Capítulo 16 - Lara

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Aqui estamos nós

Isso não é familiar?

Eu não tive alguém para conversar

Por um longo tempo

E é estranho tudo que temos em comum

E sua companhia era tudo que eu precisava essa noite

(...)

(I Should Go - Levi Krevis)


― Pensa bem, Lara. Imagine aqueles adolescentes espinhudos batendo papo enquanto você tenta chamar a atenção deles. Eu já posso te imaginar estressadíssima com vontade de jogar o apagador na cabeça de cada um! Tem certeza de que é isso mesmo que você quer? ― Annelise estreita o olhar e espera a minha resposta.

― Ah, Anne! Não coloque as coisas desse jeito. Parece que é a pior coisa do mundo quando você fala assim.

― Não é a pior coisa do mundo, mas não é fácil. Estou sendo realista. Dar aula é difícil!

― Mas é isso mesmo que eu quero. Rum! ― Olho séria para ela, mas nenhuma de nós aguenta e começamos a rir.

Estamos em meu quarto, tomando as decisões finais sobre o curso que eu começarei a fazer o ano que vem, se passar no vestibular, é claro. Guilherme está na cozinha com minha mãe e, pelo barulho do liquidificador, sei que estão providenciando um suco para tomarmos com a pizza que acabou de chegar. Minha mãe fala que, já que estamos comendo muita besteira, então, pelo menos, a bebida deve ser saudável.

Os dois entram no quarto trazendo o suco e pratos descartáveis.

― Vocês precisam comer coisas menos prejudiciais à saúde ― ela reclama.

― Ah, Dona Suely, pensa positivo. Pelo menos assim a senhora não precisa fazer janta para ninguém. ― Anne abre o sorriso da família Müller. ― E nem lavar louça depois.

Annelise havia caído nas graças de minha mãe, assim como Guilherme. Era Deus no céu e os dois na terra. Não a culpo, eles são ótimos.

― Cadê todo mundo?

Ouço a voz de Patrícia na sala.

― Estamos aqui ― Anne responde.

― Vocês deviam trancar o portão, viu! E se eu fosse um bandido?!

― Ah, minha filha, você seria um bandido frustrado, porque não tenho nada de valor aqui em casa ― minha mãe responde.

― Lógico que tem, mãe. Eu sou o seu tesourinho.

Todo mundo cai na gargalhada.

― Oi, Dona Su; oi, amiga; oi, Anne; oi, Gui! E aí, quais as novidades? ― Patrícia termina de chegar e já procura um lugar para sentar.

Como o tempo passa rápido. O almoço na casa de Guilherme foi há cerca de duas semanas atrás. Durante esses dias, Guilherme me levou duas vezes para passar a tarde com Annelise e esta é a segunda vez que os dois me visitam. Patrícia conheceu Anne na primeira visita que ela me fez e as duas se deram muito bem.

Começo a observar todos conversando e, de repente, sou tomada por um sentimento de satisfação. Como as coisas mudaram depois daquele acidente. Eu mudei. Me sinto mais confiante, mais animada, acordada para a vida.

Dois PassosOnde histórias criam vida. Descubra agora