Capítulo 14

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— Você está mesmo de acordo com a nossa decisão? — Cameron disse depois que nos despedimos de todos e nos recolhemos em nosso quarto no mais completo silêncio, para que não percebessem que ficamos fora até às três da manhã.

— Tenho um pouco de medo, mas não tenho escolha. — e me ajeitei na cama.

— Você confia nele?

— Nele quem?

— No garoto das sombras.

— Confio.

— Por quê? — e apagou as luzes do abajur.

— Não sei. Algo me diz para confiar e é isso que estou fazendo. Vocês mesmos disseram para seguir meu coração e meus instintos. — tentei encerrar a conversa.

— Certo. Desculpe se a incomodei com essas perguntas, mas precisava saber o motivo pelo qual você confia tanto naquele garoto.

— O desculpo se me responder o porquê precisa tanto saber disso.

— Tenho que te impedir de se apaixonar por qualquer das criaturas

daqui.

— Por que não posso me apaixonar por nenhuma das criaturas da-

qui?

— Se você se apaixonar pela criatura errada, pode acabar morrendo e

algumas dessas criaturas vão encantá-la apenas para usá-la e depois jogar fora.

— E se me apaixonasse por você? — falei antes que minha mente me censurasse. Agradeci por estar escuro, porque meu rosto corou e o ouvi tossir como se tivesse engasgado. — Você está bem?

— Sim. — e limpou a garganta parecendo se recompor. — Você não

está...?

— Não. — ri de leve. — Boa noite.

— Boa noite.

Depois de um longo tempo em silêncio adormeci. No almoço do dia seguinte, não vi o rapaz das sombras em lugar nenhum do refeitório/praça de alimentação. Era um domingo e era bem capaz de almoçar em outro horário, mas mesmo assim fiquei preocupada com alguma coisa que não sabia explicar.

Almocei com os amigos de Cameron, mas não falei muito. Passei a noite toda tentando decorar o que faríamos na peça e não seria muito agradável. Noah dissera que fez duas cópias e entregara a outra ao garoto das sombras, então também já devia estar ensaiando. Vai ver que era isso mesmo que estava fazendo e por isso não veio almoçar no horário como todo mundo.

Voltei para o quarto, tomei um banho lento e demorado, tentando repassar o que aconteceria e quais seriam as reações que se esperava que tivesse. Fiz quase uma meditação, só que ao invés de parar de pensar e encontrar a paz, só consegui pensar ainda mais e fazer uma verdadeira guerra na minha mente. Saí do banho e coloquei uma roupa qualquer de quem pretende ficar na cama o dia todo. A encenação seria apenas de noite, então tinha o dia todo para tentar relaxar.

Deitei na cama e peguei o livrinho de Ária para tentar distrair a mente com qualquer outra coisa que não fosse a atuação. Deu certo, mas ao invés de aprender sobre os costumes e a cultura dessas criaturas, só consegui pensar mais e mais na minha família e uma saudade veio me cortar o coração. Comecei a chorar e agradeci por Cameron não estar no quarto para ver.

O que será que a minha família estaria pensando e fazendo agora? Minha mãe deveria estar realmente triste e provavelmente devem ter dado algum remédio para que adormecesse. Meu pai deveria estar fazendo todo o possível para manter a casa em ordem, em meio ao falso luto que não sabiam que viviam. Meu avô provavelmente estaria recolhido em seu quarto, em silêncio, sofrendo calado a própria dor e meu irmão deveria estar perguntando por mim todos os dias, sem realmente entender o que me acontecera e sem que ninguém contasse o que achavam que havia se passado.

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