O Scott também ficou em casa da Hannah, mas no momento em que a Donna foi estacionar o carro, ele deu-me um beijo na testa e disse que tinha pessoas que precisava de ver e que não podia esperar mais. Disse-lhe para mandar beijinhos e os parabéns à princesa dele, o que lhe fez sorrir.
E em minutos, fiquei apenas eu e a campainha.
Toquei à campainha, respirando fundo.
Hannah – A pizza chegou!
Vanessa – A sério que vamos comer pizza no Natal? – Abriram a porta.
- Não seria a primeira loucura que faziam juntas. – Murmurei.
A Hannah deixou cair a carteira e a Vanessa ficou de boca aberta a olhar para mim. Sabia que mais de mil e uma coisas estavam a passar pela mente delas e que a qualquer momento podia receber um abraço, ou um murro de ambas.
Pois em Chino, nós não batemos como raparigas, mas sim como rapazes.
Hannah – Estão a brincar comigo, só pode.
- Deixem-me explicar tudo, antes de dizerem que vos abandonei.
Vanessa – Não sabemos nada de ti há 1 ano e meio!
Hannah – Espero que tenhas uma boa explicação Dianna, porque nós merecemos.
Assenti e ela deixou-me entrar.
Deixei a mala a um canto e segui-as até à sala, onde um colchão estava no chão, diante da lareira. Fumos, bebidas e droga na pequena mesa ao lado do colchão. A Vanessa sentou-se numa ponta do colchão com uma ganza na mão e a Hannah sentou-se na outra ponta, com uma garrafa de bebida. Sentei-me entre elas, mas de frente, para que pudesse olhar para ambas, enquanto falava. A Hannah deu-me uma bebida e eu aceitei, agradecendo. Dei uns 4 golos seguidos, o que fez com que sorrissem.
Hannah – Continuas a beber como um animal.
- Isso é porque eu continuo a mesma pessoa. – Suspirei. – Resumidamente aconteceu que, fui apanhada a grafitar e todos os crimes que já tinha cometido, também foram descobertos, porque eu deixava sempre marca como sabem. Fui para o BootCamp e fiquei lá um ano, fiz os 17 anos lá dentro. Fui torturada, espancada, passei dias sem comer, tornei-me bulémica e anoréxica e quando eu pensava que ia passar o resto da minha vida lá dentro, apareceu alguém que me levou de novo para a esquadra. Lá, fui apresentada a um casal, onde o homem era advogado e uma carta lhe chegou, entre muitas. A carta era da minha mãe.
Hannah – Nós sabíamos que tinhas ido para lá, mas julgamos-te morta, pois é rara a rapariga que sobrevive lá dentro.
- E vocês achavam que eu não ia sobreviver? Uau, pensei que me conhecessem.
Vanessa – E conhecemos. Tu não és de ferro, podias ter morrido Dianna e todas sabemos isso.
Hannah – O que dizia a carta?
- Falava de mim, do Camp e pedia que me tirassem dali e me dessem abrigo. A verdade, é que nunca a li até ao fim.
Vanessa – E foste com o casal, certo? A Donna disse-nos que estavas em Beverly Hills. – Assenti.
Hannah – Tens ai uma boa máquina, porque não a usaste? Sempre soubeste os nossos números.
- Não conseguia dizer-vos que estava a viver luxuosamente, quando sabia que pensavam que morri. Nas duas primeiras semanas tinha que provar que merecia estar lá.
Hannah – E essas semanas passaram a meses. – Balançou a cabeça. – Fodassa oh Dianna, podias ter dito algo, nós iamos compreender!
Vanessa – Sempre quisemos o melhor uma das outras, sempre olhámos uma por outra. Que merda foi esta? Nós merecemos?
Hannah – Porque é que voltaste agora? A tua vida é lá.
- Acham que a minha vida é lá, sinceramente acham? O meu pai espancou-me, o homem que eu amava a mesma merda, a minha mãe deixou-me, o meu irmão foi preso, quase morri no Camp e vocês acham que tudo o que queria era riqueza e luxuria? Fodasse, eu nunca me senti em casa lá, aos poucos fui deixando de tanta arrogancia e frieza, mas nunca senti que pertencia a Beverly Hills.
- Todos os dias lembrei-me de vocês, sabia que vos estava a trair. Nunca se deixa família para trás e eu estava a deixar-vos, eu deixei-vos.
Hannah – Porque é que só voltaste agora?
Vanessa – Porque é que voltaste?
- A Donna apareceu lá duas vezes, armou escandâlos e cada palavra que dizia, eu sabia que era a verdade. Hoje, ela apareceu lá e apontou-me uma arma e ás pessoas que olharam por mim, chantangeou-me e eu não hesitei em entrar no carro dela e vir para cá.
Vanessa – Se ela não tivesse ido, tu voltavas? Pensaste sequer em vir saber de nós? – Assenti. – E isso ia ser quando?
- Quando tivesse pronta.
Hannah – O que é que importa se faltam 10 minutos para a 00h e se estamos todas juntas? Estou super magoada contigo Dianna, mas jamais te viraria as costas.
Estávamos as 3 a chorar que nem bebés, elas estavam certas, eu devia de ter voltado logo que sai do BootCamp, precisava de o ter feito. Era o mínimo que podia fazer, depois de um ano dentro daquele sítio, depois de 15 anos com elas.
Abraçamo-nos e entretanto a campainha tocou, o que nos fez afastar.
Hannah – Chega de lamechisses, a pizza chegou. – Levantou-se e foi abrir a porta.
Vanessa – Vieste para ficar?
- Não...
Vanessa – Deixaste muita gente para trás? – Assenti. – E nós?
- Vocês vão comigo.
Hannah – Mas oh my fucking god, o gajo era mesmo bom! Dava-lhe umas trincas, fodasse! – Ela entrou na sala aos gritos e pousou a pizza ao nosso meio.
Gargalhei e começámos a dividir a pizza.
Sabia tão bem estar de novo em casa, estar de novo com elas. Hannah e Vanessa eram minhas vizinhas, as nossas mães eram amigas de infância e nós prometemos o mesmo.
Não íamos a lado nenhum, sem que todas fossemos.
Crescemos juntas, cometemos crimes juntas, experimentámos tabaco, bebida e droga juntas, até perdemos a virgindade na mesma noite.
Os minutos passavam e nós estávamos deitadas no colchão, a aproveitar o tempo perdido. A Hannah contou-me que passou dois dias na prisão e que conseguiu assediar um polícia, para a tirar de lá. A rapariga era doída e linda, portanto os rapazes não lhe resistiam. A Vanessa tinha acalmado mais, pela conversa, tinha deixado de vender droga, apenas comprava quando precisava.
Hannah – E tu, o que fizeste em Beverly Hills?
- Fui à escola. – Dei de ombros.
Hannah - Não me digas que estás este tempo todo sem uma boa foda! – Assenti e comecei-me a rir. – Drogas? – Neguei. – Tabaco e bebidas?
- Isso sim. Lá há imensas festas, também há drogas, mas deixei-me disso.
Hannah – Será? – Colocou a cena dos fumos à minha frente. – C'mon Dianna, estamos juntas, temos que aproveitar!
Vanessa – Vá! Anda logo.
Elas começaram a gritar e ás gargalhadas, enquanto eu continuei ali a puxar e a voltar a fazer, o que fazia. Sabia que tinha passado meses, que tinha mudado algumas coisas em mim, mas quando se está em família, erros são cometidos e depois de tanto tempo separadas, há que aproveitar, pois não sabemos o tempo que irá durar.