Violações

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Humor_ substantivo masculino com origem no latim humore, significa a disposição do ânimo de uma pessoa ou a sua veia cómica.  



-Eu tenho de voltar para o meu gabinete. – digo.

Jonathan olha para mim surpreso e pega-me no cotovelo arrastando-me para longe dos filhos dele. Estão todos no colo uns dos outros, sussurrando para o irmão mais novo, apesar de este estar inconsciente.

-O que é que se passa? – o Jonh volta a chamar a minha atenção para si.

Está bastante próximo de mim, curvando-se na minha direcção, com os olhos a perscrutarem o meu rosto em busca de sinais de que algo está errado. Consigo sentir o seu hálito a hortelã-pimenta e tabaco. É inebriante.

-Nada. Porquê?

Franzo as sobrancelhas e ele passa a língua pelo lábio inferior num gesto nervoso.

-Estás estranha. Há algo que não me estejas a contar? Algo com o Alex?

-Não. Não. Já te disse que está tudo bem... Está a ficar paranóico, Dr. Wood! – brinco e ele ri-se de leve.

Assente com a cabeça e pisca os olhos da cor do mar.

-Tenho de ir. Vou ter uma reunião daqui a pouco.

-Claro. Logo jantamos?

-Desta vez não vai dar. Estou exausta. Preciso de ir para casa... Desculpa. – minto.

-Não. Deixa estar.

Ele dispensa as minhas desculpas com um gesto de mão e, surpreendendo-me, aproxima-se ainda mais de mim, coloca as mãos na minha cintura prendendo o meu corpo contra o dele e encosta os seus lábios na minha testa.

-Não imaginas o quão agradecido estou, Katherine. – murmura e eu sinto o meu sangue bombear nas minhas veias. – Tens a certeza que estás bem? Mesmo, mesmo?

Sorrio e assinto. Agarro-lhe as mãos e elas parecem gelo quando o afasto de mim.

-Até logo. – sussurro.

Viro-lhe costas e apresso-me a sair do quarto, tendo a certeza de que todos em olhavam boquiabertos.

Quando chego ao meu gabinete, estou a tremer. Este dia está a ser demasiado longo. Primeiro a operação do Alex, depois a discussão inesperada com Theodore Cloney e as suas revelações idiotas e agora os avanços inconsequentes de Jonathan.

Não estou preparada mentalmente para isto sem sequer ter dormido direito a noite passada. Sinto o meu corpo frio, enregelado e estático enquanto me esforço para arrumar os meus pertences na minha bolsa.

Não quero parar para pensar na minha conversa com Theodore. Não tenho tempo para entrar em pânico por não saber o quanto Theodore sabe sobre mim. E sei que quando o fizer vou vomitar. Então é melhor esperar pela noite, quando estiver na solidão da minha casa com os meus pensamentos sombrios.

Estaciono num lugar vago mesmo em frente ao restaurante. Saio para a chuva ininterrupta ao abrigo do guarda-chuva e corro até ao resguardo de lona.

O restaurante é chique. O dourado e o branco ocupam toda a parte, seja no friso das paredes ou na toalha de mesa. Corro a divisão com os olhos à procura de William mas ele não se encontra em lado algum. Suspiro e sento-me a uma mesa para dois nos fundos do restaurante. Não me convinha ser vista com ele.

O polícia chega quinze minutos depois, vestido com um blazer azul-escuro e umas calças de ganga. Traz umas botas de camurça castanhas e um chapéu preto. Ele sorri para mim de canto quando me vê e rodopia quando chega à minha beira, tirando o chapéu e fazendo uma vénia. Aplaudo o seu pequeno espetáculo e rio-me.

FROM KATEOnde histórias criam vida. Descubra agora