Capítulo 1

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— Minha nossa... olha só esse lugar! — Carla seguia logo a minha frente, enquanto saíamos da floresta densa e escura para um lugar todo iluminado e repleto de pessoas. 

— Isso está me parecendo aqueles cenários de idade média da aula de história. — Daniel observava as casinhas de pedras ao nosso redor. 

— Como foi que chegamos aqui mesmo? — me apressei para não os perder de vista. 

— A escola nos trouxe para acampar na floresta, nós inventamos de fazer uma trilha e depois de três dias naquele lugar úmido e escuro chegamos aqui. — ele comentou em tom lamentoso e exausto. 

— Desculpa mesmo gente... foi uma ideia idiota. — me senti completamente culpada. — Relaxa, Alessia, nós viemos com você por que quisemos e não porque nos obrigou, se não tivéssemos aceitado também a ideia, não estaríamos aqui. A culpa não é sua. — minha amiga começou a dar tapinhas nas minhas costas. 

— Obrigada Carla, mas não sei... ainda me sinto culpada. — me encolhi enquanto nos aproximávamos de uma multidão. 

O lugar era como uma enorme praça cheia de barraquinhas, como as de uma feira. Era rodeada por casinhas estilo as da idade média e no centro tinha uma enorme fonte que jorrava uma água tão cristalina que poderia acreditar que daria para beber. Só enxerguei a fonte em meio à multidão, porque era realmente grande. Outra coisa que chamava a atenção era uma enorme construção, que mais parecia um castelo. Estava longe de onde estávamos, por isso percebi que era grande, se dali dava para avistá-la. Não sabia que nos arredores da nossa cidade tinha um vilarejo (ou isso seria outra cidade?) em estilo medieval. As pessoas eram muitas e todas estavam bem apressadas de maneira que nem nos notaram. 

— Não se sinta culpada. — Daniel colocou as mãos em meus ombros. — Está tudo bem. Vamos encontrar um lugar em que possamos nos hospedar para comer e descansar um pouco antes de ligar para nossos pais de algum telefone que ainda tenha sinal, porque nossos celulares definitivamente não têm. 

Concordei e continuamos andando até um lugar onde na frente se lia em uma plaquinha de madeira: "Estalagem da Fronteira". Decidimos entrar e, ao entrarmos, os olhares de algumas pessoas se voltaram para nós. Seis pessoas que comiam em mesas separadas. Pessoas? Espere um segundo... 

— O que é isso? — Carla se aproximou mais de nós. 

— I-Isso não são pessoas normais. — ele sussurrou tentando não demonstrar no rosto o mesmo pânico que ouvíamos em sua voz. 

— Percebi. — comentei baixinho, seguindo com olhares de relance até o balcão. 

— Olá! Em que posso... Oh! Céus! Sigam-me! — uma mulher que tinha mais ou menos a minha altura, mas provavelmente não a minha idade, vestida com algo que chamaria de roupa de Halloween, nos puxou por uma portinha ao lado do balcão. 

— Ahn... olá, meu nome é Alessia e eu... — comecei a explicar assim que a mulher entrou rápido atrás de nós e fechou a porta. 

— Minha nossa! O que vocês estão fazendo aqui? Vocês são humanos, não são? — falou de maneira prática e ansiosa. 

— Sim. Somos humanos, por quê? — estranhei sua ansiedade. 

— Oh, céus! Vocês não deveriam estar aqui! — e levou as mãos a boca nos olhando assustada. 

— Por que não? E o que há de mau em ser humano? — me senti incomodada com sua reação. 

— Oh-ho! — Daniel colocou a mão pesada no meu ombro. — Já sei qual é o problema. 

— E qual seria? — arqueei a sobrancelha. 

— Acho que estamos em Fantasy. — disse em voz baixa. 

— Exatamente. Seu amigo está correto. E é por isso que não deveriam estar aqui. — a mulher cruzou os braços em frente ao corpo e nos encarou preocupada. 

— Calma... Fantasy? Não é aquela cidade sobrenatural que ninguém nunca viu, mas sabe que existe? — tentei recordar. 

— Sim. — ouvi Carla falar e olhei para minha amiga, que estava totalmente pálida. 

— Carla você está bem? — comecei a me aproximar, mas já era tarde. Seus olhos começaram a se fechar e percebi que estava desmaiando. — Daniel! — ele foi rápido e a segurou antes que caísse. 

— Ahn... bem... vocês devem ter passado por uns momentos difíceis na floresta. Venham. Vou dar-lhes abrigo. — a mulher sorriu compreensiva e começou a se encaminhar para além do corredor. 

— Tudo bem... Daniel, traga a Carla, por favor. — e seguimos a mulher. 

Primeiro nos levou a um quartinho com uma cama de madeira de cor clara, uma mesinha com uma daquelas lanternas de leitura em cima e um armário de duas portas, que deveria ser o guarda roupa. Atrás da cama tinha uma janela coberta com cortinas cor de creme, que contrastavam com o enxoval marrom e bege. O chão era de madeira escura; as paredes, bege e ao lado do armário, que ficava à direita da cama, tinha outra porta (deveria ser o banheiro), à esquerda estava uma mesinha. 

— Aqui sua amiga pode descansar em paz. — disse a mulher. 

— Obrigado Senhora. — Daniel colocou Carla na cama. 

— Disponha. E me chame de Ária, por favor. — a mulher sorria gentilmente. 

— Certo. Ária. — e sorriu. 

— Ária, poderia mostrar o quarto de Daniel? Vou ficar aqui com Carla e... 

— Não. De boa... estou bem... — Carla sentou-se ainda meio grogue. — E, sim, me lembro do que aconteceu. Podem ir para seus quartos, não preciso de babá. 

— Certo... — dei um risinho e Daniel me acompanhou. 

Seguimos pelo corredor e três portas após a de Carla (só que do outro lado do corredor), Daniel se instalou. Dei uma olhada rápida no quarto e percebi que era uma réplica do de Carla, só que não tinha janela. Daniel se despediu de nós e entrou no quarto. Seguimos até o fim do corredor e na última porta à direita entramos, onde seria o meu quarto. 

— Espero que não se importe com a decoração, querida... é o melhor que posso fazer. Todos os quartos estão ocupados. — Ária parecia sentir-se sem graça. 

— Ah, não. Tudo bem. Tanto faz. — sorri tentando ser educada e entrei. — Uau! 

— Esse é um dos quartos de uma das minhas irmãs. — entrou logo atrás de mim. 

— Ah. E não vão se importar? 

— Elas não estão por aqui. Não se preocupe. — e lançou um sorriso triste. 

— Ah. Certo... obrigada. 

— Disponha, querida. Só não saia do quarto até a noite, por favor. É perigoso. Vou avisar seus amigos e lhes trazer comida. Tente tomar um banho e dormir um pouco. 

— Por que está nos ajudando? 

— Por que não gosto de mortes e, se descobrirem sobre vocês, vão matá-los em praça pública ou pior. — isso fez meu sangue gelar e senti uma leve tontura. 

— Então temos que fugir daqui! 

— Impossível. 

— Por que impossível? — minha voz estava trêmula. 

— Por que uma vez que um humano entra aqui, não pode mais sair. 

— Estamos presos aqui? 

— Shhhh. Não grite! E infelizmente sim, estão presos. 

— Não... não pode ser... — falei mais para mim mesma e sentia meu corpo tremer. Percebi sua aproximação e sentou ao meu lado na cama. 

— Tudo bem... vou cuidar de vocês e fazer com que tudo dê certo para que consigam se adaptar aos costumes daqui. — e tocou meu ombro delicadamente. Olhei para ela com lágrimas nos olhos e não consegui dizer nada, me abraçou como uma mãe faria com uma filha. 

— Obrigada.

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