- Que cidade, vovô? - perguntava eu, que só conhecia, de ouvir falar, a famosa Castrovillari, famosa para mim apenas porque era a cidade grande mais próxima da Saracena.
- São Paulo, a capital. Ali eu fiz de tudo. Até cozinheiro fui. E cheguei a aprender o ofício de sapateiro.
Era verdade. Vovô Vincenzo fazia calçados para as pessoas da aldeia e remendava os já feitos, aproveitando o tempo do inverno, quando não trabalhava na lavoura. Também fazia suculentas macarronadas.
- Vovó Catarina foi com você? - continuava eu, com os olhos quase fechados dentro da casca.
- Não, naquele tempo eu não era casado. Minha viagem foi uma aventura de moço. Fiquei só um pouco no Brasil, até juntar uns dinheirinhos. Depois voltei e recomecei a vida aqui na aldeia. Comprei umas terrinhas, casei, criei meus filhos. Sou uma árvore da Calábria, Fortunatella, uma árvore da Calábria...
E eu, olhando aquela cabeça frondosa e aquele tronco robusto, adormecia tranquila sob sua sombra carinhosa e protetora.12
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A Menina Que Fez A América
ContoSaracena, Itália, final do século XIX. Pequenas aldeias de camponeses e artesão. Seus sonhos: sótãos repletos de alimento para o próximo inverno. O cotidiano interrompido pelos dias santos e festas populares. Aqui e assim viveu Fortunatella. Morre...