1 - Um novo começo?

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É um capítulo introdutório, para saberem como tudo começou e como - provavelmente - ela se mudou para Beverly Hills.

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Os meus dedos batiam na mesa alternadamente, era um ritmo estranho e para muitas pessoas, o barulho mais irritante. Para além do ritmo da ponta dos meus dedos, ouvi um chiar a entrar pelos meus ouvidos, o que me fez desviar os olhos da mesa à porta. O homem alto que acabara de entrar pela porta e de a fechar atrás dele, caminhou até ao outro lado da mesa, sentando-se a olhar-me. Parei de batucar na mesa e olhei para ele, curiosa para saber quem é que tinha feito a chamada e tirado daquele lugar. Ele não pronunciou nada, pois a porta fora novamente aberta, mas desta vez, por uma mulher loira, que trazia dois sacos. Chamou-me com o dedo e eu levantei-me, seguindo-a pelos corredores daquele lugar, até uma casa de banho, com chuveiros, onde ela me deixou. Tirou-me as algemas e eu passei a mão pelos meus pulsos, já marcados pelo ferro. 

Guarda – Tens ai o que precisas para tomar banho, tens uma tesoura caso queiras fazer algo ao cabelo e roupa nestes sacos. Daqui a 40 minutos espero que estejas pronta e não tentes fugir, não há janelas e a única porta está vigiada. 

A porta fechou-se e eu soltei um suspiro enorme, enquanto olhava para a toalha preta que estava sobre as torneiras do chuveiro. Peguei nela e coloquei em cima dos sacos, encostados à parede de tijolo à frente do chuveiro. Desatei o cabelo e procurei uma escova naqueles sacos, encontrei e escovei o cabelo. O mesmo caia pela minha cintura, bastante seco e desidratado. Abri a torneira de água quente, molhei o cabelo e cortei-o.

Pousei a tesoura num canto do chuveiro e voltei a molhar o cabelo, lavando-o com os produtos que lá estavam. Lavei o corpo também, reparei numa gilete e fiz a depilação rapidamente, mas sem me cortar. Passei o corpo por água e ouvi a guarda a dizer que faltavam 8 minutos. Sai do chuveiro, sequei-me e vesti as roupas que estavam no saco. Estava bastante confusa com tudo, pois não sabia quem me tinha dado as músicas ou os produtos, não sabia quem me havia tirado do Boot Camp.

As roupas eram o meu número, até as cuecas e o sutiã. Só podia ser a minha mãe, tinha que ser ela. Por mais que me tenha deixado passar um ano naquele lugar e ter desligado a chamada, para não assumir as responsabilidades, ela lembrava-se da minha existência. Se ela esperava que a recebesse com um abraço e lágrimas nos olhos, estava enganada. Ouvi a porta a abrir e a mulher mostrou-me as algemas, revirei os olhos e estiquei os braços, onde ela colocou as algemas. Sai da casa de banho à frente dela e fui levada para a sala onde tinha sido interrogada antes e depois do Boot Camp. Na mesma, estavam um homem e uma mulher com roupas luxuosas, cabelos arranjados, um casal de ricos. Sentei-me no outro lado da mesma, com as mãos em cima da mesma a olhar para eles.

Homem – Não lhe pode tirar as algemas? – A guarda negou.

Guarda – Estaremos a ver tudo do outro lado, mas não a ouvir. – O casal assentiu e a guarda retirou-se.

- Sejamos diretos, quem são vocês e que querem de mim?

Mulher – Chamo-me Jennifer e este é o meu marido Tom, recebemos esta carta. – Deslizou-a através da mesa até mim. 

Tom – Sou advogado e recebo imensas cartas com casos e pedidos, essa carta chegou-me ás mãos, li-a e a mesma levou-me aqui.

Baixei o olhar para a carta e peguei nela. Desdobrei-a, passei os olhos pela mesma até ao final e vi que era em anónimo. Lambi os lábios e decidi lê-la, apesar de me estar a questionar mentalmente sobre quem a havia escrito.

“Venho por este meio pedir-lhe um enorme favor. Se esta carta lhe chegou ás mãos, é porque assim deus o quis. Porque a vida lhe quer. Passaram 13 meses desde a entrada de uma adolescente no Boot Camp, a uma hora de distância de Chino. Dianna Sophie fez os 16 e os 17 anos naquele lugar, sem os amigos, sem a família. Peço-lhe que a tire de lá a todo o custo, ela é uma menina bastante frágil e se lá está, a culpa é das pessoas que a criaram...”

Levantei os olhos daquele papel e voltei a dobrá-lo, sem acabar de ler. Fiz deslizar de novo até à Jennifer e ela lambeu os lábios, guardando a carta na mala. Comecei a brincar com os meus dedos, começara a perceber o que estava a acontecer. Ou ia para um orfanato, para um novo colégio ou ia deixar de me chamar Dianna Forbes, mas sim Dianna e o apelido que desconheço do casal à minha frente.

- Já sei as opções, podem dizer-me qual escolheram?

Tom – Como assim? 

- Orfanato, colégio ou adoção?

Jennifer – Que tal uma experiência, antes de escolher? - Ela esticou as mãos e colocou-as por cima das minhas. – Queremos levar-te para a nossa casa, apresentar-te á nossa filha e ver como são as tuas adptações lá. – Engoli a seco. – A carta mexeu imenso comigo e vi imensas fotos tuas, videos teus ao longo da tua vida.

Tom – O que nos dizes sobre deixar Chino para trás, o vandalismo, os assaltos e a vida com uma navalha no bolso e saborear as duas últimas semanas de Verão em Beverly Hills?

- Digo que podem tentar mudar a minha maneira de viver, mas não de ser. – Tirei as mãos de baixo das da Jennifer e olhei séria para eles. – Não pertenço a Beverly Hills, não sei viver assim.

Jennifer – É uma experiência, Dianna. – Ela murmurou calmamente. – Nem precisas de te apresentar como Dianna Mason. 

- Não sabem onde se estão a pôr.

Jennifer – Nós sabemos isso. – Sorriu meio nervosa. 

Tom – Mas queremos tentar. – Falou de forma convincente. – Não te imaginas a andar na rua sem ninguém a esperar o melhor momento para te atacar? Passar dias na praia a bronzear-te? A fazer novos amigos, a ter uma nova vida? Sem essas algemas e sem a tortura do Boot Camp?

- Sinceramente... – Engoli a seco e baixei o olhar. – Quando se nasce e cresce nas condições de Chino, é impossível imaginar um Futuro. 

Jennifer – Mas tu podes, agora podes. – Levantei a cabeça. – Basta vires connosco. Basta assinares um contrato, como se fosse um pedido por uma segunda oportunidade e entrares no carro.

Tom – Aceitas?

Desviei o olhar do entusiasmo deles e fiquei bastante pensativa. Não sabia se devia ou não de aceitar, não sabia se ia conseguir estar longe das minhas origens. 

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