Confianças

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Doença_ conjunto de sinais e sintomas específicos que afetam um ser vivo, alterando o seu estado normal de saúde. O vocábulo é de origem latina, em que "dolentia" significa "dor, padecimento".


Era um alívio saber que Jonathan Wood era descomprometido. De certa forma, isso quebrara a barreira daquilo que era suposto fazer e aquilo que queria fazer. A forma como eu pensava chegava a ser assustadora, e quando ganhava consciência disso, repreendia-me mentalmente e olhava em volta do café com esperança de ocultar os meus sentimentos contraditórios. Sabia que nos conhecíamos há pouquíssimo tempo e que, logicamente, o que sentia era uma mera atração pelo seu jeito fácil de conviver.

Gostava de pensar que a carência também incentivava a minha mente a imaginar os cenários mais improváveis.

Julguei que ele se tivesse arrependido da confiança que nos estávamos a permitir ter, quando, subitamente, ele arregalou os olhos azuis em minha direção. Demorei uns segundos para perceber que ele não olhava para mim, mas sim para o que quer que estivesse nas minhas costas. O tempo de diferença entre ver e me dirigir para o homem atrás de mim foi incrivelmente curto.

O senhor que estava ao balcão com o copo de whiskey na sua frente, estava agora estendido no meio do chão, com a cabeça a pender para o lado e uma estranha cor azulada no rosto.

Tanto eu como o Jonh estamos a seu lado mal nos apercebemos. Mr. Hernandez curva-se no balcão para poder ver o que se passa.

-Liga para o hospital. – ordeno a Jonh.

Ele assente e eu curvo-me ao lado do corpo do homem.

Os meus movimentos são rápidos, precisos e eficientes enquanto tento perceber o estado do homem e o que o pode ter causado. Reparo no seu peito, está inchado e ao toque, mal sinto as costelas.

-Mr. Hernandez, traga-me uma faca afiada e uma garrafa de Vodka. – ordeno.

Rasgo a camisa do homem e volto a sentir as costelas. Pneumotórax de tensão.

-Pneumotórax? – Jonh pergunta a meu lado. Assinto e ele transmite a informação ao homem do outro lado do telefone.

A garrafa de vodka e a faca são rapidamente postas a meu lado. Abro a garrafa e derramo um pouco do líquido sobre as costelas do homem. Espeto a faca ligeiramente e pressiono. Desenrosco a tampa da garrafa e enfio o bico na abertura que fiz. O ar sai e o peito do homem inflama. Respira. O homem respira. Coloco o gargalo da garrafa na boca e dou dois goles.

-Oh meu Deus! – murmuro e respiro fundo, passando o braço sobre a testa.

-Parabéns doutora! Conseguiu. – Jonh diz a meu lado.

Olho para ele sem deixar de segurar a tampa da garrafa e sorrio.

-É. Eu consegui. Já tinha saudades da adrenalina!

-Acabei de perceber que o meu filho está em boas mãos. – a ponta de um sorriso aparece no canto dos seus lábios.

-Ainda tinha dúvidas? – brinco.

Ele ri-se e olha por baixo das pestanas.

-Não quero nem imaginar o que essas mãos são capazes de fazer.

-Tá a zombar de mim novamente, Dr. Wood? Olhe que ainda tenho a faca perto de mim! – brinco e ele arqueia a sobrancelha.

-É fria, ah?

-O quê? A faca?

-Não. A senhora.

-Eu por acaso tenho cara de sol para ser quente? – ele ri-se e volta a encarar-me.

FROM KATEOnde histórias criam vida. Descubra agora