21/12/2018

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Acordei antes de Barbara hoje, na verdade eu nem dormi, então nem posso dizer bem que acordei. Fui até a cozinha fazer um pouco de café e alguns raios solares do amanhecer penetravam timidamente por parte do forro caído da cozinha.

Fiz um café bem forte e tomei enquanto comia uma das barras de cereais. Vasculhei pelas bolsas para verificar o que havia sobrado para nós e encontrei uma caixa com mais 12 barras, uma caixa de cereais, duas de aveia, duas garrafas com arroz e feijão, uma lata de pêssego, três de sardinha e dois refrigerantes em lata. Comparado ao que tínhamos isso não é quase nada, precisaremos racionar ou encontrar mais coisas rapidamente.

Em uma das mochilas encontrei também mais um pente de munição da 92 FS, vai completar as 5 munições que sobraram na arma. Esta foi a última que nos restou.

Caminhei pela casa para passar o tempo e também tentar a sorte de encontrar algo interessante, mas não tive sucesso. Espiei a rua a nossa frente pelas persianas da sala mas também não vi nada que chamasse atenção. Me sentei à poltrona da sala e após passado mais de uma hora desde que levantei da cama, Barbara acordou.

Ela foi até a cozinha antes de vir até mim e pôs o café para esquentar. Eu a observei por cima do balcão e ela só me olhou minutos depois quando decidiu sentar-se a mesa para apreciar o café.

Nossos olhares se cruzaram e nos observamos, encarando um o outro, por uns bons momentos até ela sorrir de leve e me fazer levantar, mas eu não fui doce como ela deve ter esperado que eu seria.

- Quando você terminar vamos nos aprontar para partir. – Falei seguindo em direção ao quarto.

Já no quarto, eu troquei de camisa enquanto Barbara terminava seu café. Peguei a pistola ao lado da cama e troquei a munição pelo pente carregado, a coloquei na parte de trás da cintura e com duas das bolsas em mãos saí de lá.

Esperei na sala enquanto Barbara se aprontava e espiei pela janela mais uma vez para ter certeza que a rua estava livre. Barbara na demorou e logo veio pelo corredor com a última das bolsas nas costas e trazendo meu arco e o estojo de flechas na mão.

- Pensei que não largasse isso. – Ela disse estendo o arco para que eu pegasse.

- Eu não esqueci, mas obrigado. Podemos ir?

- E pra onde vamos?

- Acho que o primeiro passo é encontrar um carro. Ficar andando a pé por aí não me parece uma boa idéia.

Barbara assentiu com a cabeça e logo estávamos retirando parte da barricada do portão para termos acesso a rua. Caminhamos lentamente e com todos os sentidos em alerta para tudo a nossa volta. Vimos alguns carros espalhados pela rua como de costume mas nenhum deles em estado de uso.

Alguns minutos de caminhada e unas duas ruas mais a frente, Barbara puxou assunto.

- Me desculpa pelo lance do carro, ok?

- Sem problemas. Mas o que foi que aconteceu lá?

- Felipe não gostou de você apontando a arma para ele. E quando ele viu que seu tio tinha sido mordido ele meio que sabia o que iria acontecer.

- Como assim?

- Ele disse que já estava acostumado a ver como as pessoas reagem ao perder alguém próximo e disse que isso mexeria muito com você, com a sua cabeça.

Apenas assenti com a cabeça e Barbara continuou.

- Ele considerava que você se tornaria uma ameaça pra ele, então decidiu partir. Me chamou para ir com ele mas eu recusei. – Ela deu uma leve pausa para ajeitar a mochila nas costas. – Eu até pensei em reagir e evitar que ele partisse, mas ele estava com a sua em mãos e me rendeu antes que eu tentasse qualquer coisa.

- A culpa foi minha então. Eu que teria de me desculpar, não você.

- A culpa não é de ninguém. Simplesmente foi uma situação que aconteceu e estava fora do nosso alcance controlá-la.

- Que seja. Mas é bom que ele reze pra ter a sorte de não nos esbarramos de novo por aí.

Um pouco mais a frente nos deparamos com o primeiro zumbi desde que saímos da casa. Ele estava distante e ainda não havia nos visto, Barbara quem avisou sobre a presença dele. Eu larguei as bolsas no chão para me preparar para disparar com o arco, também poderia ter me aproximado e usado a faca mas eu não queria arriscar caso aparecessem mais, além de poder por a mira em dia.

Dei uns passos a frente para ficar bem alinhado na direção certa e lancei a primeira flecha que acertou o ombro do zumbi.

- Você não é tão bom quanto eu pensava. – Barbara ironizou.

- Ele está longe. – Falei enquanto preparava o segundo disparo.

- Sei... – Ela respondeu com o mesmo tom irônico da primeira vez.

O zumbi virou em nossa direção ao perceber nossa presença e assim que ele começou a caminhar eu lancei a segunda flecha, dessa vez acertando seu pescoço.

- Terceira e última tentativa. – Barbara falou como se fosse a apresentadora de um talk show.

- Tá bom. Se você quer me zoar por que não tenta então?

- Ok. Passa pra cá.

Eu então lhe entreguei o arco e uma flecha e Barbara se colocou em posição pro disparo. Enquanto isso o zumbi voltara a caminhar para cima de nós.

- Preciso de instruções rápidas. – Ela falou enquanto tentava ajeitar a flecha

- Eu pensei que você era a mestre nisso.

- E eu acho que você tá com medo de me dar às dicas porque eu vou atirar melhor que você.

- Tudo bem. – Disse rindo da ousadia dela. – Pés paralelos, coloca a flecha na corda e levanta o arco na direção dele.

- Tá. E agora?

- Dedo indicador por cima da flecha, médio e anular por baixo.

- Tá. – Barbara dizia enquanto seguia rigorosamente as instruções.

- Traciona a corda.

Ela fechou um dos olhos na intenção de mirar mas eu a corrigi. Tocando o dedo indicador levemente no seu rosto falei: - Os dois olhos abertos.

Ela me ouviu e abriu os dois olhos, tracionou a corda.

- Levanta mais o cotovelo, alinha na altura da flecha. – Falei dando o último toque.

- Pronto?

- Sim. Põe ele na mira e puxa a corda até sua mão encostar na bochecha.

Barbara fez tudo conforme eu falei e quando o zumbi já estava a cerca de 10 metros de nós, ela disparou.

Dei uma gargalhada quando vi que a flecha nem sequer acertou o corpo do zumbi.

- Você quem vai buscar a flecha. – Falei enquanto sorria.

A essa altura o zumbi já estava perto de mais de nós para deixá-la ela arriscar outro tiro, então saquei a faca e corri em sua direção, o acertando bem acima da orelha. Tirava as minhas duas flechas do corpo do mordedor enquanto Barbara remoia.

- Não é justo, você me ensinou errado de propósito.

- Parece que alguém aqui não é tão bom com o arco como achava que seria. – Ela estirou o dedo pra mim, com um sorriso mordendo os lábios inferiores, assim que terminei de falar.

Não foi um gesto agressivo, é só o jeito maluco dela de se expressar.

- Vem. – Falei a chamando com a mão. – é você quem vai buscar minha outra flecha.

Diário de Um SobreviventeOnde histórias criam vida. Descubra agora