10 - Desabafos.

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Perto das 8pm, sai do quarto e desci as escadas, avisando que ia sair e que não voltava tarde. Não disse com quem ia sair, pois não queria que começassem com filmes ou que se viesse a saber. Mal sai de casa e me aproximei dos portões de saida da mesma, o Justin já lá estava. Encostado ao portão da casa dele, com uma mão no bolso e a outra a segurar um cigarro. Quando ele me viu, deitou o cigarro para o chão e olhou para o carro, para onde nos dirigimos e entrámos. 

Justin – Melhor? – Assenti.

- E tu, como é que estás? – Ele olhou-me. – Ouvi-te a discutir com a Molly, estava na varanda.

Justin – Ela começou com birras, porque fui sincero com ela. – Ele suspirou. – O que te apetece comer?

- Sinceramente, nada.

Justin – Nem me deixar pagar-te um gelado? – Dei de ombros e ele fez o pedido, dois gelados. 

Entregou-me um de M&M e comeu um de caramelo. Enquanto conduzia até à praia, íamos a ouvir música e a comer o gelado. Quando chegámos, saímos do carro e ele levou-me para a tal zona da praia que tinha falado.

- Oh my god, que lindo. – Ele sorriu, olhando para mim.

Justin – Descobri esta zona quando tinha 7 anos, desde então venho sempre aqui.

- Com a Molly?

Justin – Achas? Se ela soubesse deste lugar, deixava de ser sossegado. – Ri-me e sentámo-nos na areia.

- Porque me trouxeste aqui?

Justin – Porque talvez queira que saibas que estou aqui para o que precisares. Se algum dia decidires falar sobre o BootCamp ou sobre a tua família, eu vou ouvir-te, sem te julgar.

- Porque é que estás tão interessado em saber?

Justin – Estou interessado em ser teu amigo, em conhecer-te melhor, porque eu sei que não és como todos dizem Dianna. – Olhei para ele. – Tu só tens que sentir que podes confiar em alguém e se permitires, eu quero ser esse alguém e ajudar-te no que precisares. 

- Uau...

Justin – Até porque somos vizinhos e consigo entrar no teu quarto. – Arqueei as sobrancelhas. – Que foi? A minha varanda fica a centimetros da tua, o que queres que faça? – Ri-me.

- Vou começar a dormir com a porta para a varanda trancada e as cortinas fechadas. – Ele riu-se. – Obrigada.

Justin – Não tens que agradecer. – Ele murmurou, o que me fez sorrir.

Talvez confiar nele não era assim tão mau. A única coisa que tinha contado sobre mim, foi explicar o terror que o meu pai nos fazia passar à Caroline e depois dela saber, nunca mais tocámos nesse assunto. Era como se ela não soubesse de nada. Ela tornou-se uma grande companhia, com aquela personalidade estranha e capacidade de me animar. O Justin parecia ser confiável, até porque a Bridgit e ele eram como irmãos e ela falava imenso dele, bem. Ele não era daqueles típicos rapazes que brinca com sentimentos, mas sim daqueles que se apega facilmente a uma pessoa e gosta de a ajudar. Pelo que a Bridgit também nos contou, ele passou por muito e acha, que o casamento dos pais agora, é apenas uma farsa. Apenas para dar o melhor crescimento aos seus irmãos mais novos. Queria tocar nesse assunto, mas tinha imenso receio que ele reagisse mal. Apesar de já ter tocado em assuntos bastante "difícies" para mim, de falar...

- Ahm... Justin? – Olhámos um para o outro. – Tu e os teus pais dão-se bem?

Justin – Acho que sim... Eu e a minha mãe temos a melhor relação que uma mãe e filho podem ter, mesmo com o problema com as drogas e com o comportamento na escola. – Sorri. – O meu pai é um homem sério, com quem aprendi muitas coisas... Apesar de sentir que ele está mais afastado de nós.

- Como é que consegues contar isso a alguém que mal conheces?

Justin – Acho que és de confiança e que és o contrário do que todos dizem Dianna. Acho não, tenho a certeza.

- Obrigada por acreditares em algo, que apenas 3 pessoas acreditam. – Ele assentiu e eu senti o gelo dentro de mim a derreter. – É bom saber que alguém que mal conhecemos acredita em nós.

Justin – Eu acredito em ti, confio em ti. – Sorri-lhe, apesar de ter forçado. – A primeira pessoa com quem desabafei, tirando os meus pais e o meu bro de fraldas, foi a Bridgit, ela é tipo uma irmã para mim, gosto imenso dela. 

- O teu bro... Harry? – Ele assentiu. – Desde que cheguei cá, que só desabafei com uma pessoa e contei algo sobre mim e foi com a Caroline. Nunca mais falámos nesse assunto.

Justin – E queres falar sobre esse assunto comigo? – Virámo-nos um para o outro. 

- De tudo pelo que passei, este é talvez o assunto mais fácil de falar. – Mexi na areia. – Não mesmo, nenhum dos assuntos é fácil. – Suspirei, olhando para o mar.

Justin – Fala se quiseres, vais sentir-te mais leve.

- Como é que eu sei que amanhã isto não vai andar a rodar a escola?

Justin – Não sabes, mas tens que aprender a confiar.

Lambei os lábios e olhei para ele, pensando se devia ou não de lhe contar sobre o meu pai. Não sentia o gelo dentro de mim ou a vontade de tratar mal alguém que tentasse meter-se na minha vida. Ele tem-me dito as melhores coisas e principalmente, não me tem julgado como todos os outros. Voltei a lamber os lábios e a encarar o mar, assim como o horizonte.

- O único que contei à Caroline, foi o facto do meu pai ter sido um homem bastante horrível para nós. 

Justin – Horrível em que sentido?

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