Capítulo 22

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No dia Lovis (quinta-feira) depois do almoço, nós havíamos perdido as três primeiras aulas com uma palestra interminável em que tentavam descobrir quem ajudou Lewis e Jim a fugir na noite passada e também se alguém vira quando Carmen e Ônix saíram, mas as respostas foram todas negativas, é claro. Como alguém poderia saber? Só o nosso grupo sabia e certamente ninguém iria dizer nada. Talvez pensassem que Ônix e Carmen foram as pessoas que ajudaram Lewis e Jim a fugir... ou até mesmo entendessem que como eram fantasmas, passar pelas paredes não seria um problema e vagar na noite sem serem vistos também não.

Conversávamos distraidamente, fingindo tentar entender quem os ajudou a fugir, quando o iPhone vermelho de Cameron tocou. Enquanto alguém falava, levantou-se da mesa e começou a caminhar para um pouco mais longe de nós. Não sabia sobre o que era, mas senti algo como um mau pressentimento... No momento, resolvi não me importar com o pressentimento ruim e continuei a conversa, ignorando alguns comentários de Ethan e algumas olhadelas que fingia dar discretamente. Até que Cameron voltou com uma expressão dura e fechada, ficou quieto todo o restante do almoço e quando perguntávamos o que houve, respondia que não era nada. Talvez tenha enganado aos outros, mas não a mim.

Alguma coisa aconteceu. E lá no fundo da minha alma, sentia que

não era algo bom. Será que haviam encontrado Lewis e Jim? Será que queriam castigar Ária por ajudar a escondê-los? Será que o Mestre das Sombras nos havia delatado por que talvez tenha nos seguido através das próprias sombras que nos escondiam? Será que a Rainha queria aumentar o castigo por desafiála? Será?

Quem já esteve diante de tantos "serás" sabe bem como é uma situação angustiante. Você sabe que algo aconteceu e fica tentando adivinhar o que foi. Talvez esse tentar adivinhar seja a pior parte de uma notícia ruim. Sua mente criativa (ou não) imagina diversas hipóteses do ocorrido e na maioria das vezes é bem pior (ou melhor) do que o que você imaginara.

Acontece que no final da última aula, ao invés de seguir para o dormitório, acabei encontrando com Cameron assim que saí da sala de aula de Leslie. Sua expressão ainda era dura, mas em seus olhos captei algo como um profundo pesar. Uma tristeza em ter que dar uma notícia ruim. O que seria? Seria sobre Ária para abalá-lo tanto?

— Alessia... preciso falar com você. — seu tom de voz era mais baixo que o de costume. — precisamos encontrar Ária.

— Tudo bem, mas por quê?

— Precisa muito falar com você. Ela e outra pessoa... — e deixou a frase morrer, mas não insisti porque percebi que não queria dizer mais nada.

Apesar de estar bem tarde da noite, a escola nos deixou sair, já que dissemos que era urgente e realmente precisávamos falar com uma pessoa (que Cameron mentiu sobre quem era e também mentiu sobre o motivo da nossa urgência). Pelo menos pensei que fosse mentira quando disse que alguém próximo a nós morreu.

Seguimos em silêncio o mais rápido que conseguimos e chegamos à estalagem bem tarde, quase às duas da manhã. As luzes estavam acesas e Ária parecia conversar com alguém em uma das mesas, que antes abrigava os fregueses. Entramos. Ária e sua visitante nos olharam com uma expressão de tristeza. A visitante era Rose, a fada amiga de Ária que emprestara seu DNA à Carla. Carla... onde ela estava? Será que era essa a urgência? Carla deveria estar com muitas saudades! Fazia um bom tempo que não nos falávamos! Também não falava com Daniel há muitos dias...

— Alessia... sente-se, por favor. — foi como começou a conversa pela voz de Ária e havia algo de errado em seu tom de voz. Onde estava todo o poder que ressoava junto a sua doce voz? Onde estava todo o seu olhar alegre de feiticeira? Até a sua beleza habitual parecia minguada pela tristeza.

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