13 - Gym.

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Mal acabei de falar, ela deu alguns passos e abraçou-se a mim. Arregalei os olhos quando a ouvi agradecer-me e abracei-a de volta, ouvindo-a depois a dizer que eu era a irmã, que ela nunca teve. As palavras dela fizeram-se sorrir verdadeiramente, não esperava que alguém me dissesse aquilo, não esperava sequer conhecer alguém como ela e os seus pais. Afastei-me dela e disse-lhe que lhe ajudava a escolher as roupas, assim que chegasse. Ela perguntou-me onde iam e eu apenas balancei os ombros, pois não fazia a mínima ideia. Ela foi para baixo e eu acabei de me arranjar para o ginásio, já eram seis horas, estava feita porque nem sabia onde ficava. Sai de casa a correr e entretanto dei de caras com o Justin, que ia com o Harry não sei onde. 

Justin – Não devias de estar no ginásio? – Dei de ombros. – Queres que te leve? – Olhei para o Harry e ele deu de ombros.

Harry – A Caroline está lá dentro? – Assenti. – Divirtam-se, assim tenho companhia.

Arqueei a sobrancelha e agarrei na gola da camisola dele, puxando-o para mim. Olhei-o nos olhos e sussurrei as seguintes palavras bastante séria: "Não penses em magoá-la ou ficas proíbido de ter filhos para o resto da tua vida. " Ele assentiu e o Justin desmanchou-se a rir, foi buscar o carro e eu entreguei as chaves ao Harry, que me olhava meio assustado. Ri-me para dentro e entrei no carro, o Harry e o Justin trocaram olhares tarados e eu revirei os olhos, fingindo que não tinha visto. Durante a viagem para o ginásio não trocámos lá grandes palavras, pois eu mantive os olhos na estrada e nos sítios onde passávamos, para conhecer melhor os lugar onde vivia agora. Quando chegámos, saímos do carro e entrámos no ginásio.

- Vais ter treino ou algo do género?

Justin – Levantar uns pesos, enquanto olho para ti.

Um homem alto e musculado aproximou-se de nós. Tinha pelo menos uns 23 anos, barba mal feita e cabelos despenteados, era de um tom de pele morena e de olhos escuros. O Justin e ele cumprimentaram-se e fiquei a saber o seu nome, Mark. Ele olhou para mim e depois para a o bloco de notas que tinha trazido consigo.

Mark – Dianna Mason? – Assenti. – Finalmente, esperava ansioso pela tua chegada.

- Porquê?

Mark – Já conheci algumas pessoas do lugar onde tiveste um ano e digo-te que és a primeira rapariga a sobreviver lá. 

Ele e o Justin trocaram olhares e o mesmo deixou-no a sós. Enquanto trocávamos algumas palavras sobre o BootCamp, íamos passendo pelo ginásio e fazendo alguns aquecimentos. Ele pergunta tanta coisa, eu apenas limitava-me a responder sim ou não, sem dar muita conversa. O que eu passei lá dentro, só a mim e ás pessoas em quem confio dizem respeito. Só a mim neste momento. Pouco ou nada contei à Caroline, nada contei ao Justin, apenas por alto é que eles souberam algo. Era incapaz de tocar no assunto do BootCamp, era incapaz de contar tudo a alguém. Sabia que não ia conseguir manter-me tão forte, como aparento ser quando falo dos meus pais ou algo do género. Estar naquele sítio é 100 mil vezes pior, que ser agredida pelo meu pai. Conseguia safar-me, conseguia respirar por dias até que ele voltasse a ser a mesma besta, muitas vezes conseguia fugir ou dar luta. Nos primeiros meses do BootCamp, não sabia como conseguia chegar à cama todas as noites. Engoli a seco e continuei a correr naquela Passadeira. Haviam passado 10 minutos e eu mantive o mesmo ritmo, sem sentir qualquer dor nos gémeos ou vontade parar. O Mark estava meio surpreendido com isso, mas provavelmente já era normal. O Justin havia parado o seu levantamento de pesos e ficado a olhar para mim. Só quando o Mark me deu permissão, é que parei de correr e sai da passadeira. O resto do tempo, fiz alguns levantamentos, algumas flexões e abdominais e a 15 minutos de me ir embora, fiz um pequeno treino com um saco de boxe. Ás oito, eu e o Justin saímos do ginásio e fomos para o carro.

Justin – Meu deus, que resistência! – Olhei para ele. – Nem consigo imaginar o que é que te fez ficar assim, tão forte e resistente.

- Apenas não toques nesse assunto. – Ele assentiu, lambendo os lábios. – Avisa o teu amigo Harry para não ser otário com a Caroline, porque se ele a magoar, ela não vai fazer nada, mas eu vou.

Justin – O Harry consegue ser um cabrão quando quer. Conheço-o melhor que ninguém e nunca o vi apaixonado por ninguém.

- Onde é que achas que ele a vai levar?

Justin – Possivelmente ao bar da praia, porque é o único sítio onde ninguém lhe reconhece hoje.

- Na boa, só espero que corra tudo bem.

Justin – Com o Harry nunca se sabe.

- Desde que não lhe crie falsas esperanças, tudo bem. 

Ele não me respondeu, limitou-se a assentir. Quando chegámos, sai imediatamente do carro e corri até casa, pois faltavam 30 minutos para o encontro da Caroline com o Harry. Não lhe queria falhar, odiava que o fizessem comigo, por isso não pretendia fazer com ela ou com outra pessoa. Passei pela cozinha apressada, onde o Tom e a Jennifer jantavam e subi as escadas, entrando no quarto da Caroline que acabara de tomar banho. Ela respirou fundo e pela cara dela, parecia que tinha saido um peso dos seus ombros. Ela secou-se, vestiu a roupa interior, sem vergonhas com a minha presença, passou cremes e escolhemos a roupa.

Caroline – Que simples.

- E linda. Apenas vai assim, sem medos, sem inseguranças, confia em ti e naquilo que vês quando estás diante de um espelho. – Falei, enquanto ela se olhava ao espelho. – Só te digo que o Harry pode ser um otário e tentar algo, mas se ele o fizer, apenas dá-lhe barra.

Caroline – Dou-lhe barra? Han?

- Não te deixes levar, não mostres que gostas dele.

Ela assentiu e depois de mais uns conselhos e inseguranças, saímos do quarto e descemos as escadas, onde fomos abordadas pelo Tom. Ela perguntou-lhe onde ia e ela lembrou-se logo da Bridgit, o que lhe tranquilizou. Fui levá-la até aos portões, onde ele já esperava com as mãos nos bolsos e de cabeça baixa, provavelmente a olhar para o chão. Limpei a garganta, chamando-lhe à atenção, que depressa levantou a cabeça e olhou para a Caroline, que sorriu de uma forma doce e timida. Ele olhou-a de alto a baixo e arregalou um pouco os olhos, o que me fez olhar para ela e piscar-lhe o olho. O Harry esticou-lhe a mão, o que lhe fez recuar. Dei-lhe uma pequena cotovelada e lá ela colocou a mão por cima da dele, deixando que ele lhe levasse até ao carro. Ela olhou para mim já sentada e eu sorri. Quando os vi a descer a rua, voltei para casa e sentei-me à mesa a comer algo simples e leve. A Jennifer e o Tom já estavam deitados, pois ao caminhar até ao meu quarto, conseguia ouvi-los a falar dentro do quarto. Entrei no meu quarto, encostei a porta e fui até à varanda, onde comecei a ouvir uma discussão. Olhei para a varanda do Justin, que estava entreaberta. As vozes suavam de lá, ouvia-se também um choro de criança.

Justin – Estou farta desta merda, separem-se logo! – Ouvi-o gritar. – Ou entendam-se de uma vez, tudo menos fingimentos e estes espetáculos, não tenho que levar com isto. – Bateu com a porta do quarto.

Mãe dele – Volta já aqui Justin Drew!

Pai dele – Não admito esta falta de respeito!

Entretanto, ouvi música alta e algo a cair dentro do quarto dele. Lambi os lábios e quando vi as cortinas balançar, entrei para o quarto e fechei a varanda lentamente. Ouvi-o a resmungar, a dizer que estava casando, farta dos fingimentos. A voz dele suava rouca, ele parecia mesmo mal. Derrotado no mínimo. Olhei para a secretária onde vi o computador, aproximei-me do mesmo ligando-o e depois fui arrumar as coisas para o dia seguinte. Estive um bocado na net e depois fui tomar um duche para resfrescar. Não consegui ficar à espera da Caroline, pois entretanto adormeci.

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1 - Acham que o BootCamp foi assim tão mau?

2 - O que acharam da cena entre o Justin e os pais?

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