Indesejável

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Ameaça_ palavra, gesto ou sinal indicativo do mal que se quer fazer a alguém.


Eu e o Alex passamos seis horas e meia dentro do bloco operatório. Os enfermeiros já trocaram pelo menos duas vezes, mas nós os dois fomos os mais resistentes. É claro que Alex me venceu. Quando, finalmente, conseguimos terminar a operação, o Alex resolveu pregar-nos outro susto e tivemos de o reanimar com o desfibrilador. Não era a primeira vez que o tínhamos de fazer. Graças ao estado instável do Alex nas últimas horas antes do transplante, tinham-se criado inúmeros coágulos que nos dificultaram a cirurgia.1.palavra, gesto ou sinal indicativo do mal que se quer fazer a alguém



No entanto, quando, por ação de misericórdia, pude sair do bloco operatório, foi com um sorriso fraco no rosto e quase lágrimas nos olhos que anunciei a Jonh e a todos os filhos que iam ter o irmão em casa em breve. A operação tinha sido um sucesso.

Os braços de Jonh rodearam-me no instante seguinte, ao mesmo tempo que ele me agradecia inúmeras vezes. Deixei-me ser abraçada, sem retribuir, e ele chegou mesmo a beijar-me a face no meio da sua euforia.

Quando ele me largou, respirei fundo, e com o Adam abraçado à minha perna encarei os filhos do Jonh.

-As próximas horas são decisivas. O transplante foi um sucesso, agora vamos aguardar que o Alex seja forte, Okey?

Desta vez há uma rapariga a mais na família. É morena e deve ter uns dezassete anos. Tem uma franja reta e os óculos de armação azul escura ocultam os olhos verdes. Calculo que seja namorada do Henry, o filho mais velho do Jonh, quando ele a abraça pelas costas e lhe deixa um beijinho leve no ombro.

-Eu venho daqui a pouco buscar-vos para o verem.

Digo, ao mesmo tempo que o Jonh diz:

-Eu vou ver o vosso irmão.

-Não. – interrompo-o. – Eu venho ter convosco daqui a bocado.

O Jonh prepara-se para me contradizer, mas algo no meu rosto o faz parar, assentindo.

-Até já.

A Steph não está na secretária quando passo para o escritório.

No entanto, o meu corpo estaca no preciso momento em que atravesso a porta. Porque, nesse mesmo instante, vejo alguém sentado no meu cadeirão, de costas para mim e sinto-o. Sinto a presença dele no escritório que já foi dele. Theodore Cloney. Foda-se.

Fecho a porta atrás de mim com um baque surdo e respiro fundo. A minha paciência deve ter ficado na minha cama a altas horas da madrugada. O Cloney escolheu mal o dia para me vir atazanar o juízo.

-Ficou com saudades minhas, Mr. Cloney? – pergunto com sarcasmo.

Ele ri-se macabramente e vira a cadeira lentamente para mim.

-Ora... ora. Que prazer em revê-la, Mrs. Colm. E não precisa de me lembrar que o prazer é todo meu. – acrescenta.

Fala lentamente, arrastando as palavras como se falasse para uma atrasada mental. Uma sensação de mal estar apodera-se do meu estômago. Ainda bem que não tomei o pequeno-almoço.

-O que quer daqui?

Ele respira fundo e recosta-se na cadeira.

-Tinha-me esquecido do quão confortável era esta cadeira... - ele ignora a minha pergunta.

Arqueio a sobrancelha e mantenho-me em silêncio. Ele bate levemente com os braços e apoia-se para se levantar. Caminha lentamente, sem olhar para nada e ao mesmo tempo olhando para tudo até que se detêm e encosta-se à beira da secretária.

FROM KATEOnde histórias criam vida. Descubra agora