Capítulo 22 - Lara

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Eu só estava tentando enterrar a dor
Mas eu te fiz chorar e eu não consigo parar o choro.
Estava apenas tentando me salvar, mas eu te perdi outra vez.
(It is what it is - Lifehouse)

Patrícia e eu conversamos até tarde ontem, só não viramos a noite porque ela teria que acordar bem cedo hoje para trabalhar.

Falamos sobre tudo: sobre como estávamos nos sentindo, sobre os receios e as esperanças que tínhamos, sobre como as mudanças poderiam afetar nossa vida. Ela está disposta a se resolver com o André e eu a terminar com Rafael e procurar o Guilherme.

Dormi com aquela sensação dentro de mim de quando algo novo está prestes a acontecer. Aquela sensação do primeiro dia de aula em uma escola diferente ou do primeiro dia de trabalho em um novo emprego. Um misto total de euforia e temor.

Acordo ensaiando mentalmente possíveis formas de contar a Guilherme que eu estou apaixonada por ele. Crio situações em minha cabeça imaginando as possíveis reações dele. Em minha novela interior, algumas vezes ele sorri para mim e me beija apaixonadamente. Algumas vezes, ele me abraça e se declara também. Mas eu também imagino como será caso ele não corresponda a meus sentimentos, caso ele peça desculpas por ter me beijado no dia da chuva e fale que tudo não passou de um mal-entendido.

Já criei inúmeras versões para nossa conversa quando percebo que preciso começar a pensar em como será minha conversa com Rafael.
Depois que Patrícia foi embora, eu não consegui voltar a dormir, pois a ansiedade não me deixou pregar os olhos. Leio, acesso a internet, tento distrair meus pensamentos, mas é tudo em vão. Eu só quero que esse dia termine logo.

Mando uma mensagem e Rafael me confirma que virá aqui em casa hoje à noite. Então, agora só me resta esperar as horas passarem.

Converso um pouco com Anne durante a parte da tarde na esperança de ter alguma notícia de Guilherme, mas ela não toca no nome dele.

Quanto mais a tarde cai, mais ansiosa fico. Tomo um banho demorado, mais ainda do que a haste na perna já demanda, e sento no sofá para esperá-lo. Olho as horas de cinco em cinco minutos, esperando que ele chegue e, pouco antes das 20h, Rafael liga avisando que está saindo do serviço, porém foi convidado pelo patrão para participar de um jantar de negócios importante.

― Amor, hoje não nos veremos, mas prometo que amanhã eu compenso! Tenho uma surpresa muito boa para você. Até amanhã, eu te amo!

Desligo o telefone extremamente frustrada. Se eu conseguisse resolver com Rafael hoje, procuraria Guilherme amanhã. Agora terei que esperar e o problema é que essa espera está acabando comigo.

Passar mais um dia imaginando que, enquanto estou aqui parada, a tal da Karen pode estar com ele, que talvez os dois já tenham até saído juntos, me deixa mal. Para o meu desespero, Guilherme sumiu totalmente.

Tento me lembrar se fiz algo na noite em que saímos juntos, porém, quanto mais tento entender, mais confusa fico.

Perco a conta de quantas vezes pego o celular pensando em mandar uma mensagem ou mesmo ligar. Desisto, por fim, e aceito que o melhor é primeiro resolver tudo com Rafael e, só depois, procurá-lo. Mesmo com o coração na mão, tiro o celular da minha frente e tento não pensar mais nisso até amanhã.

Não acordo bem no sábado. Meus pensamentos estão em um ritmo acelerado e não consigo dormir bem. Passo o dia com o humor péssimo e, quando me sento no sofá à espera de Rafael, sinto que estou um pouco trêmula.

Não queria sequer sair, mas não posso ter uma conversa com ele aqui em casa, na frente da minha mãe. A leve maquiagem que passei não é o suficiente para disfarçar as olheiras, resultado do pouco descanso da noite anterior. Não me sinto bem e algo dentro de mim insiste em não querer ir até esse restaurante.

Dois PassosOnde histórias criam vida. Descubra agora