01/01/2019

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As palavras de Frank ontem caíram como bombas na minha cabeça e me fizeram refletir bastante durante o passar o dia. Já faz tempo que eu venho agindo como um imbecil e eu fico culpando minhas perdas mas a verdade é que boa parte da culpa é minha. Eu não venho fazendo nada para me conter, para mudar, para voltar a agir como eu deveria.

Minha vida ultimamente veio rodando ladeira abaixo e eu simplesmente fiquei passivo olhando tudo acontecer e me tornei cúmplice disto. E quanto mais as perdas me atingiam, mais eu me distanciava daquilo que deveria ser e tudo foi se tornando uma grande bola de neve.

Eu me arrependo de muitas atitudes que tomei mas ficar se lamentando ou zangando-se à toa não vai resolver nada, já está mais do que na hora de eu deixar minhas birras de menino para trás. E de fato são as circunstâncias que te transformavam naquilo que você precisa ser, as circunstancias atuais estão me obrigando a mudar e é isso que preciso fazer.

Pela primeira vez em semanas um dia em silêncio me trouxe mais respostas do que perguntas.

Pensei muito não só no que o Frank disse ontem, mas também em quem é o Frank e nas razões que ele tem para fazer tudo o que está fazendo. Eu sei que não é fácil compreender alguém, ainda mais uma pessoa com quem você não tem tanto contato mas visto a situação que nos encontramos eu sinto que posso começar a conseguir entendê-lo, e isso é bom.

Ele disse que sofreu perdas e que tiraram algo dele, eu acredito nisso. E sei que se fosse comigo com certeza seria um assunto no qual eu não iria querer tocar. Talvez eu saiba como lidar com ele e só não o fiz ainda por pura ignorância.

Depois da conversa à mesa que tive com Frank ontem eu voltei para o quarto e não saí de lá mais, até hoje de manhã, que foi quando eu voltei a conversar com ele. Logo que cheguei à sala o vi sentando-se numa velha poltrona próxima a janela.

- Bom que acordou. – Frank disse assim que me viu. – Eu trouxe algo para você. – Ele se levantou e foi até a cozinha.

- Você esteve lá fora? – Perguntei antes que Frank voltasse.

- Estive sim e te trouxe isto para fazer as pazes e compensar a preguiça que peguei de você. – Ele disse trazendo um pequeno macaco morto em mãos. – Não é tão grande quanto a preguiça mas pelo menos é carne.

- Valeu.

- Não se preocupe eu sei como fazer parecer delicioso, mesmo que não aparente assim de cara. – Frank disse levando o macaco de volta pra cozinha.

- Você foi lá fora só por causa disso?

- Não. Na verdade eu fui ver se encontrava algum rastro do grupo de buscas perto daqui, mas não encontrei nada.

- Entendi.

- Isso é bom. Quer dizer que sua amiga guardou segredo sobre você, isso quer dizer que ela está viva.

- Como pode ter certeza disso?

- Eles não matam as pessoas que capturam, principalmente mulheres. Não posso dizer que ela está a salvo, mas posso garantir que ela está viva.

- Ainda podemos alcançá-los?

- Eu não quero me admirar mas você está parecendo bem calmo visto suas últimas atitudes, é algo que preciso desconfiar? – Frank disse jogando verde.

- Você acertou em achar que eu não sou um imbecil, tá bem? Eu pensei em tudo no que você disse ontem e eu sei que estive tomando atitudes erradas então estou tentando mudar isto.

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