Antes de sair do quarto, a Clarissa alerta me que me esqueci da minha coroa. Coloco ma no topo da cabeça, e saio do quarto.
Atravesso o corredor e dirijo me à escadaria.
Permaneço no cimo da escada, e olho lá para baixo.
Uma explosão de luz, cor e som enche o salão, mas isso é apenas um disfarce bonito que os nobres usam para esconder mexericos, traições, ganância, inveja e falsidade.
Um pequeno homem ao meu lado no topo da escadaria, carrega nas mãos um pequeno papel enrolado. Assim que põem os olhos em mim, desenrola o papel rapidamente e começa a apresentar me. Para o acompanhar, agarro nas pontas do meu vestido para não tropeçar e começo a descer as escadas com um pequeno e discreto sorriso e a olhar para toda a gente.- Sua alteza real, a princesa Nadya Petrov, filha do imperador da Rússia e Grã Duquesa de Moscovo.
Todos põem os olhos em mim, o que me deixa nervosa. O meu pai está no fundo da escadaria acompanhado pela minha mãe à minha espera. Quando chego, põem o braço nos meus ombros, sorri e olha de novo para o cima das escadaria.
Lá em cima aparece a minha irmã, com um vestido em tons de amarelo e castanho e com a coroa a enfeitar a sua cabeça.- Sua alteza real, a princesa Anna Petrov, filha do imperador da Rússia e futura imperatriz.
À medida que ela desce as escadas, de costas direitas, sorriso atrevido, e com um olhar misterioso por debaixo daquela máscara, todos à nossa volta batem palmas com força.
Assim que a minha irmã chega ao fundo das escadas, o meu pai avança um pouco para mais perto do meio do salão, pronto para fazer um discurso.- Quero agradecer a todos a vossa presença neste baile de inverno. Espero que todos se divirtam muito esta noite, e que apreciem o conforto da minha casa. - os convidados voltam a bater palmas, e a orquestra retoma o ritmo da música.
Algumas pessoas reúnem se no centro do salão a cumprimentar a minha família e outras permanecem nos cantos da sala a mexericar.
Eu apenas fico encostada à uma parede, a contar os segundos para que esta enorme farsa acabe. Uma pequena empregada dirige se a mim, levando uma bandeja numa mão.- Deseja uma bebida alteza? - diz em voz alta mas de cabeça baixa, e consigo perceber que é a Aryana. Ela baixa o tom de voz - Como está a correr?
- Ainda mal começou e já estou enjoada. - digo baixinho e pego numa das bebidas da bandeja - Muito obrigada.
Ela sorri, como forma de reconforto, e desaparece no meio dos convidados. Começo a beber aquilo que ela me deu, mas assim que o líquido amargo me toca nos lábios, percebo que é intragável. Pouso o copo de vidro numa pequena mesa ali perto e volto para o meu cantinho no extremo da sala.
Tenho frio, os meus pés estam a matar me de dores, a coroa é incrivelmente pesada, e sinto me tão presa neste sítio. Desejava estar nos seus braços quentes, aconchegantes e fortes, enquanto víamos juntos a Aurora Borea debaixo do céu cheio de estrelas. Quando mais preciso dele, não o consigo alcançar.
Desejava pelo menos ir lá para fora e respirar o ar puro do inverno, em vez deste cheiro poluído a tabaco e álcool.
Alguns velhos com sorrisos pervertidos, convidaram me várias vezes para dançar, convite ao qual eu recusei tantas quantas as vezes quanto ele foi feito.Passado algum tempo, chegou a hora da tradição mais antiga da nossa família. Em cada baile, o imperador dança a primeira valsa da noite com o filho herdeiro ao trono, com destino a abrir as danças para o resto do evento.
Por isso, o meu pai e a minha irmã posicionam se no centro do salão, esperam que a música comece a tocar, e dão início à valsa. Parecem tão felizes os dois a dançar, sendo o centro das atenções de todos à sua volta. Provavelmente a minha irmã já deve estar habituada a isso, como futura imperatriz, muita gente lhe dá imensa atenção e põem nela expectativas incríveis. Estou habituada a estar na sua sombra, a não ser notada, mas pensar que um certo alguém não me vê em segundo plano, deixa me tão feliz.
Eles param de dançar e afastam se lentamente. Agora, com a pista de dança aberta, todos já podem começar a dançar, e a pista enche se de damas e cavalheiros elegantes nos seus melhores vestidos e fraques.
Olho para a pequena orquestra no canto da sala, e ponho imediatamente os olhos no pianista. Curiosamente, é o meu professor de piano, e decido aproximar me para observar o seu trabalho mais de perto.
Ele toca perfeitamente, como um verdadeiro mestre. É como um espelho da partitura, todas as notas estão certas e a melodia combina maravilhosamente com o resto da orquestra.
Quando a música acaba, o professor nem sequer repara que eu estou ali, a observa lo escondida atrás de uma jarra de flores em cima de um mesa.
Aproximo me mais, e mesmo quando ele estava a virar uma página do livro de partituras, ele olha para mim.- Olá professor Jonpierre! Como tem estado o senhor?- pergunto, tentando parecer alegre, apesar da dor em que o meu coração se encontra.
- Ah, princesa Nadya, nem a reconheci com essa linda máscara! Deixe me dizer que está muito bonita. Tenho estado muito bem obrigado, e a menina?
- Chame me apenas Nadya, e obrigado pelo elogio. Tenho estado muito bem obrigada. Adorei a música que estava a tocar à pouco, foi absolutamente lindíssima.
- Ainda bem que gostaste! - diz com orgulho. - Já começaste a trabalhar na tua música? Estou ansioso por ouvir.
- Não, ainda não a comecei. Mas começarei em breve, não se preocupe.
- Mal posso esperar por poder ouvi la. Mas tens a certeza que estás bem? Sei como odeias estes bailes da alta sociedade. - gosto que ele se preocupe, sinto que ele é meu amigo.
- Estou bem, mas não suporto estes eventos da realeza, simplesmente enojam me. Mas posso sempre refugiar me na música.
- Espero que a música seja sempre o teu refúgio, princesa.
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A Pequena Imperatriz
Historical FictionRússia, 1890. Nadya Petrov, a princesa do império russo e Grã Duquesa de Moscovo, está habituada a estar rodeada de luxo e requinte. Apesar de viver uma vida rica de aristocrata e rodeada de pessoas como ela, a princesa russa não se sente verdadeira...