Fizemos o que foi decidido ontem e deixamos o tempo passar um pouco antes de tentar arrancar informações novamente daqueles homens. Aproveitamos o excesso de quartos para nos acomodarmos bem e cada um escolheu um pra si. Edinho pelo jeito não dormiu ou levantou muito cedo, pois quando acordei, ele já não estava mais por aqui.
Na verdade eu fui o ultimo a acordar e a ausência de Edinho foi noticiada a mim por Barbara assim que desci as escadas que davam para o hall de entrada.
- E aí, como as coisas estão? – Perguntei a Barbara assim que a vi.
- Em resumo: esse cara aqui já era e eu não sei onde seu tio se meteu.
- Como assim?
- Quando acordei procurei em todos os lugares e ele não estava em lugar nenhum.
- Olhou no quarto onde o outro maluco está preso?
- Sim. Ele também não está lá.
- Droga.
- Provavelmente ele deve está apenas conferindo as redondezas.
- É. Provavelmente.
Não muito depois desta parte da nossa conversa, Edinho entra pela porta principal carregando um recipiente nas mãos com algum tipo de liquido dentro.
- Qual é cara? Onde você estava? – Perguntei assim que o vi entrando.
- Estava alguns metros aqui à frente. – Edinho disse e passou direto por nós indo à direção das escadas.
- Você já sabe pra onde ele vai, não é? – Barbara me perguntou assim que ele se foi.
- Tentar fazer o infeliz lá de cima abrir a boca.
Eu e Barbara permanecemos lá embaixo e ela me ajudou a arrastar o corpo do rapaz morto para fora dali antes que o mau cheiro começasse a impregnar o ar. Foi incomodo mas não chegou a dar tanto trabalho assim.
Desfizemos dele de qualquer maneira, apenas o largando no chão ao lado do prédio e logo voltamos para dentro. Continuamos a conversar por mais um tempo e enquanto isso ouvíamos batidas e barulhos vindos do andar de cima, por vez ou outra gritos, e quando eles ficaram mais intensos decidimos por subir.
Eu e Barbara seguimos o caminho a passos apressados na direção do quarto onde o homem estava sendo mantido e assim que chegamos eu vi Edinho derramando um pouco do liquido que ele trazia no recipiente quando entrou na pousada algum tempo atrás.
O homem amarrado a perna da cama gritava de dor enquanto o liquido escorria e borbulhava sobre sua pele. Ele estava ensangüentado e bem mais machucado do que da última vez que eu o vi. Edinho não estava pegando leve com ele.
- Ei irmão, o que você tá fazendo?
- Fazendo-o falar.
- Edinho, você está matando ele. – Barbara disse atrás de mim.
- E não é isso que sempre fazemos com eles? – Edinho derrama mais um pouco de ácido e se dirigi ao homem desta vez. – VAMOS! Já está na hora de você abrir o bico!
- Se você vai matá-lo, por que não o fazer logo? – Barbara indagou. – Acha que vai conseguir alguma resposta dele desse jeito?
- Acho. – Edinho respondeu firme.
Edinho parecia centrado e firme no que fazia e dizia mas eu sabia que ele não estava bem como tentava aparentar. Ele estava desesperado por respostas e não mediria mais conseqüências para obtê-las.
- Ei, cara. – Falei pondo a mão sobre o ombro de meu tio. – Eu sei o que você fazer, ok? Mas ele não vai te dar nada se estiver morto. Olha pra esse infeliz, ele está quase inconsciente.
Dei uma pausa na frase e esperei a resposta de Edinho mas ele apenas continuou a me olhar. Então prossegui: - Olha, vamos dar um tempo. Deixa Barbara dar uma olhada nele e vê se ele sequer ainda consegue falar e eu volto aqui com você, combinado?
Edinho me olhou, assentiu com a cabeça e lentamente se ergueu do chão me acompanhando para fora do quarto. Pedi para que Barbara visse como o homem estava e levei meu tio para outro cômodo. Comemos e eu tentei puxar conversa mas Edinho não estava muito aberto a bater papo.
Ficamos assim por um tempo, sem nos falarmos muitos até que vi Barbara me chamando da porta.
- E ai? – Perguntei.
- Ele tá bem machucado, não acho que vai durar muito mas ainda consegue falar. Seu tio vai tentar ainda?
- Eu preferia que fosse eu tentando, mas Edinho está obcecado por isso.
- Você sabe que ele vai acabar fazendo algo de que pode se arrepender, não é?
- A essa altura não acho que ele pensa mais em arrependimentos. – Me virei em direção a ele e avisei. – O cara acordou, quer ir agora?
- Vamos.
Barbara foi à frente, seguida por mim e logo atrás Edinho. Entrei a frente para tentar impedir o ímpeto de Edinho em voltar a atacar o homem mas ele parecia estar mais calmo desta vez.
- E então, vamos conversar ou eu vou ter que deixar ele torturar você de novo? – Perguntei agachado a frente do moribundo.
O homem me olhou e respondeu: - Eu falo, mas só com ele. – Disse apontando com o nariz na direção de Edinho.
Eu não esperava esta resposta e pelo jeito Edinho também não. Ficamos parados por um instante e o homem continuou sua fala antes que tomássemos alguma atitude.
- Você me falou de uma garota, não é? Eu acho que posso saber dela.
Edinho se aproximou rapidamente.
- Não brinque comigo.
- Estou falando sério. – O homem dizia com dificuldade. – Eu não saberei pelo nome, mas se tiver uma foto eu posso dizer o que você quer.
Edinho pôs a mão no bolso de trás da calça e puxou a carteira de onde tirou uma pequena foto, era uma foto de Heloíse.
- Aqui. Você a viu? – Edinho perguntou segurando a foto bem em frente ao rosto do homem.
O homem começou com um riso tímido e irônico que se alargou a uma risada larga que preenchia seu rosto.
- É. Eu me lembro dela. – O homem dizia entre os risos. – Lembro de como ela pedia pra eu parar.
Ao ouvir isto meu coração quase parou e meu corpo todo enrijeceu. Vi a mão de Edinho tremular com a foto em frente ao rosto do homem que continuava a falar.
- Eu lembro como ela chorava e gritava "papai, por favor, onde você está? Papai me tira daqui. Não deixe que ele faça isso comigo papai. Onde você está?" Coitadinha. Ela não sabia que o papaizinho dela era um bundão como você que não conseguiria...
A frase do homem foi interrompida pelo avanço de Edinho sobre ele. Edinho acertou um, dois, três socos enquanto eu e Barbara apenas observamos sem reação. Eu nunca vi Edinho tão possuído pelo ódio como naquele instante. Ele parou de socar e tirou da cintura uma pequena faca que usou para cortar com um só golpe a corda que prendia o homem a cama.
Com o homem já livre, Edinho o levantou pela camisa e o jogou pro outro lado do quarto. O infeliz acertou com tudo as portas de um antigo armário e cambaleou para trás, então Edinho correu com tudo em sua direção e o empurrou com toda a força pela janela do segundo andar.
O homem despencou com tudo batendo numa cerca pontiaguda e depois aterrissando já sem vida no chão.
Eu ainda não havia conseguido digerir o que acabara de ouvir e pelo jeito que Edinho me olhou, ele também não.
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Diário de Um Sobrevivente
Ficción GeneralNo ano de 2018 um tipo de praga ou infecção atacou a humanidade e nós nem ao menos sabemos de onde isso surgiu. Com a rápida degradação da sociedade e com o caos se instalando a única opção para mim e minha família é sobreviver a todo custo. nos aco...