Havia, porém, outra espécie de gente, muito mais pobre do que os trabalhadores do campo. Esses dependiam das sobras dos outros. E eram muito comum, no tempo das colheitas, velhos, mulheres e crianças irem atrás dos camponeses, apanhando as azeitonas que caíram no chão. Os Donos das terras lhes davam permissão de recolhê-las, e eles vendiam a preço mais baixos do que os frutos colhidos das árvores, conseguindo assim um dinheiro para o seu sustento.
No tempo do inverno, porém, não havia azeitonas caídas nem espigas de trigo pelo chão. Não havia nada. Só a secura dos campos, que iam reflorescer na primavera. Então a pobreza dos pobres aumentava. E era preciso socorrê-los.
Um monge cuidava disso. Uma vez por semana, ele aparecia em todas as casas da aldeia, pedindo roupas e alimentos para os seus protegidos. Trazia uma grande sacola às costas, que ia enchendo com as ofertas recebidas; e se apoiava numa grossa bengala, que usava para bater três vezes em cada porta. Toda a gente já o conhecia e o esperava.
Aquela sexta-feira, porém, na nossa casa alguma coisa diferente aconteceu, e foi por culpa minha. Ou não teria sido?...Era inverno. Minha avó Catarina, como toda velhinha, era muito friorenta. E acendera a lareira, que ficava numa das duas grandes salas da casa. Estava perto do fogo, aquecendo as mãos e o traseiro, quando, de repente, soaram as três conhecidas bengaladas na porta. Ela olhou para mim assustada.
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A Menina Que Fez A América
Short StorySaracena, Itália, final do século XIX. Pequenas aldeias de camponeses e artesão. Seus sonhos: sótãos repletos de alimento para o próximo inverno. O cotidiano interrompido pelos dias santos e festas populares. Aqui e assim viveu Fortunatella. Morre...