Meia hora se passou, e aquecidos pelas palavras e pela conversa, o frio quase não se sentia.
Conversamos sobre imensas coisas, mas algumas vezes parecia que os meus ouvidos se desligam e eu só conseguia ver o seu rosto e a sua boca a mexer, sem palavras a saírem dela.- Ei, queres que eu te mostre um sítio aqui perto? - diz o Alex saltando do caixote e despertando me.
- Eu não sei, e se alguém nos vê? - pergunto receosa.
- Não te preocupes, toda a gente já está dentro das suas casas. Vem. - estende me uma mão quente e seguro a em sinal de confiança.
Ele puxa me rapidamente, e comecamos a correr os dois juntos pela neve. Não faço ideia a onde vou, mas também não me importa, vou onde o destino me levar.
Penso que saímos da vila, visto que há nossa frente um bosque cerrado, negro e abundante parece pronto para nos engolir e levar para as trevas.
Ele continua a puxar me com força, um pouco mais há frente. O vento puxou o meu capuz para trás, deixando os meus cabelos loiros compridos livres para brilharem no meio da escuridão, para sentirem o cheiro do frio e o sabor da liberdade.
Saltamos ramos, contornamos troncos secos, sem nunca pararmos de correr.
Parece que finalmente chegamos ao fim da floresta, ele abranda ritmo, pára e olha para o céu a sorrir. Olho para ele sem saber para onde ele está a olhar.- Para onde estás a olhar? - digo confusa.
Sem tirar os olhos do céu, o Dimitri põem se atrás de mim, olho para ele por cima do ombro e encosta o seu peito às minhas costas.
Ele agarra o meu queixo com os dedos, e aponta o o em direção ao céu.Agora percebo.
À nossa frente, um oceano de cores pintou os céus salpicados de estrela minúsculas, essas cores vibram e dançam ao sabor do vento.
Nunca vi algo tão bonito na minha vida, não acredito no que os meus olhos vêm. Não sei o que é, mas apenas sei que o posso partilhar com o Dimitri.
Durante um pouco, tiro os olhos do céu, olho para baixo e vejo um lago congelado imenso, rodeado por montanhas altas e brancas cobertas por pontos verdes. No lago coberto de gelo, o céu pintou com um pouco das suas cores uma réplica do quadro que se estende no céu.
Os meus olhos ficam paralisados e não consigo desviar o olhar de toda aquela beleza. Parece que eu afinal não conhecia o meu reino tão bem como pensava.
Quando ganho novamente a noção da realidade, apercebo me que o Dimitri ainda está encostado a mim.- Dimitri, o que são? - pergunto sem tirar os olhos do céu colorido. Ele afasta se um pouco de mim e coloca se ao meu lado.
- Chama se Aurora Boreal. Não sei bem o que são, apenas sei que aparecem no céu à noite quando está frio. Às vezes também saio de casa às escondidas quando preciso de pensar e venho para aqui olhar para este espetáculo de cores. Eu acho muito relaxante, as cores a flutuar magicamente no céu.
Os seus olhos brilham das mesmas cores que o céu, o cinzento azulado dos seus olhos passou a uma mistura de verdes, azuis, rocho e branco.
Sinto um pequeno desejo incontrolável e desconhecido cá dentro do meu peito.
Rapidamente, estico me um pouco para cima e planto lhe um pequeno beijo na face corada.- Obrigado por me teres trazido aqui, é realmente lindo o mundo fora do palácio. - digo timidamente, enquanto ele parece paralisado.
Ele olha para mim envergonhado, subitamente agarra me nos ombros e beija me.
Nesse momento, já não sei quem sou, Princesa Nadya Petrov ou apenas Nadya. Embora saiba que assim não pode ser, gostava de poder ser só a Nadya, eu própria.
No meio daquela neve gelada toda, o calor dos seus lábios parece derreter todo o gelo à nossa volta. O batimento acelerado dos nossos corações são a única coisa que se ouve, neste lugar deserto povoado apenas pela beleza e solidão.
Ele larga me e afasta se alguns passos. Pensei que a sua reação fosse sorrir, mas pelo contrário, a sua cara é séria, num misto de tristeza e preocupação.- O que foi? Fiz algo de mal? - pergunto confusa.
- Não é isso, mas como plebeu estou proibido de te amar e o meu amor por ti nunca será aceite pelo resto das pessoas, especialmente pela tua família. E tu como princesa, não me poderei casar contigo, e talvez até já tens um pretendente escolhido. - diz virando as costas para mim e fixando os seus pés debaixo da neve.
- Dimitri, eu...
- Eu nem sequer estou à tua altura, sou apenas um simples rapaz pobre da vila e tu és uma princesa, os nossos mundos são totalmente diferentes.
Estou para aqui a falar, mas eu nem sequer sei se tu gostas de mim...- Pára! - grito, ele vira se, levanta os olhos para o meu rosto e agora sou eu que fixo os olhos na neve - Isso importa assim tanto para ti, o facto de sermos de mundos diferentes? Isso para mim não me importa. Eu gosto de ti. Eu gosto de ti desde o dia em que me beijas te no beco e não quero saber se sou uma princesa, porque eu quero ficar contigo. Afinal de contas, durante toda a minha vida não pude escolher quem ser ou quem serei, planearam toda a minha vida futura e nunca ninguém me perguntou se eu gostava das decisões tomadas sobre o meu futuro. Não escolhi nascer princesa, está na hora de eu tomar as minhas próprias decisões, e a minha decisão é que eu quero poder amar te sem que ninguém julgue a pessoa que amo pelo seu dinheiro ou estatuto social. Tu não és um simples rapaz pobre, tu és tu e eu gosto de ti como és. Não preciso de dinheiro, nem de luxos ou festas de chá - Levanto a cabeça - Eu só preciso de ti.
Volto a baixar o rosto, as lágrimas começam a rolar pelas minhas faces, mas antes de caírem no chão, congelam em forma de pingentes devido às temperaturas negativas. Olho para aqueles dois cristais transparentes em forma de gota caídos na neve. Ele aproxima se de mim, põem os braços à minha volta e aperta me contra ele. Choro, por pensar que ele acha que eu penso nele como um rapaz pobre da vila e que eu não me importo com ele.
- Desculpa por te ter feito chorar, não era minha intenção. Tu, também me amas? - pergunta baixinho ao meu ouvido.
- É claro que te amo, mas não quero que penses que tenho pena de ti só por viveres na vila. Não quero que penses em mim como uma princesa.
- Não penso, eu penso em ti como uma rapariga bela, fantástica, corajosa, sem medo de nada.
Dito isto, afasta me um pouco e volta me a beijar, debaixo da luz de mil estrelas.
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A Pequena Imperatriz
Historical FictionRússia, 1890. Nadya Petrov, a princesa do império russo e Grã Duquesa de Moscovo, está habituada a estar rodeada de luxo e requinte. Apesar de viver uma vida rica de aristocrata e rodeada de pessoas como ela, a princesa russa não se sente verdadeira...