Recíproco

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  Recíproco_ algo presente numa relação entre duas partes, quando, existindo de um lado, existe de igual modo no outro.  


Tirar o frango do congelador. Buscar a camisa cor-de-rosa que está na lavandaria. Comprar o sal que está em falta no armário da cozinha. Passar pela farmácia para comprar a aspirina que me vai acabar com a constante dor de cabeça.

A dor de cabeça.

A minha testa parece que vai explodir e só quero fechar os olhos e cobrir-me com a colcha da minha cama. Também me dói os olhos. Provavelmente pelo excessivo número de horas em frente ao velho computador. Isto nem sequer tem luminosidade.

Também preciso de comprar açúcar e pasta dos dentes.

O último paciente deixou o meu consultório há nem sequer 10 minutos. Já tenho cinco horas a passar do meu horário.

Devia trocar a roupa da minha cama.

-Kate!

Levanto os olhos e arqueio a sobrancelha para a minha melhor amiga.

-Ele chamou-te... - ela justifica-se.

-Ah Deus! Nem hoje me dá descanso? – gesticulo com as mãos no ar feita idiota.

Rose ri-se baixinho e encolhe os ombros. Bufo em sinal de frustração e passo as mãos no cabelo.

-Por favor, Kate! Tenta não...

-...demorar. Eu sei. – completo-a.

Ela sorri enquanto se vai embora.

Dou uma olhada no meu relógio de pulso, verificando a hora e desligo todo o sistema de tecnologia atrasada. Retiro a bata branca e pego na minha bolsa.

Os meus saltos ecoam no piso envernizado. Respiro fundo antes de bater à porta.

-Sim. – a voz grossa profere.

-O que queres Kevin? – pergunto mal entro no seu escritório.

-Katherine. – ele aponta para a cadeira em frente à sua secretária. Bufo impaciente.

-Diz de uma vez, Kevin!

-Hoje estás muito impaciente... Algum motivo em especial?

-Não é impaciência! É desespero... Sabes há quanto tempo eu não me deito numa cama?

-É exatamente esse o problema, Katherine... Se tu não me apresentas os relatórios há duas semanas, como queres que eu saiba que tu tens vindo trabalhar sequer?

-Tu sabes que eu não tenho paciência nenhuma para papeladas...

-Eu também não tenho paciência para ter de repreender os meus médicos porque eles não me apresentarem coisas simples como relatórios e no entanto, aqui estou eu!

-Não seja esse o problema! – digo levantando-me. –Já passam cinco horas do meu turno. Até amanhã!

Não espero que ele responda enquanto corro para o elevador mesmo antes de ele fechar. A Rose está lá dentro e ainda me viro a tempo de ver o Kevin à porta, vermelho de raiva.

-O que é que tu fizeste desta vez? – a Rose diz mal as portas fecham.

Começo a rir descontroladamente ao ponto de me sentar no chão do elevador. Quando o mesmo volta a abrir, levanto-me e agarro-me à Rose para ir até o estacionamento.

FROM KATEOnde histórias criam vida. Descubra agora