Capítulo 4

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Daniel arrumou algumas de suas coisas numa mochila que Aron lhe deu e se despediu de mim e de Carla entre lágrimas. Eu odiava o fato de termos que nos separar, mas precisávamos seguir nossos caminhos e Aron pareceu confiável. Daniel estará em segurança.

— Adeus Dan... — Carla chorava e sua voz estava embargada.

— Tchau Dani. — Me segurava para não chorar também. Não queria ter que larga-lo "sozinho".

— Até mais meninas! — E nos abraçou forte.

— Vocês poderão se encontrar todos os fins de semana. — Ária ria da nossa ceninha.

É muito tempo! Antes nos víamos todos os dias! Estudávamos juntos. — Carla encarou-a irritada.

— Mas um dia vocês iriam se separar. Fariam faculdade, iriam trabalhar e é quase isso que está acontecendo aqui, só um pouco diferente. Vocês não vão deixar de se ver. — Aron se aproximou de nós calmamente.

— Vou sentir falta de vocês! — Daniel sussurrou antes de nos soltar e partir com Aron.

— Nós nos veremos em breve! — Gritamos acenando para eles, que seguiam pela viela ao lado da estalagem, em direção à Deus sabe onde.

— Agora vamos levar Carla para minha amiga Rose e veremos do que será capaz! — Ária nos fez sorrir em meio às lágrimas com sua animação exagerada.

Nós a seguimos, após Carla ter arrumado suas coisas em uma mala de viagem que a feiticeira lhe deu. Minha amiga tinha absoluta certeza de que conseguiria passar no teste e não precisaria ir para a escola, mas me garantiu que estaria torcendo para que me formasse logo e conseguisse sair de lá. Também disse que esperaria ansiosamente os finais de semana para nossos encontros e fofocas.

Encontramos a amiga fada de Ária em um campo aberto e florido em meio ao bosque perto da estalagem. Rose era uma mulher baixinha, mas era muito bonita e sua pele era de um tom rosado com um brilho perolado (parecia esculpida em pérola rosada). Os cabelos eram longos e ondulados, indo até a cintura. Usava um vestido rosa florido que batia nos joelhos e notei que estava descalça. O que mais impressionava naquela criatura eram suas asas, que só se percebia se batesse a luz ideal. Eram quase como os fios de uma teia de aranha e fiquei pensando como conseguiria voar com asas tão frágeis.

A fada tinha uma voz totalmente melodiosa, que me lembrou do barulho de diversos sininhos e fiquei pensando se realmente tinha àquela altura ou se era ainda menor. Sua voz era quase um sussurro e tive que apurar bem os ouvidos para ouvi-la direito. Fez o teste com Carla, que foi basicamente o seguinte: Rose deu à Carla uma espécie daqueles globinhos de vidro, que geralmente têm paisagens ou casinhas ou sei lá o que dentro. Esse tinha uma paisagem, um campo de flores ao sol poente. As flores pareciam murchas e tristes e o sol parecia tentar matá-las. Entregou o globo para a minha amiga, que segurou com todo o cuidado e seguiu as instruções da fada. Fechou os olhos, respirou fundo e colocou uma das mãos sobre o globo, acariciando-o como a um gato. O globo começou a brilhar em um tom como o da pele de Carla e então, quando tirou a mão de cima, a paisagem mudou totalmente. O céu que estava alaranjado assumiu um tom arroxeado e as flores que pareciam mortas, agora estavam brilhando a luz do luar prateado.

— Parabéns, minha querida. Você é uma Fada do Anoitecer. — Rose pegou o objeto de volta, com um sorriso doce.

Beleza! — Carla comemorou e em seguida seu sorriso pareceu se apagar. Olhou para mim. — Desculpa...

— Você não tem que se desculpar. Vá lá e faça seu melhor. Sei que vai conseguir e vamos nos ver em breve. — Falei depois de me recuperar do choque. Ela correu até mim e me abraçou forte.

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