capítulo 6

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- Pensei que não te voltava a ver! - Diz e sorrio abertamente.

- Eu também, não sabia onde te procurar ou se me querias ver.

- Claro que te queria ver. Passei imenso tempo há tua procura, até que vi há pouco a mesma capa negra e começei a correr. - coro, ao pensar que ele esteve à minha procura. - Porque fugiste no outro dia?

- Tinha de ir para casa, já era tarde. - Pensando bem, não lhe estou a mentir totalmente.

- Gostava de saber o teu nome, e mais sobre ti, se não te importares. - diz.

Sentamo nos em duas caixas de madeira ao fundo do beco, encostados à parede.

- Eu falo te sobre mim também, sem me falares de ti.
Chamo me Dimitri como já disse antes e tenho dezasseis anos. Os meus pais abandonaram me e um homem e a sua esposa acolheram me. Eles criaram me como se fosse seu filho e arranjaram me me trabalho na sua loja de casacos de pele, aquela ao fundo da rua.
Agora és tu, fala me sobre ti.

- Chamo me Nadya ( não devo ser a única Nadya da Rússia, por isso ele não deve desconfiar)...

- Ei, tens o mesmo nome que a princesa, Nadya Petrov! - diz.

- Sim, que coincidência, continuando. Tenho 15 anos, moro com os meus pais e com a minha irmã. - sinto mal por não lhe poder contar mais, mas não acho seguro contar que sou princesa.

- Está bem, não é muito mas serve, e fico feliz por me teres contado isso. Nadya, quero perguntar te uma coisa. Porque estás sempre a esconder nesse capuz, porque escondes esse lindo cabelo louro?

Bolas, e agora o que digo? Espero um bocado, a pensar na resposta, o que se torna um pouco suspeito.

- Eu tenho frio, na cabeça. - Não podia ser mais suspeito.
Ele ri às gargalhadas, tanto, que eu também começo a rir, rir da minha estúpida resposta.

- Está bem, e porque nunca te vejo durante o dia, na vila e só te vejo à noite? - Pergunta.

- Tantas perguntas, agora sou eu a perguntar. - digo, só para não responder - que línguas sabes falar?

Respostas estúpidas, perguntas estúpidas.

- Russo e nada mais, nunca andei na escola, não tinha dinheiro para os livros, por isso fiquei sempre a trabalhar na loja. Há imensas crianças na vila que não vão à escola. E tu, sabes falar alguma sem ser russo?

Boa, fiz uma pergunta que eu própria não posso responder.

- Russo, apenas. - sem contar com o alemão, o inglês, o espanhol, o francês e o italiano que aprendi nas aulas do palácio.

- Já alguma vez a viste, a princesa? Dizem que ela é lindíssima, de uma beleza incomparável. - Diz, olhando para as estrelas a sorrir, como se estivesse a imaginar a imagem da princesa no céu estrelado. Se ao menos ele soubesse, se eu lhe podesse contar. E se ele gostar mais da princesa Nadya do que eu própria?

- Não, nunca a vi - digo de cabeça baixa.

- Ouvi dizer que o seu cabelo brilha mais que o sol, que a sua pele é mais branca que a neve e que os seus olhos são tão azuis, cristalinos e puros como a água...

- Pára. - digo e ele vira se para mim surpreendido. Não aguento mais. - Tenho uma coisa para te mostrar.

Levanto me ponho me à sua frente. Respiro fundo, e tento não pensar nas consequências a que este ato me poderá levar.
Lentamente,  retiro o capuz e ele olha para mim, com um olhar confuso.

- Eu sou a princesa, desculpa não te ter dito mais cedo. - A sua expressão muda, de confusa para assustada.  Ele abre muito os olhos, levanta se e recua para trás. Imediatamente, caí no chão de joelhos e faz me uma vénia até a sua testa tocar na neve.

- Não precisas de fazer vénias ou de me tratar como uma princesa. Somos amigos, não somos? - levanto o, agarrando lhe os braços.

- É mesmo você? Porque não me contas te antes? - pergunta.

- Ainda não tinha a certeza se podia confiar em ti, desculpa. Mas não podes contar a ninguém, ouviste! Não podes contar a ninguém que me viste ou me conheces te. Ninguém pode saber que eu saí do palácio.

- É por isso que nunca te via de dia na vila, não moras lá. Então, de noite sais do palácio às escondidas? Isso é fantástico. - Finalmente sorri.

- Sim, à noite esgueiro me pela porta dos empregados, é divertido. Mas se alguém descobre, nunca mais me deixam sozinha.

Mais calmos, voltamos a sentar nos nas mesmas caixas de madeira.

- E como é? A vida no palácio, quero dizer. Deve ser fantástico os bailes, as roupas, os banquetes , as grandes festas e luxos...

- É horrível, as aulas difíceis, ser se educado a toda a hora, as regras sufocantes e o pior são os bailes. - Digo. - Por isso é que saio às vezes durante a noite, para ser eu mesma, para não ser uma princesa.

- Sabes, admiro a tua coragem. A vida na realeza não deve ser fácil, as regras, e assim. - diz .

- E como é a vida na vila? Deve ser muito dura, no palácio fazem sempre tudo por mim.

- Sim, é dura, mas não deixa de ser divertida, as romarias, as danças... Às vezes, nós, os mais crescidos, ensinamos aos mais novos a patinar, a trepar às árvores a nadar no riacho perto da vila. Fazemos bonecos de neve, batalhas de bolas de neve, e descemos as colinas em cima de tábuas madeira velhas como se fossem trenós.
E uma vez por ano, o meu pai leva me a caçar na floresta e caçamos carne para toda a vila.
Mas não é tudo diversão, acordar super cedo para alimentar os animais, como sou filho único tenho que ajudar a minha mãe com as tarefas e às vezes passamos fome, Mas não é má de toda a vida na vila.

- Apesar de dura deve ser muito divertida, sempre tens mais liberdade que eu, quase nem posso sair do palácio. E estou sempre ocupada com as aulas,  por isso não tenho tempo nenhum para mim ou para fazer algo de que goste. Quase não vejo os meus pais, é como se não existissem e a minha irmã anda sempre ocupada com a tarefa de se preparar para ser imperatriz. E para além disso, nunca tive amigos. -Ele parece surpreendido com esta última frase.

- Nunca tiveste amigos nenhuns? - Aceno, como se estivesse a dizer que sim - Isso é horrível!

- Pois, nunca tive amigos verdadeiros. Às vezes vão lá ao palácio uma duquesas da minha idade para tomar chá, mas são todas umas snobs. Não me enquadro com elas.

- Tu realmente não pareces ser uma princesa, agrada me. Bom, já tens um amigo agora, se vossa alteza não se importar. - Sorri, levanta se e faz uma vénia.

- Obrigado, mas já te disse para não me chamares de   " alteza ". - Digo e bato lhe na cabeça enquanto ele faz a vénia. Caímos os dois às gargalhadas.

                   *********************

- Até outra noite então. - diz antes de eu sair do beco. - Ei, Nadya, obrigado por me teres contado a verdade.

Sorrimos os dois, ponho o capuz na cabeça e abandono o beco a correr, deixando para trás o meu único e primeiro amigo rapaz.

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