11/12/2018

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A caminhada foi longa, estávamos muito longe do acampamento e graças a Deus não tivemos mais problemas no caminho de volta. Chegamos ontem no inicio da noite e o acampamento estava como nós o deixamos. Nenhuma surpresa desagradável aconteceu por aqui e todos estavam bem, inclusive meu irmão, que já estava dormindo por conta do efeito dos medicamentos que Dayse tinha dado.

Dayse achou melhor esperar o amanhecer para aplicar o outro antiinflamatório, pois era o tempo de meia vida do meloxicam, isso evitaria uma super dosagem de medicamento que poderia trazer colaterais indesejáveis pra ele.

- Oi dorminhoco. – Falei quando percebi que meu irmão estava a acordar.

- Oi. Bom ver você.

- Sempre é.

- Continua sem me escutar não é?

- O quê? Vai me dar uma bronca por ter ido atrás disso? – Disse enquanto segurava uma das ampolas de floxicam em frente ao seu rosto. – De nada irmão.

- Você sabe que sempre que falo é porque me preocupo com sua segurança, mas obrigado por não me ouvir dessa vez.

- Eu sei maninho... Relaxe... – Dei uma leve piscada pra ele e me levantei. – Aqui está o remédio. – Falei estendendo a mão para Dayse que se aproximava.

- Um pouco tarde. - Ela disse levantando uma seringa com um liquido amarelado dentro. – Já preparei uma dose com o que Alessandra pegou da sua bolsa, guarde esse para amanhã.

- Ele vai ficar bem? – Perguntei.

- Vai sim. Ainda hoje vai conseguir mexer o braço mas vai ficar sem pegar peso por uns dias.

- Quer dizer que não vou precisar carregar as mochilas? To começando a gostar desses machucados.

- Você ainda tem o outro braço garotão. – Rodrigo falou enquanto se aproximava de nós.

Rimos um pouco com esse momento de descontração e Dayse se preparou para fazer a injeção.

- Isso seria mais fácil com o escalpe mas eu acho que ainda sei puncionar uma veia com seringa.

- Como isso aconteceu? Você ainda nos deve uma explicação, ou já contou aos outros enquanto eu estava fora? – Perguntei ao meu irmão.

- Ele ainda não nos disse nada, devia ta esperando por você. – Disse Rodrigo.

Dayse espetou seu braço e ele fez uma pequena expressão de dor.

- Pronto, já foi, agora você pode falar. – Dayse disse dando umas tapinhas leves no braço dele.

- Tudo bem... Todos vocês sentados na minha frente, parece que estou contando uma história pra escoteiros num acampamento de férias.

- Para de enrolar e conta logo. – Alessandra disse enquanto sentava ao lado de Rodrigo.

Rimos um pouco da situação e meu irmão enfim começou a contar.

- Eu saí daqui para apagar nossos rastros e criar pistas falsas para confundir quem quer que seja que tentasse nos seguir. Tudo estava ocorrendo bem até que encontrei um acampamento quando já estava prestes a voltar, passei em volta e não vi ninguém e quando vasculhei melhor vi que já estava abandonado há um tempo. Não me preocupei, pois parecia que não havia mais perigo nenhum por ali, e quando me afastei de lá em direção ao caminho de volta fui pego por uma armadilha. Eu estava distraído e não percebi aquela droga, era uma armadilha de laço e me puxou pela perna assim que pisei nela, me arrastou por entre arbustos de espinhos e galhos e me deixou suspenso no ar. Fiquei um pouco aturdido e quando dei por mim estava ali pendurado pelo pé há uns dois metros e meio do chão, pra piorar o barulho da armadilha e dos meus gritos acabou atraindo um zumbi que estava pela redondeza. Eu estava alto de mais para ele me alcançar mas a única via de saída era pra baixo, então eu tinha que dar um jeito nele. Precisava cortar a corda e me virar rápido o bastante para não cair de costas pro mordedor, eu não queria disparar uma arma ali e denunciar a minha posição, era arriscado de mais acabar atraindo a atenção de mais zumbis e do outro grupo caso eles estivessem perto. A única opção era cortar a corda, consegui cortar o laço que prendia meu pé e me virei esticando o braço com a faca em direção ao mordedor, a lamina cravou bem no meio da sua cabeça mas eu caí de mal jeito em cima do ombro e o resultado de tudo isso foi esse. – Ele falou dando leves toques com o dedo do meio no ombro.

Ficamos surpresos com aquilo e preocupados enquanto ouvíamos a história mesmo sabendo que tudo havia ocorrido bem, essa deu certo mas foi por pouco.

- Nossa. Tá, então revogado qualquer adendo sobre a regra de não sair sozinho, ninguém mais faz isso. – Disse Rodrigo.

- De acordo. – Respondeu meu irmão. – E vocês duas? Como foi na cidade? – Ele disse olhando pra mim e Alessandra.

- Foi tudo de boa. Nem chegamos à cidade, pegamos tudo num posto militar temporário que foi abandonado. – Respondi antes que Alessandra dissesse qualquer coisa.

Não queria que ninguém se preocupasse mais, já houve muitos relatos complicados por hoje.

Vamos ficar por aqui o resto do dia e deixar que meu irmão descanse mais um pouco, deveremos sair amanhã cedo quando a dor dele diminuir mais.

Diário de Um SobreviventeOnde histórias criam vida. Descubra agora