Redenção_ Ato ou efeito de redimir ou remir, que significa libertação, reabilitação, reparo, salvação. É o ato de adquirir de novo, de resgatar, de tirar do poder alheio, do cativeiro. É livrar-se de um passo arriscado, é livrar-se das penas do inferno.
As pessoas estão por toda a parte.
O mais abundante são pessoas como nós, público animado por mais uma noite fora da rotina. No entanto, o restante da população divide-se em várias outras categorias. Os comerciantes mascarados, que procuram qualquer pretexto para aumentar o preço do seu produto. Os vigilantes mascarados, que asseguram a segurança de toda a gente e ainda aqueles que não resistem a mascarar-se para, talvez, viver a vida de uma outra personalidade.
Todo o cenário envolvente me leva de volta ao século XIX, com as pessoas fantasiadas de cavaleiros, monges, bobos, dançarinas orientais e tudo o que se possa imaginar da nossa antiguidade. De cada lado das largas ruas, barraquinhas de produtores artesanais vendem os seus produtos, não fugindo ao espírito da fantasia. Acima de nós, distorcendo o céu estrelado, encontram-se fios e mais fios de grinaldas, trapos, papéis e outras decorações que sirvam para o efeito. Assisto maravilhada a toda aquela magia obscurecida pela noite, aclarada pelos candeeiros artificiais.
Uma feira medieval.
Ele trouxe-me a uma feira medieval.
E, estranhamente, não consigo suster a animação que isso me traz. Toda a cidade de Haringey está iluminada por grandes bolas de luz, idênticas ao fogo, e todas as ruas estão cheias por transeuntes que decidiram aproveitar uma noite de sexta-feira ao estilo medieval. O Kevin pega na minha mão e arrasta-me até uma barraquinha e grita algo para a negociante. Tira algum dinheiro da sua carteira e passa-o a ela, que em troca lhe dá uma tiara de flores. O Kevin volta a arrastar-me de lá para um sítio livre da passagem das pessoas e coloca-me a tiara na cabeça.
-Pronto. Estás perfeita para a ocasião.
Rio-me ainda não acreditando. Nunca estive numa feira medieval antes, e nunca me tinha chamado a atenção em particular. No entanto, agora que aqui estou, é difícil acreditar em algum lugar melhor para ficar.
As pessoas passam à nossa volta, cantando, dançando e rindo; algumas no mesmo sentido que nós, outras na direção contrária. Um grupo de miúdos correm desenfreadamente na nossa direção e eu e o Kevin, ainda de mãos dadas, levantamo-las fazendo um arquinho para eles não interromperem a sua corrida. O último rapazinho, pára, sorri para nós e tira uma pequena flor do cano da sua espingarda de plástico, estendendo-a para mim. Ele é magrinho, com uns olhos azuis brilhantes, e um sorriso cativante.
-Uma flor para outra flor.
Rio e aceito a florzinha da sua mão, baixando-me a seu lado.
-Obrigada, cavalheiro! Posso saber o seu nome?
Ele abana a cabeça com um sorriso sapeca no rosto e vira costas repentinamente, correndo atrás dos amigos, apesar de eu já não ter sinal deles.
Ainda com um sorriso no rosto, ergo-me novamente e dou a mão ao Kevin. O gesto parece agradá-lo e eu não quero pensar no que isso possa implicar no futuro.
Ele faz-me rodopiar e coloca o braço por cima dos meus ombros. O trejeito deixa-me desconfortável e eu afasto-me do seu aperto com naturalidade, tentando afastar o assunto da minha mente. O tempo passa sem que eu me aperceba, e a conversa acaba por fluir naturalmente entre nós. A meio da noite, o Kevin oferece-me um crepe recheado de banana e chocolate quente. Comprou-o numa barraquinha rústica com um moço a transpirar enquanto balançava o preparado pelo recipiente inteiro, sobressaindo os seus abonados músculos. Alguns metros à frente, a população dança alegremente ao som de uma música popular. Surpreendo-me quando me puxam para o meio, fazendo-me entrelaçar o meu braço com o resto dos dançarinos, numa estranha giratória que me faria trocar de parceiro de dança a cada dois minutos. O Kevin, com um sorriso brincalhão, trocava de lugar com os do lado, fazendo com que dançasse sempre comigo. Rio-me a maior parte do tempo, enquanto ele coloca as mãos na sua cintura e imita os cavaleiros. Aqui, no meio dos monges e princesas, é possível acreditar que a magia existe e que nós somos apenas crianças deslumbradas.
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FROM KATE
ChickLitKatherine é o pesadelo de qualquer homem. Corpo definido, cara bonita, divertida, inteligente, independente e incrivelmente teimosa, a mulher loira atrai os olhares da população masculina. No entanto, há cerca de dois anos, desde a sua última re...