Motivo

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Viver_ Ter vida ou existência.

Amanhã vou viajar para Washington. Ben e Adrian, os meus directores financeiros e operacionais vão comigo, juntamente com Kian. Vou assinar o contrato com a empresa americana que irá fornecer o material ortopédico para o hospital. Enquanto isso, Ben e Adrian encontrar-se-ão com algumas empresas que nos parecem promissoras. O voo é às onze da manhã.

Jonathan passou pelo meu gabinete às dezoito horas e três minutos, segundo o meu relógio de pulso. Sentou-se na cadeira em frente à minha secretária e comeu doze rebuçados que eu tinha numa pequena tacinha. Enquanto isso, como já ficara habitual, palreava sobre tudo e mais alguma coisa. Podia ser o jogo de futebol do dia anterior, o crime relatado no jornal de notícias ou a última façanha do seu filho Josh. Arranjava sempre algo novo para me contar e naquele dia estava especialmente falador. Já me tinha dito que a Sophie fizera chichi na carpete vermelha da sala, que a Emily o andava a tentar convencer a participar numa corrida de cavalos e que a Elena queria o mais recente modelo de telemóvel (que saíra na semana passada). Também fez menção de acrescentar que Henry tinha tirado 19 a matemática e que Emma estava a virar para a leitura online. No entanto, apenas quando ele começou com:

-Então...

É que eu levantei os olhos do computador e tirei os óculos da ponta do nariz para o encarar.

-Sim. – disse desconfiada.

-Queres ir a um concerto de jazz esta noite, comigo?

Por esta não estava eu à espera.

-Estás a convidar-me para sair?

E ri-me. Porque ele estava completamente vermelho na face e no pescoço e porque nunca imaginei ser convidada para um concerto aos quarenta anos. De jazz.

-Bom... talvez. Se tu aceitares.

Fiz um muxoxo.

-O que foi?

-Nunca fui a um concerto de jazz. Acho que nunca ouvi jazz, sequer.

-Não sabes o que perdes.

-A que horas é? – perguntei.

Ele sorriu e bateu palmas.

-Ei! Ainda não aceitei.

-Mas vais aceitar. E eu vou contigo a um concerto de jazz. Encontro-te em frente ao café de Mr. Hernandez às nove.

Dito isto, beijou-me o rosto e foi embora.

Revirei os olhos. Um hábito que apanhara com ele.

Tinha apenas três horas para me encontrar com ele novamente. Terminei o documento que estava a preparar e deixei o hospital. Em casa, tomei um longo banho na banheira do quarto (pela primeira vez!), depilei as pernas minuciosamente e maquilhei os olhos em tons suaves. Escolhi um vestido vermelho, justo no busto e com saia rodada. Era aquele género de vestido que nos faz sentir melhor apenas por o vestir. Calcei uns scarpins vermelhos e coloquei um batom da mesma cor. Enrolei o cabelo, como o usava na Inglaterra e apliquei-lhe um pouco de volume. Gostei do resultado. Sentia-me entusiasmada, ansiosa e com um nervoso miudinho na barriga. Depois de retocar o rímel pela segunda vez, decidi ligar a Rose. Ela percebia de jazz.

-Oi! O que se passa para me ligares a esta hora? Eu estava a dormir!

-Hey! Desculpa!

-Tás desculpada. Agora, desembucha! Quem é ele?

-Quê?

-Para tu me ligares assim só pode tratar-se de um homem...

-Não! – esperava que a minha voz não deixasse transparecer o pânico que sentia. – Eu queria falar sobre... jazz.

FROM KATEOnde histórias criam vida. Descubra agora