Abro a porta ainda mancando pela batida do dedinho, e o que eu vejo me corta a respiração por uns dois ou três segundos: um homem de blusa cinza e calça jeans está parado do outro lado da porta. O cabelo meio loiro meio cor de mel caindo em pequenas mechas contornando o seu rosto quadrado, os olhos cor de mel no mesmo tom do cabelo, combinando com a boca carnuda e o nariz meio torto mas que dá um charme ao conjunto. Por debaixo da blusa justa, dá pra perceber que ele tem o corpo tonificado. Eu fico olhando por uns minutos até que o homem desconhecido faz um som meio estranho com a garganta e me pergunta com uma voz sexy:
— Amélia?
— S-sim, quer dizer sim sou eu e você é? - meu Deus desde quando fiquei tão boba pra falar com alguém?
— Prazer, Cristopher.
É o que? Esse é o Cris, o irmãozinho do Joe? Não pode ser.
— Você por acaso é o irmão do Joe? - pergunto ainda desconfiada.
— Até aonde eu sei, sim.
— Eu vou matar o Joe, ele me falou que você era uma criança, por isso aceitei cuidar de você esses três dias. Pelo visto ele me enganou de novo.
— Olha se for te incomodar muito, eu posso ir para algum hotel. Deve haver um por aqui perto, não é mesmo? - diz o Cris que não tem nada a ver com uma criancinha indefesa.
—Nãããão! Fica tranquilo, eu falei que iria cuidar de você, por mais que eu esteja querendo bater no Joe nesse momento, eu sempre cumpro com o que prometo. -A única coisa que prometi e não cumpri me atormenta ate hoje. - Pode entrar, eu vou levar você para o seu quarto.
Subimos a escada em silêncio e levo Cris para o quarto que eu arrumei pra ele no dia anterior, é o meu antigo quarto, de forma que somente tem uma cama de solteiro, uma escrivaninha e um guarda roupas pequeno. Essa casa foi a única coisa que minha mãe deixou pra mim antes de morrer, e eu conservo ela como se a dona Clara ainda perambulasse pelos cômodos.
Cris entra meio desconfortável e dá uma olhada ao redor do lugar, examina meticulosamente cada objeto e eu percebo que ele arruma algumas coisas que estão mal posicionados sem nem mesmo perceber. Ele senta na cama e fica me olhando por alguns segundos, e depois desses segundos hipnóticos eu percebo que é a deixa pra eu sair!
— Então, fica a vontade tá! O banheiro é no final do corredor e a vantagem é que não precisamos dividir porque o meu quarto é suite. Pode colocar os teus produtos lá, se quiser. - Ele assente levemente com a cabeça e eu deixo o quarto logo após.
Entro na minha própria habitação, tiro a roupa e vou tomar um banho pra começar meu dia, ainda tenho quatro dias de ferias e pretendo aproveitá-los. Depois de alguns minutos e de banho tomado, vou até o quarto de hóspedes e toco três vezes na porta. Depois de alguns segundos, um Cris só de calça jeans e cabelo ainda molhado está olhando impaciente pra mim enquanto eu seco descaradamente o seu peito nu.
— Então, - procuro as palavras que parecem estar fugindo da minha cabeça hoje — eu tenho que ir no supermercado, porquê deixei pra fazer as compras quando você chegasse já que eu não sabia o que você gosta de comer. Quer me acompanhar? - Meu Deus, deixa de fazer essa cara esperançada! Até pareço uma garotinha de dezesseis anos!
— Tudo bem.
Espero o Cris se vestir e descemos a escada até a entrada. Tranco tudo com chave e falo pra ele me acompanhar até o ponto de ônibus.
— Você não dirige? - pergunta ele genuinamente curioso.
— Não, desde o aci... faz tempo que não dirijo e meu carro nem funciona de todas formas então vamos ter que ir de ônibus. Você não liga né?
Cris faz que não com a cabeça e esperamos uns 10 minutos até que o bendito do ônibus chega. Subimos e andamos outros 10 minutos para chegar no supermercado. Dentro o clima está um pouco mais frio por causa do ar condicionado, e tremo levemente.
— Você está com frio?
—Não se preocupe, foi só a mudança do clima quente pro frio, você gosta muito de fazer perguntas né?
Ele não me responde com palavras, mas em compensação dá um meio sorriso tão sexy que acho que todas as garotas presentes nesse supermercado acabam de se molhar. Pego um carrinho e falo pra ele me acompanhar, eu vou no piloto automático porque confesso que fui uma das garotas afetadas pelo sorriso sexy.
— Primeiro vamos no setor de pães, depois nos outros. - digo.
Fazemos o recorrido que eu costumava fazer com Jonah, primeiro íamos pelos pães, depois por leite e depois pelas bolachas. Eu faço o mesmo desde sempre, as vezes faço inconscientemente. Pegamos tudo o que acho que é necessário para alimentar um homem de sei lá uns vinte e tantos anos e algumas coisas que eu precisava e vamos em direção ao caixa. Depois de passar todas as coisas, pego o meu cartão e entrego à atendente. Ela nem chega a tocar no cartão quando uma enorme mão substitui o meu pelo dele. Ela fica hipnotizada enquanto eu discuto com Cris.
— Deixa que eu pago - diz ele entregando o cartão à garota, que tem uma expressão engraçada no rosto.
— Nada disso! Minhas compras, eu pago!
— Amélia, você me aceitou como hóspede da sua casa sem nem mesmo me conhecer, o mínimo que eu posso fazer é pagar por essas compras.
Tudo bem, ao que parece virou uma questão de honra para Cris, pagar pela compra. Poucas vezes deixei alguém pagar alguma coisa para mim, mas essa é uma exceção até porquê acho que se ele não pagar essa conta, tenho a impressão de que ele vai ficar muito bravo.
— Tá bom, pode pagar, mas fique sabendo que vou encontrar uma forma de te devolver. - Ameaço.
Deixamos o mercado depois de quase uma hora de compras, e infelizmente, a essa hora quase não passa ônibus, então o jeito será ir de taxi. Chegamos 5 minutos depois, carregados de sacolas e guardamos tudo no seu devido lugar. Eu percebo que Cris arruma tudo com uma meticulosidade que chega me dar arrepios.
— Você quer que eu cozinhe algo para comer? - Pergunta ele me pegando de surpresa.
— Se você quiser, fique à vontade.
Cris começa a mexer nas panelas, pegando tudo o que precisa, e arruma os ingredientes na ordem que eu acho que ele vai precisar deles. Ele é um pouco grande para minha cozinha pequena, mas parece que isso não é problema, porque com muita elegancia, Cris consegue se virar no espaço reduzido. Depois de alguns minutos cozinhando, percebo que ele está fazendo espaguete e o cheiro é delicioso.
Aproximadamente 20 minutos depois, o jantar está servido e comemos.
— Você mora aqui sozinha?
— Sim, desde sempre.
— E a sua mãe e o seu pai aonde estão?
— Bom, minha mãe já não está conosco, e o meu pai eu não faço ideia de quem seja.
— Sinto muito - diz ele educadamente.
— Eu vi uma foto de uma criança pendurada na escada, é seu irmão?
— Na verdade, é Jonah, o meu filho.
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Amelia
RomanceA pior dor que uma mãe pode sentir, é a dor da perda de um filho. Amelia sentiu na pele o que era ter que se despedir da pessoa que ela mais amava no mundo todo. Após anos de solidão, ela não esperava era que um engano fosse mudar toda a trajetoria...