Talvez começar a beber num lugar recheado de bebidas não fosse a decisão mais inteligente a se fazer e eu só me dei conta disso tarde de mais. Quando dei-me por mim já eram seis da manhã, e eu soube disso pelo som do sino de uma igreja próxima que me acordou.
O barulho fez com que eu despertasse repentinamente e por conta do último acontecido acordei em alerta, meu cérebro parecia estar com o gatilho pronto para o combate, mas não era a ocasião. Descansei a cabeça de volta sobre o balcão em que eu estava apoiado, mas logo minha atenção foi retomada.
Ouvi barulhos em frente à loja e assim que levantei a cabeça para olhar observei alguns zumbis parecendo pela rua, ao notar o número crescente deles eu me escondi por trás do balcão e me certifiquei de ficar no maior silêncio possível.
Permaneci imóvel e o mais quieto que pude, a última coisa que queria era atrair aquele bando de zumbis para a loja comigo lá dentro. E por sorte eles estavam mais preocupados com outra coisa. O barulho que me acordou um pouco antes também foi ouvido por eles e era este barulho que eles perseguiam.
Espiei esperando o bando passar e assim que tive certeza que todos eles se foram eu saí do depósito e fui até o carro, mas não dirigi para longe dali. Na verdade eu escolhi segui-los.
Não muito longe de onde estava eu os encontrei reunidos em frente a igreja em que o sino tocara, e a quantidade de mordedores era maior do que eu esperava. Pelo jeito grande parte dos zumbis da região foram atraídos até ali e isso me deu uma idéia.
Parei o carro silenciosamente na esquina da rua, a mais ou menos uns duzentos metros de onde o bando estava aglomerado. Eles se amontoavam em frente à porta principal da igreja e grunhiam enquanto o sino dava suas ultimas badaladas.
Logo após o barulho cessar eles passaram a se comportar de forma mais calma, como se tivessem saído do modo de alerta. Percebi que depois disso eles não demorariam muito a voltarem a se dissipar, então tomei uma decisão maluca mas que tinha um propósito.
Acelerei o motor do carro e buzinei para que os mordedores me notassem. Fiz isto durante alguns instantes até que os primeiros começassem a vir na minha direção e assim atraírem o resto do bando.
Antes dos primeiros do bando chegarem a alcançar o carro eu parti em marcha ré, não muito rápido, apenas numa velocidade suficiente para não me cercarem. E assim segui caminho pela rua, mais a frente me distanciei um pouco para dar a volta com o carro e passei a dirigir com os zumbis logo atrás de mim.
No decorrer do caminho eu buzinava para ter certeza de que alguns mordedores não começassem a se desprender do bando e acabassem por debandar todos.
Segui calmo e paciente por todo o caminho. Estava focado no que estava fazendo, tanto que nem sequer bebi até que chegasse ao ponto em que queria.
O trajeto demorou mais do que eu esperava mas enfim cheguei onde queria. Havia dirigido de volta até o bairro industrial onde ficava o galpão que Frank usava como esconderijo, o mesmo em que deixei a armadilha de zumbis para ele.
No local havia inúmeros outros galpões além daquele que Frank usara e foi exatamente por isso que decidi levar os zumbis até ali. Assim que cheguei próximo da rua do ex-abrigo de Frank aumentei a velocidade do carro para abrir vantagem em relação aos zumbis.
Enquanto passava pela rua eu analisava qual dos galpões serviriam para usar naquele momento e logo encontrei um que parecia bom. Os portões de metal na sua frente eram grandes e um deles estava aberto, parei o carro ao lado do galpão, desci e fui em direção a porta.
Abri mais um pouco o portão e o local realmente parecia bom. Ele estava praticamente vazio, só restavam dentro algumas tralhas velhas, peças e pedaços de máquinas pesadas como escavadeiras e tratores. Mas o que importava para mim era o espaço livre, e isso tinha o bastante.
Ao adentrar no galpão a segunda coisa que olhei e procurei foi a saída de emergência em sua lateral. Outro ponto fundamental para mim, já que seria por ela que eu iria sair após atrair os zumbis.
O sol estava forte no céu e seus raios iluminavam bem o interior ao passarem pelo combogós no topo das paredes. Isso me proporcionou encontrar a porta sem muita dificuldade e ao forçar e garantir que eu poderia abri-la, havia conseguido todas as informação que precisava para confirmar que aquele lugar serviria.
Corri de volta para entrada principal do galpão e fui até o carro, do lado de fora mesmo passei a mão pela janela e buzinei algumas vezes. Corri de volta pra rua e comecei a gritar e balançar os braços para atrair a atenção do bando que passava pela esquina da rua.
Alguns se desprenderam pelo caminho mas ainda assim havia um bom número deles ali. Assim que me viram não demoraram em vir até a minha direção e então eu passei a caminhar até a entrada do galpão.
Acertei o portão de entrada algumas vezes com um pedaço de ferro que catei pelo chão, tudo para fazer com que o máximo deles entrasse ali. Derrubei dois ou três que chegaram até mim bem antes do resto do bando, mas assim que a maior parte deles se aproximou eu corri até próximo da porta e de lá continuei a incitá-los.
Antes que os da frente voltassem a me alcançar eu saí pela porta lateral e a tranquei. Voltei mais uma vez ao carro, que estava a poucos metros de mim, e dirigi até a frente do galpão. Alguns zumbis ainda não haviam entrado e eu atropelei uns quatro ou cinco enquanto usava o carro para empurrar o portão de metal que estava aberto.
Desliguei o motor e deixei o carro emperrando o portão, evitando que os zumbis conseguissem empurrá-lo de volta. Desci rapidamente e usei a faca para dar o fim na meia dúzia que havia atropelado e depois parei de pé, virado de frente para entrada do galpão.
Os zumbis estavam agitados e faziam bastante barulho lá dentro, mas presos ali, para mim eram inofensivos. Achei cômoda e irônica a situação e também me senti realizado pelo plano ter funcionado. Então nada melhor que uma bela garrafa de uísque para comemorar um belo feito.
Peguei uma garrafa largada em cima do banco, subi no teto do carro e apoiei um dos pés na porta de metal que me separava de uma centena de mordedores enfurecidos. Tomei meus goles e apenas esperei o tempo passar, por um momento eu não me senti mal, aquilo era o bastante para mim.
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Diário de Um Sobrevivente
Fiction généraleNo ano de 2018 um tipo de praga ou infecção atacou a humanidade e nós nem ao menos sabemos de onde isso surgiu. Com a rápida degradação da sociedade e com o caos se instalando a única opção para mim e minha família é sobreviver a todo custo. nos aco...