Trabalho o resto do dia com a cabeça a mil. O encontro com Alex, Cris com ciúmes, é muita coisa para processar. Eu me pego pensando em Jonah. Esses dias foram tão corridos que quase não pensei nele e me sinto estranha, como se o estivesse esquecendo, como se ele já não fizesse falta. Tenho essa sensação de como se ele fosse desaparecer da minha memória a qualquer momento. Imediatamente pego meu celular e começo a ver fotos nossas. No parque, na escolinha, seus primeiros passos, o primeiro dentinho a sair, a primeira palavra, tudo vem para mim como uma enxurrada de lembranças e só percebo que estou chorando quando vejo uma pequena gota caindo sobre a tela quadrada do meu celular. Jonah era tão lindo, tão feliz da sua maneira. Cada vez que ele aparecia, era como se o mundo de repente não fosse tão ruim. Ele me fez ser uma melhor pessoa e me modelou do jeito que ele achava que eu deveria ser. Era como se essa fosse sua missão aqui na terra, me tornar uma pessoa melhor, uma mãe, uma mulher.
Quando percebo, já passaram várias horas e eu ainda estou olhando para meu celular, sorrindo para seu rostinho lambuzado de calda de chocolate. Ele adorava.
Meu telefone fixo começa a tocar, me tirando da nevoa de lembranças e estico a mão para pegar o pequeno aparelhinho retangular que continua tocando até que eu finalmente atenda.
-Escritório de Amélia Regins, em que posso ajudá-lo?
Atendo com minha típica frase e espero que a outra pessoa responda.
-Mamãe?
Sinto um frio na espinha e minha respiração de repente começa a acelerar.
-Jonah? - Pergunto com a voz tremula.
-Não, é Estefan... onde está minha mamãe?
Oh... é o filho da Nora, a outra contadora. Eu estou ficando louca.
-Oi, Estefan, eu sou Amélia, vou passar para sua mamãe, não desliga o telefone viu?
Aperto o botão que passa a chamada para o escritório de Nora e escuto o toque parecido ao do meu, vindo a dois cubículos de distância.
Coloco meu telefone de volta no gancho, e decido que preciso de uma caminhada. Guardo os documentos que estava revisando na minha gaveta e a tranco, depois tranco a porta. Trabalho com documentos confidenciais, que não quero nem pensar no que aconteceria se caem em mãos erradas.
Desço até o restaurante e peço um lanche. Meu estomago começou a reclamar ainda dentro do elevador e eu sei que não ando comendo bem esses dias.
Estou quase terminando minha comida quando vejo duas pessoas entrarem no restaurante quase vazio.
Martha e Cris vão direto para uma mesa no outro extremo do restaurante. Eu me encolho na cadeira, não quero que me vejam, e pelo visto deu certo. Eles conversam por quase meia hora, a vaca não deixa de tocar o braço do meu namorado, e ele não faz nada. Não tira sua mão dele como da outra vez, nem a dispensa. Simplesmente conversam. Em um momento da conversa, ela começa a chorar e ele lhe oferece um pequeno lenço branco que estava escondido no bolso de dentro do terno.
Ela faz um gesto como de agradecimento e limpa suas lagrimas elegantemente. Depois de quase quarenta e cinco minutos de conversa, eles finalmente se levantam e vão até a porta do local e.... se abraçam?
Mas que merda? Eu sei que não deveria ter ciúmes, mas não posso segurar meu coração, que agora está batendo mais rápido de raiva e de tristeza.
Quando percebo, já estou levantando da minha cadeira e indo na direção do meu chefe e da vaca loira. Eu não sou de fazer escândalo, mas quero deixar bem claro a Cris que assim como ele, eu também tenho sentimentos. Posso estar exagerando, pode não ser nada, mas quem nunca fez uma besteira na vida, que atire a primeira pedra e tudo mais.
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Amelia
RomanceA pior dor que uma mãe pode sentir, é a dor da perda de um filho. Amelia sentiu na pele o que era ter que se despedir da pessoa que ela mais amava no mundo todo. Após anos de solidão, ela não esperava era que um engano fosse mudar toda a trajetoria...