Capítulo 18 - Patrícia

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É preciso ter uma meta

Ou qualquer coisa vai te derrubar

Respire

Dê um passo

O que vem a seguir, só Deus sabe

Mas começa aqui.

E de que valem as chances desperdiçadas?

E de que vale a vida não vivida?

E de que vale o amor não compartilhado?

(...)

(Here Goes - Bebo Norman)

Sou boa com pressentimentos. Às vezes eu sinto que as coisas vão acontecer.

Não, eu não sou médium nem nada parecido. Apenas sou boa observadora e observar nos permite ver para que lado as coisas tendem a caminhar.

Só um cego não veria a tensão naquela sala quando Rafael chegou. Entretanto, o que me chamou mais atenção não foi a forma que o Guilherme se portou. Entendi perfeitamente o jeito que ele ficou, pois eu já percebi há séculos que ele arrasta as duas asinhas pela Lara. O que realmente me chamou a atenção foi a postura da Lara.

Eu desconfio, sim, que ela tenha uma queda pelo Gui e já até falei com ela algumas vezes sobre o assunto, mas como a Lara desconversa ou entra no assunto Rafael, eu deixo passar. Só que ela estava muito estranha a tarde toda e a chegada do Rafael só a deixou mais esquisita ainda. Primeiro ela fica branca como um fantasma, depois parece um zumbi, respondendo mecanicamente a tudo.

E o coitado do Guilherme parecia estar sentado em cima de um ninho de formigas. Daquelas de fogo, com ferrões bem grandões.

Não tive tempo de arrastá-la para o quarto e perguntar o que foi por causa do Rafael. Mas de hoje não passa, ela não me escapa. Além do mais, preciso de um favorzinho pessoal, então já vou matar dois coelhinhos com um tiro só.

Dou outra lida na última mensagem de André e uma risadinha escapa.

― Até amanhã, Glorinha ― me despeço da minha amiga de trabalho enquanto penduro minha bolsa e caminho em direção a um ponto de táxi.

― Opa, opa, opa, cachinhos de mel, aonde pensa que vai? O ponto de ônibus é do outro lado ― George grita da porta.

― Eu não sou loira, George, sou morena. Você ficou daltônico do dia para a noite, foi?

― No momento não me lembro de nenhuma outra personagem de cabelo cacheado que seja morena.

― Então, tente me chamar pelo nome. Vai ver como funciona perfeitamente.

― Tô vendo que amolou as ferraduras hoje, hein.

George é um pentelho por natureza, mas é inofensivo. Seu esporte favorito é pegar no pé de todo mundo, mas, no fundo, é um cara gente boa. Nunca nega favores, está sempre pronto a ajudar e tem um coração enorme. Acho que essa chatice é só carência mesmo. Uma hora ainda vou apresentar alguém para ele e tenho certeza de que, tendo alguém para paparicar, ele vai parar de pegar no pé dos demais.

― Não que eu te deva satisfações, mas vou para o ponto de táxi, pequeno coração ― digo, empurrando o indicador no peito dele. ― Vou visitar uma amiga e, de lá, vou para casa. A gente se vê amanhã.

Jogo um beijinho no ar e ele faz um sinal de desdém com a mão enquanto se vira para ir embora.

Sento-me no banco de trás do táxi e fico observando o movimento das ruas enquanto penso nos últimos dias. Depois da noite em que André apareceu com os milk-shakes, ele viajou, mas não deixou de mandar mensagem nenhum dia.

Dois PassosOnde histórias criam vida. Descubra agora