo depois.

Dali o beco dava a cesso a rua e foi pra onde corremos. Alcançamos a rua e nem tivemos tempo de ficarmos felizes de ter saído daquele inferno já que estávamos cercados de qualquer maneira. A rua estava tomada de zumbis pelos dois lados e a única coisa que pudemos fazer foi correr para uma loja que tinha a nossa frente.

A entrada da loja era de vidro e Edinho disparou contra ela enquanto corríamos, entramos o mais rápido possível mas não sabíamos mais o que fazer lá dentro. Olhamos em todas as direções procurando alguma saída quando ouvimos uma voz pelo rádio comunicador na minha bolsa.

- Tem uma porta nos fundos da loja no lado esquerdo. Uma saída de emergência. – Dizia a voz. – Vão e saiam por lá. AGORA!

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