capítulo 16

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Depois de comermos, ficámos juntos à fogueira a aquecer nos e a conversar sobre a nossa vida. Eu permaneci me calada, e visto não ter qualquer experiência de vida na vila, achei que não era bom falar lhes das minhas rotinas de aulas e bailes e arriscar ser apanhada. Por isso, apenas fiquei sentada a ouvir atentamente as histórias fantásticas sobre as suas vidas.
Quando eles se ouvem uns aos outros, parecem achar os temas perfeitamente normais, cenas das suas vidas, ao contrário de mim, que fico fascinada com as suas histórias.
Acordar cedo para tratar de animais, beber o leite colhido pelas nossas próprias mãos, ir ao poço buscar água fresca, fazer coroas de flores selvagens na primavera, trepar a uma árvore, ver a vista do cimo e sentir a brisa, ir ao bosque colher frutos silvestres e doces, deitar me na relva com orvalho fresco da manhã ou adormecer ao som calmo da natureza debaixo de uma árvore ao sol quente da tarde.
Coisas que eu nunca fiz, nem nunca poderei fazer.
Uma vez, em pequena, tentei subir a uma das árvores do castelo, mas fui apanhada em flagrante pela Clarissa mesmo antes de poder tocar no tronco rugoso da árvore, tão alta que parecia tocar no céu e acariciar as nuvens com os seus ramos cobertos de folhas verdes.
O Dimitri também contou algumas coisas, que tinha de limpar as peles dos casacos todos os dias ou que recebeu a visita do imperador e da princesa na sua loja. Todos à volta ficaram espantados, todos faziam perguntas sobre como era a princesa e tal como o Dimitri me disse um vez, disseram que o meu cabelo brilhava mais que o sol ou que os meus olhos eram de um lindo tom de azul. Alguns comentaram que o imperador era boa pessoa e que tomava bem conta do seu povo.
Por momentos, senti orgulho de ser princesa, assim posso garantir que estas pessoas continuam a pensar assim do seu líder, que ele é um homem justo e bondoso.
Agora estamos apenas a ouvir mais algumas histórias e a beber uma espécie de chá aguado sem sabor, mas sinto que é o melhor que chá provei.

De repente, uma enorme rajada de vento gelado sopra no ar e gela os nossos corpos frágeis, percorrendo o caminho pelas nossas colunas acima. A inesperada rajada de vento foi tão forte, que o meu capuz descai para trás da minha cabeça deixando o meu longo cabelo louro a esvoaçar ao sabor do vento forte.
Quando o vento acalma, todos ficam a olhar me com um olhar estranho, desconfiado, algumas bocas abrem se de espanto, umas sobrancelhas são arqueadas. Devido ao pânico que me bloqueia por completo, demoro um pouco a agir e a voltar a colocar o capuz no seu lugar.

- Esse cabelo louro e comprido, é me familiar. E a tua cara também, lembro me de a ver uma vez, à muito tempo. Não nos vimos antes? - um rapaz fala comigo num tom desconfiado. Sem conseguir falar, o Dimitri intervém rapidamente, salvando me dos olhares suspeitos.

- Isso é impossível, a Lara acabou de chegar esta manhã e ela vive muito longe. Não a poderias ter visto, nunca saíste da vila. - diz para o rapaz, e creio que este acreditou, pois larga o assunto e começa a conversar com o rapaz ao seu lado.

O Dimitri olha para mim e pisca me o olho. Estou muito aliviada por não me terem descoberto, embora ainda sinta as mãos a tremer, não devido ao frio, mas ao medo que senti quando aquele rapaz me enfrentou.

Continuamos a conversar, calmamente como se nada tivesse acontecido.
Passado algum tempo, um rapaz mais velho diz que já está a ficar tarde e devíamos todos ir dormir, por isso três miúdos fazem aparecer algumas mantas grossas e cobertores felpudos, e estendem nos todos na neve formando um grande quadrado rendilhado, fofo e quente.

Não sei o que fazer, pensei que não ficaria aqui toda a noite, olho discretamente desesperada para o Dimitri em busca de respostas, e o seu olhar e sorriso doces acalmam me e dizem me que vão correr tudo bem.
Deito me numa ponta da manta, um pouco incomodada. O Dimitri está na outra ponta, deitado contra mim, tento olhar para ele, mas a minha visão está completamente bloqueada pelo corpo de outra rapariga.
É estranho dormir ao ar livre, especialmente porque o vento de inverno sopra fortemente, e entra sem permissão pelas minhas costas.
O céu está lindo esta noite, um céu de inverno, gelado, brilhante, belo e esperançoso.
Sem dúvida que dormir debaixo deste céu estrelado, é a melhor coisa que já fiz.
As estrelas contam me sobre o meu futuro, aquele que anseio por saber como será. Se estarei com o Dimitri, se a minha irmã se tornará numa boa imperatriz.
Adormeço, enquanto olhava aquele céu magnífico e pensava no meu futuro.

Adormeço, enquanto olhava aquele céu magnífico e pensava no meu futuro

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Sou despertada por uma voz familiar, que me abana delicadamente. Quando me viro pesadamente para ver quem é, dou de caras com o Dimitri abanar me.

- Acorda Nadya, levanta te. Temos de ir, não faças barulho. Vou levar te para casa. - Diz, pegando me na mão e puxando me com força para me levantar.

Tento falar, mas ele impede me colocando toda a sua mão quente sobre a minha boca. Puxa me, andamos muito devagar e silenciosamente pela neve, e quando perdemos de vista a fogueira, paramos.

- Acho que já podemos ir, mas temos de ser rápidos para não nos apanharem. Se descobrem que eu desapareci, vão fazer muitas perguntas que não posso responder.

- Por momentos pensei que teria de ficar lá toda a noite, estava preocupada. - digo cansada por termos vindo a correr.

- Espero que te tenhas divertido, o que achas te dos meus amigos? - pergunta.

- São simpáticos, especialmente aquela menina, a Anastasia. - ele sorri, mas eu, pelo contrário, fico um pouco triste e preocupada. - Dimitri, quem era a rapariga com que estás a conversar?

- A Yuri? Uma amiga de infância, não te preocupes.

- Então porque é que os vossos pais estão a pensar em casamento? Porque não me contas te nada? - digo, um pouco zangada. As lágrimas enchem me os olhos e a minha visão torna se turva. Fixo o chão de cabeça baixa. Ouço risos, uma reação inesperada, mas alegro me ao ouvir o som das gargalhadas dele.

- Não acredito, a minha princesa com ciúmes? - levanto a cabeça, corada e envergonhada.

Ele abraça me com força, deixo me envolver pelo calor dos seus braços, e arrependo me da minha atitude. Não devia estar com ciúmes, eu confia nele.
Ele beija me, e ficamos abraçados no meio da rua, coberta por uma fina camada de gelo.

- Desculpa não precisa de te preocupar. Esse casamento nunca irá acontecer.

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