08/12/2018

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Viajamos boa parte da noite com Barbara ao volante e depois de uma pequena parada na estrada voltamos a viajar, só que comigo na direção desta vez.

- O que conseguimos pegar na despensa daquela casa? – Edinho falou para quebrar o silêncio que predominava na cabine.

Todos nós estávamos com sono e creio que essa foi uma estratégia dele direcionada a mim, algo para evitar que eu dormisse ao volante.

- Aveia, leite... – Barbara disse logo após se espreguiçar.

- Já podemos fazer uma papa. – Edinho emendou.

Depois de bocejar mais uma ou duas vezes e coçar novamente os olhos Barbara continuou:

- É uma boa idéia. Também pegamos uns pacotes de arroz, um pouco de tempero em tabletes e duas latas de feijoada.

- Papa ou feijoada em lata. – Dei uma pequena pausa enquanto balançava a cabeça negativamente. – É triste saber que essas são as melhores opções que temos de comida hoje em dia.

- Qual é? Não fala assim, você é a parte otimista do grupo, lembra? – Barbara disse sorrindo e batendo de leve no meu braço.

- Jotah, lembra daquele boi... – Edinho começou a falar para me provocar.

- Não. – Respondi tentando ser firme mas deixando um sorriso correr pelo rosto ao perceber a intenção dele.

-... Que matamos perto de Patos?

- Não. Não.

- Estava muito bom. Você lembra o nome da cidade?

- Não. Você não vai me fazer lembrar disso? Fala sério.

As garotas estavam a gargalhar vendo minha cara após a brincadeira sem graça de Edinho.

- O que aconteceu? Por que você lembrou disso? – Natalia perguntou a Edinho no intervalo entre as risadas.

- Porque eu não me lembro de ter visto ninguém tão animado com um pedaço de carne nas mãos. Nem mesmo um desses zumbis.

- Ah vai se ferrar. – Respondi sorrindo.

- Não se preocupe canibalzinho. – Barbara disse afagando minha cabeça. – Vamos arrumar um pedaço de carne fresco pra você.

Após mais uma série de risadas de todos à minha volta ouvimos um barulho vindo de baixo do carro e eu senti um tranco no volante, que por pouco não saiu do meu controle. Pisei nos freios e fiz de tudo pra manter a caminhonete na estrada até que não muito depois ela parou.

- O que foi isso? – Natalia perguntou assustada.

- Perdemos um pneu. – Falei depois de por a cabeça pra fora da janela e constatar que o pneu havia furado.

- Dois. – Barbara emendou. - O do meu lado também está furado.

- Qual a chance disso acontecer?

- Tem alguma coisa na estrada. – Edinho disse após olhar pela janela que dá vista para caçamba.

- É uma armadilha. – Falei apertando o volante com toda a força. – É uma droga de armadilha.

- Pra nós? – Natalia perguntou.

- Tem alguém vindo. – Barbara disse enquanto olhava pelo para-brisa com a luneta do rifle. – Estão longe, mas se aproximando.

- Que merda.

- Quantos são? – Edinho perguntou enquanto já preparava uma arma em mãos.

- Dois veículos pequenos. – Barbara respondeu ainda olhando pela mira. São quadriciclos.

Diário de Um SobreviventeOnde histórias criam vida. Descubra agora